O hacker Walter Delgatti Neto detalhou, nesta quinta-feira (17/8), à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas do 8 de janeiro, o esquema para fraude das urnas eletrônicas. Segundo Delgatti, ele esteve no Ministério da Defesa para entender o funcionamento das urnas e, assim, fraudar o código-fonte cinco vezes. “Eu falei com o ministro Nogueira, o Paulo Sérgio Nogueira, e também com o pessoal da TI”, contou.
Segundo ele, o objetivo seria apresentar, no 7 de Setembro, que “era possível que aquela urna que eles veem na eleição imprimir um outro voto”. Bolsonaro teria dito não entender do funcionamento das urnas e que o hacker fosse, portanto, ao Ministério da Defesa, junto ao general Marcelo Câmara.
“A ideia inicial era de que eu inspecionasse o código-fonte, só que eles explicaram que o código-fonte ficava somente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso a esse código. Então, eles iam até o TSE e me repassavam o que eles viam, porque eles não tinham acesso à internet, eles não podiam levar uma parte do código; eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando”, explicou o hacker.
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“E, nisso, eu dei orientações, exemplo, que a urna, se desligada da tomada e ligada novamente, pode... Tem um algoritmo lá e o algoritmo pode decidir por ficar normal, nesse caso, se ela fosse manipulada, o peso dela, a mudança de local, as pessoas que votam, a digital delas, porque ela (a urna) pode reconhecer que a digital é de uma pessoa que está testando a urna e não votando. Então, tudo isso que eu repassei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE”, completou.
"Código malicioso"
O hacker, mediado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), teve um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, com a promessa de emprego. Bolsonaro queria que o hacker “autenticasse a lisura das eleições, as urnas, nesse encontro. Por ser o presidente da República, eu acabei indo ao encontro”.
“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE, e nesse código-fonte eu inserisse essas linhas que eles chamam de código malicioso, porque ele tem como finalidade enganar, como finalidade colocar dúvidas na eleição. Então, eu criaria um código meu”, contou ele ao colegiado. “A ideia dele era a seguinte, era falar que a urna, se manipulada, sairia um outro resultado.”
Delgatti contou que, ao todo, recebeu de Zambelli R$ 40 mil e que ofereceu a um funcionário da empresa de telefonia TIM pagamento em bitcoin para ter acesso aos dados telefônicos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. No entanto, a transação acabou não acontecendo, “porque o rapaz da TIM se negou a pegar uma segunda via do chip do Ministro”.
“A deputada (Carla Zambelli) solicitou que eu invadisse o e-mail do ministro e, lá atrás, em 2019, eu tinha acessado já o e-mail. Então, eu tinha o e-mail e o telefone de recuperação de senha. Entrei em contato com o rapaz da TIM, só que ele me gravou no dia, sem eu saber, e se negou a pegar a segunda via do chip, porque, à época, o Alexandre de Moraes estava o tempo todo na mídia, mandando prender todo mundo. Então, ele ficou com medo e vazou isso à mídia. Mas eu não efetuei a transferência”, detalhou Delgatti à CPMI.
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