
Escolhido como relator do projeto de anistia aos golpistas do 8 de Janeiro, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) não deixou claro se o texto que pretende apresentar na Câmara beneficiará o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por atentar contra a democracia. O parlamentar afirmou que vai ouvir ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), todas as bancadas e governadores para a construção do seu relatório.
"Eu não sei se o meu texto vai agradar a todos, ou vai salvar o Bolsonaro, digamos assim. É isso que nós vamos tentar construir, conversando com todos e tentando ver a possibilidade de ter uma maioria", destacou a jornalistas.
A escolha de Paulinho da Força não agradou plenamente a oposição, porque o parlamentar tem histórico de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é próximo de ministros do STF. Ele chamou publicamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator da trama golpista, de "guardião da democracia". O deputado também já se manifestou contra a anistia aos extremistas.
Em conversa com o Correio, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) afirmou que a indicação do deputado para a relatoria da anistia "frustrou a direita" e retirou o entusiasmo obtido após a vitória na aprovação da urgência em plenário, na quarta-feira. Ele ainda levantou dúvidas sobre a imparcialidade do relatório a ser apresentado, por causa da amizada do deputado com Moraes.
"Se nós formos pensar na amizade, está totalmente desfavorável para nós, porque o próprio ministro Alexandre de Moraes se mostra totalmente contrário à direita. Essa relação muito próxima nos deixa agora de joelhos", frisou.
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O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), pediu que parlamentares da sigla não critiquem o relator. Nas redes sociais, ele elogiou a indicação. Classificou Paulinho da Força de "um ferrenho crítico do governo do descondenado", em referência a Lula. "Tenho plena confiança que, a partir de agora, vamos começar os diálogos e fazer justiça e anistiar os presos injustamente. Bom trabalho! Conte comigo", escreveu no X.
A legenda que Paulinho comanda fez coligação com o PT nas eleições de 2022, mas o laço político não durou muito tempo e, após um ano no governo, a sigla cortou vínculos com o Planalto, depois de considerar que havia ficado "de escanteio" na distribuição de cargos. Com a "separação", Paulinho passou a criticar a gestão Lula, chamada por dele de "enganação".
Ao anunciar a escolha, nas redes sociais, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ressaltou ter certeza de Paulinho da Força "conduzirá as discussões do tema com o equilíbrio necessário".
Na esquerda, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) curtiu uma publicação de Paulinho, no Instagram, logo após o anúncio de Motta confirmando-o para a relatoria da anistia.
Aprovado
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, minimizou as críticas de parte da direita à escolha de Paulinho da Força.
Em entrevista ao Correio, ele classificou o parlamentar como um político "equilibrado" e disse acreditar que o texto a ser apresentado refletirá a posição majoritária da oposição.
"Eu gostei da indicação. O Paulinho sempre se mostrou muito equilibrado, principalmente ultimamente. Ele vai fazer o que a maioria decidir, tenho certeza disso", sustentou Valdemar.
O dirigente partidário defendeu que a anistia seja ampla e não se limite a reduções de pena. "Isso não é anistia. Nós temos que liberar esse pessoal para ir embora para casa. Sempre foi assim no passado. O próprio Lula, quando presidente, concedeu anistia a muita gente. Agora teremos que trabalhar muito para alcançar o mesmo", afirmou.
Segundo Valdemar, Bolsonaro acompanha o tema de perto e demonstra preocupação com os apoiadores presos. "Sempre que converso com ele, essa é uma preocupação presente", concluiu.
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