ATOS GOLPISTAS

Major da PMDF: "Na 1ª manifestação, é só deixar invadir Congresso"

Em denúncia da PGR, mensagens confirmam que oficiais declararam que iriam deixar, "na primeira manifestação", que os golpistas invadissem o Congresso

Segundo o relatório, o primeiro ponto a ser considerado sobre a atuação foi que a PMDF não prestou socorro
Segundo o relatório, o primeiro ponto a ser considerado sobre a atuação foi que a PMDF não prestou socorro "eficiente" à Polícia Federal - (crédito: Ton Molina/AFP)
Camilla Germano
postado em 18/08/2023 11:09 / atualizado em 18/08/2023 11:10

A operação da Polícia Federal que mirou a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e prendeu vários oficiais na manhã desta sexta-feira (18/8), ocorreu após o Supremo Tribunal Federal (STF) atender a uma requisição da Procuradoria-Geral da República. Foram apresentados ao STF um provas, por meio de um relatório detalhado, obtidas em uma investigação de oito meses sobre a invasão dos prédios público em 8 de janeiro. Mensagens obtidas mostram que havia uma omissão planejada pela PMDF não apenas nos atos de janeiro, mas também no ataque à sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro. 

Segundo o relatório da PGR, a PMDF não prestou socorro "eficiente" à Polícia Federal "que teve que repelir a invasão com meios próprios". Em mensagens captadas pelo órgão em um grupo com o major Flávio Silvestre de Alencar, um oficial encaminha uma matéria da CNN, de entrevista do Senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP) em que o parlamentar diz ter ficado “espantado” com o “excesso de tolerância da PMDF” diante da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília. Em resposta, Flávio mostra que já havia uma intenção de permitir uma invasão ao Congresso Nacional. "Na primeira manifestação, é só deixar invadir o congresso", diz. 

 

  • Mensagem do major Flávio Silvestre de Alencar em 20 de dezembro de 2022 Material cedido ao Correio

No 8 de janeiro, Flávio foi designado como o oficial encarregado pelo comando das tropas em campo. Para a PGR, ele se omitiu a agir contra os golpistas. 

Já haviam se omitido antes em 12 de dezembro

O relatório mostra ainda a omissão de oficiais da PMDF durante os atos de 12 de dezembro de 2022, em que vários indivíduos colocaram fogo e destruíram vários bens públicos e privados em frente a sede da Polícia Federal (PF). Ninguém envolvido foi preso naquela noite, o que chamou a atenção da PGR.

A temática foi tratada novamente em grupos de mensagem, mas entre outros dois PMs investigados: coronel Marcelo Casimiro e coronel Fábio Augusto Vieira, ambos presos nesta sexta (18), conversaram sobre uma matéria do portal O Antagonista, que tratava da "inércia da PMDF" nos atos.

Em resposta a postagem, Fábio afirmou que foi a “inércia que restabeleceu a ordem e salvou vidas" enquanto Casimiro argumentou que "fazer prisões não é fácil". "Com certeza... fazer prisões não é fácil nessa hora. Vários fatores contribuem para não ter prisão", argumentou Casimiro em mensagens.

  • Mensagem do coronel Marcelo Casimiro em 13 de dezembro de 2022 Material cedido ao Correio
  • Mensagem do coronel Fábio Augusto Vieira em 13 de dezembro de 2022 Material cedido ao Correio
  • Mensagem do coronel Marcelo Casimiro em 13 de dezembro de 2022 Material cedido ao Correio

Entretanto, a PGR avalia que as mensagens enviadas por Casimiro e pelo coronel Jorge Eduardo Naime, que já estava preso preventivamente, para Fábio, demonstram que a PMDF teve, de fato, claras oportunidades de efetuar a prisão em flagrante dos autores do dia 12 de dezembro.

Uma mensagem afirmava que sete ônibus deixavam o QG do Exército em direção a PF. Três já haviam saído no momento em que a mensagem foi enviada.

"Aprox. 7 ônibus saindo QGex em direção à PF. Desses 3 já saíram. Com indígenas e não indígenas. Além de algumas camionetes", afirma a mensagem.

  • Mensagem do coronel Marcelo Casimiro em 12 de dezembro de 2022 Material cedido ao Correio

Após os atos, a Agência Departamental de Inteligência do Departamento de Operações (DOP), que era chefiada por Jorge, produziu um informe, em que afirma que a PMDF dialogou com os insurgentes nas imediações da sede da PF e "permitiu que estes retornassem aos ônibus e, depois, ao acampamento em
frente ao QG do Exército".

Assim, a PGR constatou que Fábio, Jorge e Casimiro tinham conhecimento de que o acampamento no QG do Exército "concentrava extremistas, que ali se organizavam para a prática de atos antidemocráticos", que tinham por objetivo manter Jair Bolsonaro no poder, mantendo a expectativa de um golpe de Estado.

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