Investigação

Cid: Bolsonaro pressionou general para criticar urnas em comissão de transparência

Ex-ajudante de ordens da Presidência afirmou à Polícia Federal que Bolsonaro era aconselhado por grupos e que tinha plano para atacar o sistema de votação

O então presidente Jair Bolsonaro chorando durante uma entrevista ao programa The Noite, do SBT, em 2019 -  (crédito: Alan Santos/PR)
O então presidente Jair Bolsonaro chorando durante uma entrevista ao programa The Noite, do SBT, em 2019 - (crédito: Alan Santos/PR)

O ex-presidente Jair Bolsonaro queria uma atuação mais contundente do general Paulo Sérgio em relação à Comissão de Transparência das Eleições (CTE), antes das eleições presidenciais. Segundo delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, o objetivo era colocar em xeque a lisura do processo eleitoral brasileiro para beneficiar o então governo. A informação consta na íntegra do acordo, cujo sigilo foi derrubado nesta quarta-feira (19/2) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Na delação, Cid informou que Bolsonaro era aconselhado por diversos grupos, entre radicais e moderados. Conforme o militar, os mais contidos defendiam a identificação de uma possível fraude nas urnas eletrônicas. O ex-presidente estaria de acordo com essa estratégia e queria uma “atuação mais contundente do general Paulo Sérgio em relação à Comissão de Transparência das Eleições montada pelo Ministério da Defesa” e que o ex-chefe do Planalto queria que ele produzisse um documento "duro" de ataque ao sistema de votação. 

O plano foi colocado em prática. Em maio de 2022, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fazer parte da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) no lugar do militar que representava as Forças Armadas no grupo, o chefe de cibernética do Exército, general Heber Portella.

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Um dia depois da reunião de 5 de julho de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro atacou o sistema eleitoral e disse a integrantes do governo que era preciso agir antes do pleito, Paulo Sérgio Nogueira, compareceu a uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara e também criticou as urnas eletrônicas.

Em depoimento, Cid também contou que a ala mais radical que aconselhava Bolsonaro era a favor de um braço armado “que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; que queria que ele assinasse o decreto; que acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs”. Segundo ele, os extremos "romantizavam" o artigo 142 da Constituição Federal como o fundamento para o golpe de Estado.

Luana Patriolino
postado em 19/02/2025 13:35 / atualizado em 19/02/2025 14:48
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