Brasil x EUA

Flexibilização do tarifaço de Trump cria expectativa nos mercados

Clima mais amigável entre Lula e o presidente dos Estados Unidos deve gerar efeitos positivos na economia, após reunião na Malásia. Setores atingidos pelas sobretaxas esperam anúncios concretos

Ricardo Alban, da CNI, defende negociação
Ricardo Alban, da CNI, defende negociação "racional e transparente" - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

As reações positivas de ambos os governos após o encontro dos líderes de Brasil e Estados Unidos devem gerar um efeito positivo nas operações desta segunda-feira (27/10) do mercado financeiro, na avaliação de analistas econômicos. Na semana passada, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) acumulou alta de 1,62% e fechou aos 145.720 pontos. O mercado internacional também havia se animado com a confirmação da reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, que deve ocorrer no próximo dia 30. Já o dólar recuou para R$ 5,38.

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O encontro entre Lula e Trump representa um passo necessário para desescalar um atrito que já trouxe aumento de volatilidade e custo para os setores exportadores brasileiros, na avaliação de Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital. "Para os mercados, trata-se de uma oportunidade — não de uma solução automática. A materialização de benefícios dependerá de negociações técnicas bem estruturadas e, sobretudo, da capacidade do Brasil de transformar essa janela diplomática em sinais concretos de previsibilidade econômica", destaca o especialista.

Gallo acredita em uma queda do dólar ante o real, entre 1% e 3% já no dia de hoje, como reação imediata do mercado, o que deve reverter parte das pressões que as tarifas elevadas impuseram às exportações e às empresas que operam majoritariamente com a moeda local. Além disso, o especialista destaca que pode haver uma alta das ações do Ibovespa, com exportadores e empresas industriais liderando esse movimento. "Se as equipes conseguirem um acordo com suspensão temporária de tarifas e caminhos claros para retirada gradual, veremos redução do prêmio de risco e janelas de compra atrativas; se ficar apenas no simbólico, a incerteza continuará compressiva sobre ativos e investimentos", acrescenta.

Para José Victor Cassiolato, estrategista da Victrix Capital, o encontro não deve causar nenhum impacto imediato em setores específicos. Mesmo assim, há uma expectativa de que, com o alívio das tarifas, algumas empresas brasileiras voltem a se valorizar, recuperando parte do prejuízo auferido no momento em que as tarifas foram anunciadas.

"E aqui o que fica de pano de fundo é, principalmente, mais um passo que amalgama a candidatura do Lula para as próximas eleições, em 2026, e todos os impactos que isso pode acontecer para o mercado, tanto com relação à gestão da política fiscal, como da trajetória da política monetária, também. Aqui do nosso lado, a gente vê esse cenário muito positivo para as empresas e um cenário eleitoral ainda mais próximo e presente nas discussões de investimento, caminhando para o final do ano e para a virada de 2026", destaca o estrategista.

Setores otimistas

Neste fim de semana, a tarifa de 50% completou 80 dias em vigor. Com a reunião de ontem, o setor produtivo também ficou mais otimista com a possibilidade de reversão do tarifaço. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacou que a conversa representa um "avanço concreto" nesse sentido. "O anúncio do início das negociações sobre o tarifaço, com disposição real das duas partes para alcançar um acordo, é um passo relevante. Acreditamos que teremos uma solução que vai devolver previsibilidade e competitividade às exportações brasileiras, fortalecendo a indústria e o emprego no país", disse Ricardo Alban, presidente da CNI.

A entidade também afirmou que atuou desde o início das negociações para tentar resolver o impasse com os EUA e para apresentar opções de cooperação, inclusive com o início de conversas sobre data centers, combustível sustentável de aviação e minerais críticos. "É natural que os Estados Unidos busquem proteger suas cadeias produtivas. O que defendemos é um processo racional, transparente e baseado em dados, que permita avançar de forma construtiva", disse Alban.

Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) - um dos setores mais atingidos pelo tarifaço - comemorou o encontro, por meio de nota. O presidente da entidade, Márcio Ferreira, está na Malásia e participa de reuniões com a equipe do governo federal. Segundo ele, há disposição de ambos os governos em avançar nas discussões sobre as tarifas em vigor, que também afetam diretamente a competitividade do café brasileiro nos EUA. "Diante desse cenário, o Cecafé aguarda por resultados concretos para a isenção das tarifas atualmente aplicadas ao setor do café, o que contribuirá para o recuo da atual pressão inflacionária ao produto no mercado dos EUA e para o fortalecimento da sustentabilidade de toda a cadeia produtiva brasileira", destaca a entidade, em nota.

 

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postado em 27/10/2025 03:55
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