
Na semana em que a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa sete anos, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser o mandante do crime, segue com mandato na Câmara dos Deputados. Nesta quarta-feira (12/3), durante uma sessão em homenagem à vereadora e ao motorista, a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) cobrou “urgência” na votação da cassação do deputado.
“É inadmissível que um deles (dos mandantes) siga exercendo seu mandato nesta casa. E nesta sessão pedimos a urgência da votação da cassação deste deputado acusado de mandar matar Marielle Franco. Esta instituição tem uma responsabilidade diante desses assassinatos e não pode mais se omitir”, disse Talíria.
A deputada também ressaltou que o assassinato evidencia “as amarras” do Estado que constituem as milícias no Rio de Janeiro. Para ela, é “obrigação” do Estado brasileiro combater os grupos milicianos.
“Quando você pega a execução de Marielle, (com a participação de) um deputado federal, um delegado, um ex-representante do Tribunal de Contas ex-deputado estadual, são as amarras do Estado que constituem as milícias e no Rio de Janeiro. Crime e milícia se alinham de maneira absurda e executaram Marielle e Anderson. E enfrentar as milícias é uma tarefa, uma obrigação do Estado brasileiro, em especial depois da execução de Marielle”, afirmou.
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Todos os anos, a bancada do Psol na Câmara organiza uma sessão para homenagear Marielle Franco e o motorista, Anderson Gomes. Neste ano, quem requereu a sessão foi a deputada Talíria Petrone. Representantes de diversos movimentos sociais participaram da sessão.
Cassação travada
O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um dos mandantes do assassinato de Marielle, está preso desde março de 2024. Além dele, seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão, também está preso.
Em agosto do ano passado, a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara aprovou o relatório que recomendou a cassação do mandato de Brazão. O caso foi, então, para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), que rejeitou um recurso do deputado contra a decisão da Comissão de Ética.
A cassação está pronta para ser votada no plenário da Câmara, mas dependerá da vontade política do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) e dos líderes partidários.
Assassinato
A vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. Enquanto estiveram centralizadas na Polícia Civil do Rio de Janeiro, as investigações avançaram pouco.
Em 2024, o chefe da Polícia Civil na época, delegado Rivaldo Barbosa, foi preso. Ele foi apontado pela Polícia Federal como um dos mentores do assassinato. O delegado foi um dos primeiros representantes da polícia a se reunir com a família das vítimas e prometeu, na ocasião, que elucidaria o caso. A investigação só avançou quando o caso foi federalizado.
Segundo a denúncia da PGR enviada ao STF no ano passado, os irmãos Chiquinho e Domingos mandaram assassinar a vereadora porque ela virou um problema para os “interesses econômicos” dos dois. Ela se opunha, por exemplo, à regularização de loteamentos irregulares em áreas dominadas por milícias — e que tinham a participação dos irmãos.
“Foram às divergências sobre as políticas urbanísticas e habitacionais que os irmãos Brazão perceberam a necessidade de executar a vereadora”, diz a denúncia. “Marielle se tornou a principal opositora e o mais ativo símbolo da resistência aos interesses econômicos dos irmãos. Matá-la significava eliminar de vez o obstáculo e, ao mesmo tempo, dissuadir outros políticos do grupo de oposição a imitar-lhe a postura”, escreveu a PGR.