Congresso

Sob ameaça de cassação, deputado Glauber Braga anuncia greve de fome

Comissão de Ética da Câmara aprova perda de mandato do parlamentar. Decisão tem de ser votada em plenário, em data ainda não definida

Glauber disse, em sessões do Conselho de Ética, que o relatório foi
Glauber disse, em sessões do Conselho de Ética, que o relatório foi "comprado" pelo ex-presidente da Câmara - (crédito: Kayo Magalhães/Câmara)

Depois de uma sessão tumultuada e discussões acaloradas, a Comissão de Ética da Câmara aprovou, nesta quarta-feira, a cassação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ). O parecer do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) recebeu 13 votos favoráveis e cinco contrários. A sessão, que durou seis horas e meia, teve diversos protestos por parte de parlamentares do PSol e de apoiadores que estavam no local.

Para que a cassação seja aprovada no plenário, serão necessários os votos favoráveis de 257 de 513 deputados. A data da votação não está definida. Se a perda do mandato for confirmada, o PSol deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta quarta-feira, quando a Comissão de Ética aprovou o requerimento para encerrar a discussão, o relator disse que não mudaria sua opinião por causa do alvoroço dos presentes. "Diante dessa algazarra e dessa balbúrdia que se transformou essa comissão, eu mantenho meu relatório, e é essa a posição do relator", frisou Magalhães, sob protesto dos deputados do PSol.

Ele afirmou, posteriormente, que a tentativa de obstrução dos deputados e as frequentes interrupções o fizeram pensar que era correta a dosimetria da punição a Glauber Braga — a perda de mandato.

A fala de Magalhães aumentou a tensão na sessão, que já estava elevada depois da chegada de deputados da oposição. Somou-se a isso o fato de a sessão no plenário da Casa ter atrasado. Os deputados do PSol esperavam que, quando se iniciasse a ordem do dia — ou seja, a discussão sobre os itens em pauta —, a sessão seria suspensa. Desde o começo da gestão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), há um acordo com os líderes partidários para iniciar as sessões pontualmente às 16h.

A ordem do dia, porém, só foi iniciada às 19h02, pelo primeiro-vice-presidente da Casa, Altineu Côrtes (PL-RJ), depois da votação na Comissão de Ética. Na avaliação de Glauber Braga, o atraso é prova de um conluio entre Motta e o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que, segundo ele, seria o principal interessado em sua cassação, por causa de seus discursos sobre o papel do político alagoano no orçamento secreto.

"O fato de até as 17h30 não ter sido iniciada a ordem do dia no plenário dá o indicativo, o objetivo de que já existe um acordo para que a deliberação que vai acontecer aqui ocorra antes de iniciada a ordem do dia", disse Braga. Na sessão anterior da Comissão de Ética, o deputado também disse que o relatório de Paulo Magalhães havia sido encomendado por Lira, para silenciá-lo.

Protesto

Antes da aprovação da cassação, Braga havia dito que faria uma greve de fome como forma de protesto. "Estou o dia inteiro em jejum. E não vou, a partir de agora, até o fechamento desse processo, me alimentar. Vou permanecer aqui, aguardando com uma decisão irrevogável de que não serei derrotado pelo orçamento secreto", frisou o parlamentar, que prometeu permanecer no local onde ocorreu a reunião.

Em nota, Lira negou ter articulado a cassação de Braga e afirmou que o deputado responde a uma "gravíssima acusação"."De minha parte, refuto veementemente mais essa acusação ilegítima por parte do deputado Glauber Braga e ressalto que qualquer insinuação da prática de irregularidades, descasada de elemento concreto de prova que a sustente, dará ensejo à adoção das medidas judiciais cabíveis", ameaçou.

O Correio também procurou a presidência da Câmara para questionar sobre o atraso no início da sessão, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.

 

 

postado em 10/04/2025 03:55
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