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Lula lava as mãos sobre declaração de Maduro, na Venezuela

Presidente evita repreender Maduro, que, em recente comício, afirmou que haverá um "banho de sangue" ou uma "guerra civil" caso a oposição chegue ao Palácio de Miraflores. Para o brasileiro, seu governo não deve opinar sobre escolhas nos países vizinhos

"Por que eu vou querer brigar com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Argentina?", disse o presidente - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem, que a Venezuela é "livre para eleger quem quiser". A declaração foi feita dois dias depois de o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ter dito que pode haver um "banho de sangue" ou uma "guerra civil" caso ele perca as eleições no próximo dia 28.

"Por que eu vou querer brigar com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem. O que me interessa é a relação de Estado para Estado, o que que o Brasil ganha e o que perde nessa relação", esquivou-se.

Lula destacou que o Brasil mantém uma boa relação com todos e que seria o único em todo o mundo sem disputas com outras nações. "Uma coisa que temos que ninguém tem: não tem nenhum país do mundo sem contencioso com ninguém como o Brasil. Não existe. Todo mundo gosta do Brasil, e o Brasil tem que gostar de todo mundo", salientou.

Lula é um dos últimos interlocutores de Maduro nas Américas. O presidente brasileiro, apesar de dizer que o país vizinho precisa garantir eleições transparentes e democráticas, tem sido cobrado para ter uma postura mais dura com o venezuelano, depois de diversas denúncias de tentativas de manipulação do pleito presidencial com a perseguição da oposição. Lula, inclusive, mediou a interlocução entre Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, uma vez que o chefe do governo da Venezuela decretou, unilateralmente, que a região de Essequibo pertence ao seu país.

As declarações do presidente ocorreram na cerimônia em que foram anunciados investimentos de R$ 15 bilhões em obras nas rodovias Via Dutra (BR-116) e Rio-Santos (BR-101), em São José dos Campos (SP). Também participaram da solenidade os ministros e vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Renan Filho (Transportes), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Fernando Haddad (Fazenda).

Eleições

O presidente aproveitou o evento para fazer política, com vistas as eleições municipais de outubro. Além de cumprimentar os prefeitos da região presentes ao anúncio, criticou a ausência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — embora tenha ressalvado que ele era livre para ir ou não. Lula continuou na ofensiva contra o possível candidato do bolsonarismo à Presidência da República, em 2026: afirmou que mesmo sendo adversários, Tarcísio deveria ter começado a governar para todo o povo.

"Espero que, um dia, ele (Tarcísio) comece a mostrar para o povo que a gente pode ter sido adversário, ter disputado eleições, mas que, depois, a gente precisa governar para o povo", alfinetou.

O presidente também aproveitou para atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Sem mencionar o nome do antecessor no Palácio do Planalto, lembrou que ele era evitado em eventos internacionais, o que levou o Brasil, segundo Lula, a ser relegado a um papel secundário no cenário global. "Se no ano passado fui ao mundo, agora não preciso mais — o mundo vem ao Brasil", frisou.

Embraer

Depois do evento dos investimentos nas rodovias, Lula compareceu ao anúncio sobre o financiamento para a American Airlines de 32 jatos E-175 fabricados pela Embraer. A operação de exportação das aeronaves soma de R$ 4,5 bilhões.

"Não é sempre que o BNDES tem coragem de emprestar R$ 4,5 bilhões para financiar avião para uma empresa americana. Isso é uma decisão política, não é econômica ou técnica. Uma decisão política tomada pelo governo", afirmou Lula.

Para o presidente, o papel do BNDES de fomento é financiar o desenvolvimento das empresas nacionais e não o Estado brasileiro — como disse ter ocorrido no governo anterior, em mais uma crítica a Bolsonaro. "Vim porque, durante o governo passado, o BNDES só serviu para devolver dinheiro para os cofres do Tesouro Nacional para fazer as loucuras que fizeram neste país. (Bolsonaro) passou quatro anos dizendo que ia encontrar uma caixa-preta no BNDES e o que ele encontrou foi o banco mais equilibrado desse país", salientou.

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postado em 20/07/2024 03:55
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