
Naquilo que depender do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o Projeto de Lei 5.582/25, o PL Antifacção, tem tudo para ser votado amanhã, ou, no mais tardar, na quarta-feira. Esse otimismo, porém, não é compartilhado pelos governistas nem pela oposição bolsonarista. Parlamentares dos dois lados estão insatisfeitos com a quarta versão do subtitutivo elaborado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), o que quer dizer que são grandes as chances de o texto ter uma quinta versão. Isso, claro, se parar por aí e a votação não for empurrada para a semana seguinte.
O Palácio do Planalto não digere a manobra de Motta de entregar a relatoria de um PL que mexe com um dos pontos fracos da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — e que o Palácio do Planalto acreditava poder resolvê-lo por meio da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública — a um "bolsonarista raiz". E já mandou avisar que a quarta versão apresentada por Derrite, que se licenciou da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, continua inaceitável. Isso não somente representa a ameaça de novo adiamento na votação, mas, sobretudo, desgastar ainda mais a imagem do deputado, que, conforme se comenta nos bastidores da Câmara, assumiu a tarefa com o objetivo de elaborar um projeto de lei que pudesse representar uma "turbinada eleitoral" para o governador Tarcísio de Freitas e para o bolsonarismo.
Na semana passada, percebendo que as coisas se complicavam para a oposição e para o relator — que, conforme comentários de parlamentares que não quiseram se identificar, já está sendo visto entre seus próprios colegas de bolsonarismo como despreparado para a tarefa —, governadores adversários do Palácio do Planalto foram em peso à Câmara tentar contornar a piora da situação. E concluíram que, por conta das idas e vindas do texto, era melhor retrabalhar toda a articulação por mais 30 dias.
E por dois motivos: em primeiro lugar, não querem perder o discurso da segurança pública, um grande ativo eleitoral, para o governo; e, em segundo, querem afastar a possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal (STF) seja acionado para dirimir dúvidas sobre a constitucionalidade de alguns itens. Assim, a saída foi entoarem, em coro, que o tema deveria ser mais debatido para que amadurecesse.
Entre os pontos apresentados no relatório inicial de Derrite, estava a equiparação de ações de organizações criminosas, milícias e grupos paramilitares a crimes de terrorismo, com penas elevadas. Ele propôs, ainda, a sujeição da atuação da Polícia Federal à solicitação dos governadores das unidades da Federação para atuar em investigações. Ambos foram considerados inaceitáveis pelos governistas, sobretudo aquilo que se relacionava à PF. Nas redes sociais, conseguiram emplacar a ideia de que os bolsonaristas tinham a intenção de limitar a atuação da corporação por conta de várias investigações em curso que podem atingi-los. Funcionou e Derrite recuou.
"Excluir essa questão do terrorismo é uma vitória. Se você for ver, era isso que argumentava o governo (na proposta inicial). Bastava ter ido no projeto original do governo, que era justamente isso: um novo tipo penal, no caso, a facção. Se querem mudar o nome, tudo bem, mas era justamente isso que a gente defendia", disse o líder PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Para olíder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), o Parlamento precisa responder ao avanço do crime organizado. E defende que os traficantes sejam qualificados criminalmente como terroristas. "Não abriremos mão disso. Vamos apresentar destaque e, ainda, vamos tentar convencer o relator da importância disso. Até porque, se o crime é organizado, ele é internacional, tem cooperação de inteligência, de equipamentos, de armas internacionais. Por que o Estado também não tem? Por isso é que entendemos que é importante equipará-los a grupos terroristas, para que o Estado possa ter cooperação internacional de inteligência, de armamento, se for necessário. E de tudo que for necessário para o devido enfrentamento. Não abriremos mão dessa equiparação em momento algum", avisou Sóstenes.
O PL apresentará dois destaques: um que retoma a equiparação das facções a terroristas e outro que acaba com a audiência de custódia para criminosos reincidentes.
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