
Se os bolsonaristas não aceitam o "PL da Dosimetria" que o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) pretende apresentar até quarta-feira — afinal, não dá anistia aos condenados pela tentativa de golpe de Estado, sobretudo o ex-presidente Jair Bolsonaro; apenas propõe reduzir-lhes as penas —, os governistas estão atentos e desconfiados com o texto que será proposto. Isso porque a oposição pode tentar introduzir, e ganhar no voto em plenário, uma série de destaques ao projeto de lei que favoreça os golpistas. Dessa forma, a ordem emitida pelo Palácio do Planalto é de atenção total àquilo que for sugerido e mobilização intensa para a votação dos destaques, a fim de que não haja surpresas.
O Planalto e a base se dizem suficientemente escaldados contra a desatenção, e a derrota para tomar o controle da CPMI do INSS parece ter servido de lição. Dias antes da votação para a formação do colegiado, os governistas tinham certeza de que emplacariam o senador Omar Aziz (PSD-AM) na presidência e, na relatoria, o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), indicado pelo presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB).
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O cochilo custou caro. Quando o governo viu eleitos o senador Carlos Viana (Podemos-MG) como presidente e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) de relator, é que se deu conta de que os bolsonaristas trabalharam intensamente no vácuo deixado pelos liderados do Planalto — aos quais somente restou fazer mea-culpas nas redes sociais e prometer que percalços assim não aconteceriam mais.
Entre os governistas, paira, ainda, a desconfiança em relação a Hugo Motta, que jamais se manifestou abertamente contra a anistia. Tanto que cedeu mais facilmente do que a base acreditava à pressão da oposição para pôr em votação a urgência do projeto sobre o tema, mesmo sem que se tivesse conhecimento do texto a ser apresentado. O fato de ter designado, depois, Paulinho da Força para buscar uma alternativa ao PL que visa beneficiar Bolsonaro, é encarada por parte dos apoiadores do governo como uma espécie de "cavalo de tróia" — sabem antecipadamente que os bolsonaristas, caso não consigam a derrubada da matéria, terão ainda a brecha de colocar pontos que lhes interessam por meio dos destaques.
A desconfiança em relação a Motta aumenta ainda mais por conta das propostas de punição aos oposicionistas que tomaram de assalto o Plenário da Câmara, em reação à prisão domiciliar imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Bolsonaro. Parecer da corregedoria das Casa sugeriu a suspensão do mandato de Marcos Pollon (PL-MS), por quatro meses, por ter ocupado a cadeira e xingado o presidente da Câmara, e de um mês os de Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SP) — os demais parlamentares envolvidos no levante serão apenas advertidos. Segundo os governistas, Motta negociou uma pena amena para não perder apoio do PL e, também, não correr o risco de ser ameaçado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com alguma sanção do governo dos Estados Unidos.
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Para ajudar nessa mobilização dos governistas, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam que a adesão às manifestações, ontem, pelo país contra o PL da anistia, terá poder de frear a tramitação da proposta e de manter a pressão contra condenados pela tentativa de golpe. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, afirmou que o governo sai fortalecido com os atos em repúdio à possibilidade de liberar Bolsonaro de ser punido por chefiar uma quadrilha que atentou contra o Estado Democrático de Direito, conforme a condenação do Supremo Tribunal Federal (STF).
"O apoio ao presidente Lula neste momento acaba sendo o grande guarda-chuva dessas pautas de salário mínimo, escala 6 por 1, soberania nacional. Mesmo sendo um ato difuso, com certeza fortalece esse campo popular e democrático", registrou nas redes sociais.
Líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ) afirmou que os atos representam para o governo uma "virada" na pauta. "O projeto da anistia perde força. Essa revisão de penas também (referindo-se à proposta que vem sendo costurada por Paulinho da Força). A gente espera que essa virada popular facilite a aprovação de projetos que têm interesse do governo e da população brasileira", disse, ao participar do protesto em Brasília.
Pelo Instagram, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) mostrou que mesmo num dia chuvoso uma boa parcela de gaúchos se reuniu no Parque da Redenção, em Porto Alegre contra a anistia. E conclamou os eleitores a remeterem mensagens para os deputados repudiando a possibilidade de Bolsonaro e outros serem liberados da condenação pela tentativa de golpe. Da mesma forma, a deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP) aproveitou a manifestação na Avenida Paulista para mostrar que liberar os golpistas não é somente uma fronta ao STF, mas é, sobretudo, uma agressão à democracia.
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