Entrevista | marconi perillo | presidente nacional do PSDB

Marconi Perillo: não lançar candidato à Presidência em 2022 acelerou piora do PSDB

Ex-governador de Goiás reconhece que o fato de não ter lançado candidato à Presidência em 2022 acelerou a piora do desempenho eleitoral da legenda, apesar de estar à frente dos poderes executivos pernambucano, gaúcho e sul-mato-grossense

Marconi Pirillo, ex-governador de Goiás e presidente do PSDB -  (crédito: PSDB/Divulgação)
Marconi Pirillo, ex-governador de Goiás e presidente do PSDB - (crédito: PSDB/Divulgação)
postado em 24/02/2024 03:55

Partido que esteve à frente do país nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, mas que minguou a partir da derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff, em 2014 — a ponto de, em 2018, o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin ter obtido apenas 4,76% dos votos no primeiro turno e, em 2022, não ter lançado candidato à corrida presidencial —, o PSDB tenta retomar a trilha para voltar a ser um ator relevante da política nacional. Para o presidente nacional do partido, Marconi Perillo, a legenda paga um preço por não ter aderido aos projetos dos extremos de PT ou de Jair Bolsonaro. E, por causa disso, as bancadas federal e estaduais tucanas minguaram. Mas o ex-governador de Goiás acredita que essa retomada vem agora, com as definições para as eleições municipais. Como mola propulsora desse projeto, Perillo aposta na força dos governadores de Pernambuco (Raquel Lyra), Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) e Mato Grosso do Sul (Eduardo Riedel), lideranças capazes de mobilizar e ampliar as bases em torno das propostas e da história do PSDB. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista que o presidente nacional da legenda concedeu ao Correio Braziliense.

Marconi Perillo reconhece que não lançar candidato à Presidência em 2022 acelerou piora do PSDB

Nas eleições presidenciais de 2022, o PSDB não conseguiu viabilizar um candidato ao Palácio do Planalto depois de uma convenção turbulenta. O então governador de São Paulo, João Doria, desistiu da corrida em 23 de maio daquele ano. A partir disso, o partido ficou a cavaleiro para recomendar o voto em Luiz Inácio Lula da Silva ou Jair Bolsonaro. A ausência de uma diretriz clara, da não definição de um apoio, não contribuiu para que o partido minguasse?

No Brasil, a prática é aderir (ao governo da vez). Esse nunca foi o perfil do PSDB, que sempre foi um partido com diretrizes ideológicas, de pensamento, de criação; uma legenda coerente, que jamais procurou estar à sombra do poder para se beneficiar e crescer às custas do poder de plantão. O PSDB se estabeleceu como um partido nacional ao se apresentar nas eleições presidenciais, em todas elas — à exceção da última. E foi exatamente por causa desse protagonismo que o PSDB se firmou, não foi à sombra do poder de outros. O PSDB sempre manteve a coerência. Por isso, talvez tenha sofrido nas últimas eleições porque não quis estar aliado a nenhum dos extremos. Ficou no centro democrático e, em razão disso, acabou minguando suas bancadas. Agora, estamos fazendo um trabalho exatamente ao contrário. Queremos que o PSDB volte a ter protagonismo, volte a ter bancadas expressivas, no Senado e na Câmara; que volte a governar capitais e tenha mais governadores em 2026.

A polarização não deu chances ao surgimento de uma terceira via eleitoral — desde 2018, todos que tentaram se apresentar em opção aos campos opostos naufragaram. Só que a polarização permanece e, pior, tende a se aprofundar. Como fica o partido nesse cenário?

O PSDB tem um legado histórico de benefícios expressivos ao país. Vamos nos preparar, de forma planejada e meticulosa. E é claro, considerando, também, os princípios e os valores do partido, mas sem deixar de avaliar o pragmatismo. Vamos nos preparar para ter deputados em todas as cidades, em todos os estados, para ter uma bancada bem maior. E vamos nos preparar para ter senadores, governadores e presidente. A gente tem uma série de legados e é preciso lembrá-los. Não que isso seja o passaporte para vitórias e protagonismos, mas para que as pessoas saibam que a gente tem uma âncora, um ponto de partida. Já fizemos, temos lideranças, somos capazes de fazer pensando grande. Podemos fazer com que o país volte a ser protagonista de forma qualitativa, com programas e projetos que, realmente, o incluam no cenário mundial de forma positiva.

O PSDB paulista faz convenção amanhã e começa a se posicionar para os pleitos municipais. O que esperar em um estado que deve ter uma disputa nacionalizada? Afinal, tem à frente um governador bolsonarista (Tarcísio de Freitas) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera fundamental a retomada desse colégio eleitoral, com vistas a 2026.

São Paulo está vivendo, hoje, o que nós vivemos em Goiás, há alguns anos, depois que saímos do poder; o que viveu o PSDB de Minas, do Paraná, do Pará e de outros estados onde a gente tinha o poder e perdeu. Em sentido contrário, a gente vê hoje uma expansão e um crescimento do PSDB em estados como Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, onde a gente tem, atualmente, os governos estaduais. São Paulo tem quadros extraordinários. O PSDB paulista governou o estado, e bem, durante 28 anos. São Paulo se modernizou em todos os aspectos: da saúde à segurança, da educação ao saneamento e infraestrutura — enfim, em todas as áreas.

Mas perdeu espaço...

