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Messias amplia favoritismo para vaga no STF

AGU aumenta vantagem na corrida pela indicação, a ser feita pelo presidente Lula, para ocupar a vaga aberta com saída de Barroso

O advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, aparece como o escolhido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF). Fontes ligadas ao Planalto confirmaram que o chefe do Executivo bateu o martelo e se prepara para o anúncio oficial.

Nesta quinta-feira, Lula recebeu Messias e lideranças evangélicas no Palácio do Planalto. O encontro, descrito pelo presidente, nas redes sociais, como "especial, de emoção e fé", reuniu, ainda, o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira; o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP); e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

No encontro, a presença de Messias — evangélico da Igreja Batista — reforçou as apostas na indicação. E representou mais uma tentativa do governo de se aproximar do segmento religioso.

Durante a reunião, houve oração e troca de presentes — Lula recebeu uma Bíblia do Culto do Ministro e a edição de ouro do Centenário de Glória da Igreja. Embora o deputado Cezinha de Madureira tenha dito que a visita foi "de cortesia" e que "não tratou de indicação ao STF", o encontro ocorre num momento em que o presidente intensifica gestos ao eleitorado evangélico — um dos mais resistentes ao seu governo. Segundo pesquisa Quaest divulgada neste mês, o presidente é desaprovado por 63% desse público, contra 34% de aprovação.

Desde a campanha de 2022, Lula tenta reduzir a distância com o segmento, majoritariamente ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Na época, ele lançou a Carta Compromisso com os Evangélicos, prometendo respeito à liberdade religiosa e posicionando-se contra o aborto.

No atual mandato, o petista tem multiplicado acenos à comunidade, recheando discursos com referências a Deus e promovendo encontros com pastores e líderes religiosos. Messias, por sua vez, tem sido um dos principais articuladores dessa aproximação. Além de sua atuação técnica à frente da AGU, o ministro é frequentemente acionado pelo governo para construir pontes com a bancada evangélica e com o público religioso.

Lula publicou nas redes sociais, nesta quinta-feira, que o pastor Samuel Ferreira relatou o crescimento das igrejas evangélicas no país e o papel de acolhimento espiritual e social das congregações.

"Pude reiterar a relação de respeito que tenho pela Assembleia de Deus e o relevante trabalho espiritual e social promovido pela igreja. Um trabalho pautado em valores cristãos, que também mobilizam as ações do nosso governo: respeito, fraternidade, comunhão e apoio às famílias", enfatizou o presidente.

Caso Messias seja o escolhido, será uma vitória do núcleo político do governo sobre as preferências internas no Supremo, onde há defesa do nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Antes de formalizar a escolha, Lula pretende conversar pessoalmente com Pacheco e com outro cotado, o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), para evitar constrangimentos e preservar o diálogo institucional.

Messias, assessor jurídico de Lula desde os primeiros governos petistas, é considerado um aliado leal e discreto, com trânsito no partido e nos tribunais superiores.

Entre os cotados, é o mais próximo do presidente e o que conta com maior apoio entre os ministros palacianos e a cúpula petista. "Ele quer colocar alguém de confiança e que ficará muito tempo", resumiu uma fonte do Planalto ao Correio, referindo-se ao desejo de Lula de consolidar uma presença duradoura no Supremo.

A escolha reflete também a tentativa de evitar frustrações com futuros posicionamentos do tribunal. Lula nunca escondeu seu desapontamento com antigos indicados — entre eles, Dias Toffoli e Joaquim Barbosa, autor do voto duro no julgamento do Mensalão. Caso seja realmente nomeado, Messias passará por sabatina no Senado e terá de ser aprovado em plenário, etapa obrigatória para que assuma o cargo na mais alta Corte do país.

Conforme destacou o cientista político Márcio Coimbra, "a nomeação para o Supremo Tribunal Federal é, por natureza, um ato profundamente político, ainda que deva ser pautada pela qualificação técnica". "No contexto atual do governo Lula, essa decisão é ainda mais estratégica, refletindo as lições aprendidas com os governos petistas anteriores e o trauma político da Operação Lava-Jato", avaliou.

Segundo Coimbra, Messias "é o nome que melhor se encaixa no perfil que Lula parece priorizar: um jurista de extrema confiança, com trajetória ligada à defesa dos interesses do governo nos tribunais superiores".

O analista observou que o principal trunfo do advogado-geral é a lealdade, atributo que ganhou peso em um governo marcado pelo esforço de reconstrução após a Lava-Jato. "Ele representa uma escolha segura, um ministro que, em tese, não surpreenderia o governo em votações cruciais", acrescentou.

"Honrado"

Pacheco comentou o fato de estar entre os cotados. Disse que se sente "honrado" pela campanha que autoridades em Brasília têm feito para que fique com a vaga.

"São manifestações que surgem, e eu fico, obviamente, muito honrado e muito satisfeito que elas existem por parte daqueles que convivem comigo e conhecem o meu trabalho no parlamento", afirmou a jornalistas.

Pacheco disse que seu foco, por ora, será terminar o mandato. Admitiu, porém, que não recusaria um convite. "Lembro-me do ministro Flávio Dino dizendo, e parafraseando alguém que agora não me lembro, que não se faz campanha para isso, mas, ao mesmo tempo, não se recusa o convite", brincou. (Colaborou Israel Medeiros).

 

 

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