
A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira (18/11) o texto-base do projeto de lei de combate ao crime organizado. Por 370 a 110 votos, os deputados acataram o texto apresentado pelo relator, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), que alterou trechos da proposta original. Entre avanços e críticas, o projeto segue rumo ao Senado e gera expectativas, pressões e desconfianças.
Aprovado após semanas de negociações, o “arcabouço” apresentado pelo relator não saiu ileso. Após apresentar cinco versões diferentes para a proposta, Derrite defendeu que "o enfrentamento do crime organizado no Brasil exige legislação de guerra em tempo de paz”. Os parlamentares governistas, contrários ao parecer do relator, dizem que o projeto Antifacção foi desconfigurado e descapitaliza a Polícia Federal.
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A essência do PL é criar uma estrutura jurídica mais rígida para combater organizações criminosas “ultraviolentas”. A proposta estabelece penas mais duras, atualiza tipos penais e amplia ferramentas de cooperação entre estados, como o compartilhamento nacional de dados sobre integrantes de facções. O texto também abre caminho para que bens e recursos ligados ao crime sejam bloqueados com mais agilidade, alcançando inclusive terceiros que se beneficiam do dinheiro ilegal.
O essencial para entender o PL Antifacção
Proposta
- Endurece penas para facções ultraviolentas;
- Atualiza crimes ligados a domínio territorial e financiamento ilegal;
- Permite bloqueio rápido de bens ligados ao crime;
- Cria base nacional de dados sobre integrantes de facções;
- Mantém custódias por videoconferência para presos de alta periculosidade.
Texto aprovado
- A equiparação entre facção e terrorismo;
- Dispositivos considerados invasivos ou sem consenso jurídico.
Críticas
- Risco de reduzir a autonomia operacional e orçamentária da PF;
- Possibilidade de abrir brechas para blindagens políticas;
- Falta de estrutura para executar medidas como custódias remotas em todo o país.
O que acontece agora
- Análise do Senado sob relatoria de Alessandro Vieira;
- Debate focado no papel da PF, no alcance das penas e na clareza dos novos crimes;
- Negociações para corrigir trechos considerados frágeis ou excessivos.
Durante a tramitação, o projeto ganhou e perdeu força em diferentes pontos. A equiparação entre facção criminosa e organização terrorista, que constava em versões anteriores, foi retirada do texto final. A atualização das penas e a criação de novos crimes associados ao domínio territorial e ao financiamento ilegal continuaram no texto, assim como dispositivos que miram a extração ilegal de minerais e outras atividades usadas por facções como fonte de renda.
Congresso dividido
Apesar desses avanços, a proposta provocou uma ruptura visível no discurso político. Deputados da base, cobraram respostas rápidas e duras. Já parte da oposição afirmou que o texto aprovado cria brechas perigosas, reduz a autonomia da Polícia Federal, que teve sua atuação transformada em tema sensível no debate, e abre espaço para interpretações que podem blindar interesses políticos.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, defendeu que o texto precisa ser maturado e aprofundado no Senado.
"Remanescem alguns pontos que precisam de, entendo eu, uma melhor maturação. Por exemplo, estamos propondo uma legislação contra o crime organizado, ao passo que já existe uma legislação contra o crime organizado, e isso poderia gerar um conflito de normas e que trará prejuízos", disse o diretor-geral da PF, em depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Crime Organizado, no Senado, na manhã de ontem.
O presidente Lula defendeu que é preciso “diálogo” e “responsabilidade” durante a análise do texto no Senado e reforçou que a prioridade da gestão federal é fortalecer a Polícia Federal, ampliar a integração no combate ao crime e investir em ações de inteligência.
“Precisamos de leis firmes e seguras para combater o crime organizado. O projeto aprovado ontem pela Câmara alterou pontos centrais do PL Antifacção que nosso governo apresentou. Do jeito que está, enfraquece o combate ao crime e gera insegurança jurídica. Trocar o certo pelo duvidoso só favorece quem quer escapar da lei”, escreveu Lula nas redes.
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Com a aprovação expressiva na Câmara, o texto agora segue para o Senado, onde o relator Alessandro Vieira assumiu a tarefa de reorganizar o debate e analisar os pontos mais controversos. Em entrevista à Agência Brasil, nesta quarta-feira (19), Vieira afirmou que, em seu relatório, não permitirá que a Polícia Federal (PF) perca recursos. “Vamos verificar o formato, mas a gente já antecipa que não terá nenhum tipo de redução no financiamento da Polícia Federal, que é fundamental para o Brasil”, declarou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), cobra o avanço do arcabouço, mas nega que o PL possa interferir na autonomia da PF. Segundo o parlamentar, o fato de, após a primeira versão apresentada, ficar decidido que não haveria alterações na lei antiterrorismo derrubou a necessidade de mexer nos aspectos do texto que alterariam as competências da corporação.
“Tudo isso cai por terra, porque para nós o papel da Polícia Federal é inegociável. A Polícia Federal é um patrimônio do Brasil e é uma instituição que pode e vem ajudando muito no enfrentamento ao crime organizado no país”, completou o presidente da Câmara em entrevista coletiva à imprensa.
O projeto segue agora para o Senado, onde o tema deve continuar sendo debatido e negociado para correção de trechos considerados frágeis ou excessivos.

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