É natural que o PSDB tenha perdido prefeitos e lideranças. Aliás, acho até que não perdeu e, sim, desinchou. Mas o partido conta com uma plêiade de homens e mulheres que estão na vida pública e são da mais alta qualidade. Alguns estão fora do poder, mas vão voltar, agora, como candidatos a prefeitos. Fiz um esforço grande, desde que cheguei à presidência do partido, para que pudéssemos realizar a convenção estadual do PSDB de São Paulo. Conseguimos um consenso para formar um novo diretório, marcar uma data. Faremos uma festa democrática e vamos começar uma vida nova no PSDB de São Paulo. Em seguida, também, vamos resolver o impasse da comissão provisória da capital de São Paulo.

Um dos nomes fortes do PSDB é o da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra. Cogita-se, até, que ela possa deixar o partido para dar um voo mais alto, em 2026. O presidente Lula, inclusive, se aproximou muito dela.

Conversei várias vezes com a Raquel e nunca tratamos sobre essa história de sair do partido. Ela nunca aventou isso — pelo contrário. Fui informado pelo presidente do partido em Pernambuco (Fred Loyo) que farão, nos próximos dias, um grande evento para filiações de lideranças políticas e de prefeitos ao PSDB. Raquel tem merecido da parte da Executiva Nacional total solidariedade em todos os seus projetos e em todas as suas dificuldades. Afinal, ela é mulher e sofre todo tipo de preconceito e de dificuldades que uma pessoa do sexo feminino pode enfrentar exercendo o poder em um dos estados mais expressivos do Brasil. O PSDB tem a honra de contar com três excelentes governadores da nova geração. Além da Raquel, que foi prefeita bem avaliada e competente de Caruaru por duas vezes, temos o governador Eduardo Riedel (MS), que foi secretário de Estado e é um governador jovem. E Eduardo Leite, que é o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul exatamente por suas qualidades como gestor competente e moderno.

Para as eleições municipais, a estratégia é lançar um grande número de candidaturas ou priorizar alianças com outros partidos?

Acho que deveríamos lançar candidatos em capitais onde a gente tiver maior viabilidade. Nomes com expressão, que realmente possam nos representar bem nos debates, representar bem o partido falando do seu legado. Mas, principalmente, falando de futuro e projetos, conexão com a juventude, com a possibilidade de enfrentar e vencer problemas que são corriqueiros, especialmente nas metrópoles. Claro que a gente vai fazer alianças onde não for possível ter candidatura própria. Faremos coligações especialmente com partidos que estejam mais de acordo com nossos princípios e pensamentos.

No seu estado, o PSDB se enfraqueceu. As eleições municipais podem ser um ponto de virada?

Não diria que podem ser um ponto de virada, mas, certamente, é um ponto de inflexão, uma oportunidade para o debate, para a gente falar do que a gente já fez, do que pretendemos fazer, apresentando candidaturas novas, de pessoas que estão entrando na política agora ou de pessoas mais experientes — mas que têm, ainda, muito o que oferecer, que têm boas ideias para apresentar. Sempre digo que a fase mais fácil de um projeto político é a eleição e, o mais difícil, é a gestão — cumprir os compromissos e, realmente, ficar de acordo com aquilo que foi estabelecido nas eleições. O PSDB, não só em Goiás, mas também outros partidos que têm governos, cresce. É claro que tem um monte de gente que gosta de viver à sombra do poder. Os prefeitos, de uma maneira geral, não gostam de ficar contra o poder. Temos muitos guerreiros que ficaram, que permaneceram, que são lideranças importantes e que estão no PSDB e querem ficar nele. É muito possível que a gente tenha uma eleição com um número bastante razoável, expressivo, de candidatos eleitos nas câmaras e nas prefeituras. Pode o PSDB perder o poder? Naturalmente que perdeu quadros, prefeitos, vereadores. Eleição é cíclica e o mundo é redondo. O partido está por baixo hoje, mas, amanhã, volta a estar por cima. Assim continua a democracia e a política.

Como presidente nacional do PSDB, de que forma o senhor administra as lideranças regionais na busca pela união do partido?

Tenho uma experiência longa no PSDB, de quase 30 anos de filiação. Consequentemente, tive a oportunidade de conhecer quase todo mundo — as lideranças históricas, as lideranças que vieram depois. Também exerci seis mandatos, apoiei muitas eleições municipais em estados brasileiros. Isso tudo me deu condições muito tranquilas para trafegar entre todas as lideranças, conversar com todos. E, mais do que tudo, deixar claro o sentimento nosso de soerguimento, da reconstrução do PSDB como um partido que possa ter protagonismo nas eleições e nas discussões cotidianas no Brasil.

O senhor avalia que o PSDB está se remodelando e formando novas bases, que endossam o programa e a história da legenda?

Sem dúvida. Nossa preocupação é apresentarmos ao eleitorado, especialmente nessas eleições (municipais, em outubro), um conjunto de ideias e propostas para a população, como forma de quebrar essa polarização, trazendo a discussão para um nível local. Nas cidades, a gente começa a discutir, internamente, políticas urbanas de universalização do saneamento básico, transporte, trânsito, mobilidade urbana, cidades inteligentes e, claro, equipamentos de saúde, educação e segurança. Comecei a viajar pelo país, visitei seis estados. Até março, quero visitar todos, conversar com lideranças do interior, das capitais e buscar lançar o maior número possível de candidatos nas capitais e cidades de médio e pequeno porte.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

 

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