
O grupo de oito senadores que viaja, na próxima semana, aos Estados Unidos para tratar das tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump, se reuniu ontem com representantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) para alinhar estratégias. Durante o encontro, os dois lados decidiram que a missão parlamentar buscará abrir canais de diálogo com autoridades e empresários norte-americanos, por meio da apresentação dos impactos da medida sobre a economia brasileira. Esperam, assim, alcançar condições comerciais mais equilibradas.
A reunião contou com a participação do chanceler Mauro Vieira e da embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Viotti. Também estiveram presentes diplomatas e representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), entre eles a secretária de Comércio Exterior, Tatiane Prazeres.
A comitiva deverá se reunir com parlamentares norte-americanos em Washington entre 29 e 31 de julho, em uma tentativa de ampliar o diálogo e buscar apoio contra as tarifas anunciadas pelo governo Trump, que a princípio entram em vigor em 1º de agosto. Conforme as diretrizes acordadas com o MRE, a missão parlamentar terá caráter exclusivamente institucional, voltado ao diálogo e ao fortalecimento das relações bilaterais, sem envolvimento direto em negociações formais com a Casa Branca.
O grupo não participa das tratativas oficiais, mas buscará abrir canais de interlocução com congressistas e empresários norte-americanos, contribuindo para ampliar o espaço político e diplomático entre os dois países. A comitiva será liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e reunirá parlamentares ligados ao agronegócio, além de representantes da base governista e da oposição, em uma articulação suprapartidária. Segundo Trad, a agenda técnica será concluída até o final desta semana.
"Vamos nos reunir com empresários americanos que têm negócios com o Brasil, empresários brasileiros que têm negócios nos EUA e parlamentares americanos", adiantou.
Dos oito senadores que integram a comissão temporária criada para dialogar sobre as tarifas, quatro ocupam vagas titulares na comitiva. Além de Nelsinho Trad, estão confirmados como titulares Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado; Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro; e Fernando Farias (MDB-AL). Completam a delegação, na condição de suplentes, os senadores Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Bolsonaro; Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG).
Isolamento
Depois do encontro, Carlos Viana explicou que o Brasil atravessa um momento de "isolamento diplomático" junto aos EUA. Segundo o senador, a missão é estabelecer contato com parlamentares norte-americanos, abrir diálogo e buscar alternativas viáveis, com foco principal no adiamento do tarifaço.
"Ficou muito claro durante a reunião que, apesar dos esforços do Itamaraty para promover o diálogo e buscar um possível acordo com o governo americano, não há reciprocidade por parte da Casa Branca. Eles não têm respondido à diplomacia brasileira. Estamos, no jargão diplomático, isolados", explicou.
A viagem dos senadores é a primeira medida prática tomada pelo Congresso depois do anúncio do tarifaço de Trump contra produtos brasileiros exportados para os EUA. Na semana passada, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se reuniram com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), responsável pelo grupo de trabalho criado pelo governo para mensurar danos e encontrar alternativas junto a empresários brasileiros.
Tanto Motta quanto Alcolumbre disseram estar à disposição do governo para encontrar uma saída ao tarifaço por meio do diálogo. Não anunciaram, no entanto, nenhuma medida objetiva. Antes do anúncio das sanções, o Congresso já havia aprovado a Lei de Reciprocidade Econômica, que dá ao governo brasileiro condições de retaliar quem impuser ao Brasil medidas unilaterais que prejudiquem a economia do país. É essa lei que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende usar se as tentativas de dialogar falharem e as tarifas de Trump forem colocadas em prática, no início de agosto.
Da oposição, já há quem fale em ir também aos EUA para tentar negociar uma saída. Nomes do PL disseram ao Correio, nos últimos dias, que embora haja identificação com os posicionamentos políticos de Trump, entendem que o tarifaço é ruim para a economia brasileira. Ontem, o líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), disse em um evento no Rio Grande do Sul que há uma organização para uma viagem aos EUA tratar do assunto.
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Rafaela Gonçalves
RepórterJornalista formada pela UCB, com especialização em Economia pela Saint Paul Escola de Negócios e cursando MBA em Gestão Ambiental e Sustentabilidade na Uniube. Atua na cobertura política em Brasília desde 2018.
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