
Nesta quinta-feira (16/7), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) completou 75 anos de atuação no Brasil e comemorou os avanços ao longo das décadas em evento no Itamaraty. Além de destacar a atuação em frentes como saúde, educação e saneamento básico, a solenidade abordou os novos desafios para proteção dos direitos das crianças e adolescentes, e apresentou a prévia de uma nova campanha, que mostra o Unicef como “o amigo invisível da criança”, ainda sem data de lançamento.
Ao Correio, o chefe de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do Unicef no Brasil, Mário Volpi, comentou sobre novas frentes de atuação no país. Um desses pontos é a proteção das crianças no ambiente digital. “A internet não pode ser um mundo sem lei, porque as crianças são as que mais vão sofrer as consequências das violências que se reproduzem no mundo digital”, destaca.
Para o porta-voz, outra questão diz respeito à mitigação e adaptação climática. Um levantamento do Unicef divulgado em 2024 mostra que crianças nascidas entre 2020 e 2024 enfrentam cerca de cinco vezes mais dias de calor extremo do que há 50 anos.
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Volpi destaca outro problema persistente no país, a violência contra adolescentes. “O Brasil é o país que mais mata adolescentes no mundo, nós não temos nenhuma é justificativa para isso”, pontua. “Por mais que a sociedade tenha dúvida sobre o perfil desses adolescentes, a maioria absoluta não é de adolescentes que tenham cometido de qualquer ato infracional, e, mesmo se fosse, não justifica de forma nenhuma”.
Legado
A trajetória do Unicef no Brasil iniciou em 1950, na Paraíba. Atualmente, 2.474 municípios em 18 estados brasileiros tem o Selo Unicef, que reforça o compromisso na priorização da agenda para a infância em territórios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira.
As ações do braço da ONU para crianças e adolescentes são destaque do livro UNICEF, 75 anos pelas Crianças e pelos Adolescentes – Uma História em Construção, lançado durante o evento. A data marcou ainda o início da exposição Passos para o Amanhã, que celebra avanços na garantia dos direitos.
“75 anos atrás, foi um cenário crítico do mortalidade que fez o Unicef chegar ao Brasil disposto a enfrentar aquela catástrofe”, destacou o representante do Unicef no Brasil, Youssouf Abdel-Jelil. “Continuaremos com esse mesmo propósito para apoiar o Brasil a enfrentar os desafios que nascerem no presente e no futuro, garantindo assim direitos para cada criança e cada adolescente”.
O livro e a exposição comemoram resultados ao longo dos 75 anos de Unicef no país, como a erradicação da poliomielite. Com o icônico Zé Gotinha como figura central, a iniciativa nacional, que teve apoio do órgão, atingiu a marca de 100% do público alvo vacinado em 2000. Após queda nos últimos anos, que fez a cobertura alcançar 71% em 2021, a vacina alcançou cobertura de 90% em 2024.
Outro avanço aparece no aumento da taxa de alfabetização, de 49,5% em 1950 para 93% em 2022, segundo o Censo Demográfico. O saneamento básico, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também é citado. Em 1970, 42,3% da população vivia em domicílios com instalações adequadas de esgoto. A porcentagem é de 77,4% em 2022.
Para a coordenadora da ONU Residente no Brasil, Silvia Rucks, a data vai além de celebrar a trajetória, mas "reafirma o compromisso em defesa dos direitos das crianças".
Além de Rucks, a mesa da celebração contou com a presença do Representante do Unicef no Brasil, Youssouf Abdel-Jelil; da deputada Maria do Rosário (PT-RS), coordenadora da Frente Parlamentar Mista da Criança e do Adolescente; da ministra-substituta das Relações Internacionais, Maria Laura da Rocha; da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo; da Igualdade Racial, Anielle Franco; do chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo; e a representante do Ministério das Mulheres, Eutalia Barbosa.
Mas o palco não ficou restrito às autoridades. Durante a solenidade, a adolescente quilombola Gláubia Moraes, 17 anos, e o adolescente indígena João Pedro Silva Pankararu, 18, brilharam com falas sobre a atuação em projetos apoiados pelo Unicef e demandas da juventude.
“Em 2023, literalmente a minha vida mudou, pude desenvolver mais meu conhecimento nas mudanças climáticas, igualdade de gênero, prevenção de gravidez na adolescência, políticas públicas”, conta Gláubia. “A minha vontade é que os outros adolescentes do Brasil possam se manifestar e aproveitar essas oportunidades”.
O jovem pernambucano João Pedro levantou aplausos com uma fala potente e um recado ao público: é preciso aprender a escutar a juventude. Da etnia Pankararu, ele contou que o Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca), iniciativa do Unicef, foi crucial no desenvolvimento. “O adolescente está descobrindo o mundo além e a si mesmo, então, quando entrei no Nuca, entrei nesse momento de descobrir o mundo e a mim mesmo e [o projeto] foi crucial”, declara.
João Pedro foi convidado ao púlpito de novo, desta vez pela ministra Anielle Franco, que relatou a emoção com a fala do jovem e aproveitou para “tietar” e pedir uma foto com ele. “Eu nunca imaginei na adolescência conhecer um ministro ou uma ministra”, contou. "Como eu nunca me imaginei, mas também nunca deixei que ninguém apagasse meu sonho, eu queria olhar para você e dizer: 'nunca permitam que ninguém apague também os seus sonhos'".
Diversidade
A embaixadora Maria Laura da Rocha, ministra-substituta das Relações Internacionais, destacou a atenção à diversidade na proteção à infância, com atuação especializada para “crianças com deficiência, afrodescendentes, indígenas, quilombolas, além de crianças pertencentes a outras comunidades tradicionais”.
A diplomata citou ainda as negociações no âmbito da COP30 para proteção à vida de crianças e adolescentes. “Precisamos garantir que as comunidades mais afetadas tenham acesso a recursos e tecnologia para enfrentar os impactos da crise climática”, destacou.
Crianças quilombolas e ciganas subiram ao palco e até ocuparam as cadeiras reservadas aos ministros, deixando o evento mais especial. Elas usaram o momento para ler e entregar a Carta da Infância de Terreiro ao Ministério da Igualdade Racial. O documento pede o respeito às culturas e às religiões de matriz africana.
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