A 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30) tem início hoje com a inevitável ilação entre o tema tratado no evento e o raro tornado que devastou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, município do Centro-Sul paranaense. O fenômeno tem sido citado como comprovação empírica dos impactos das mudanças climáticas no planeta — tema que norteia os debates entre os delegados de 170 países que estão em Belém, para participar da Cúpula.
Ontem, no discurso de abertura da 4ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade deEstados Latino-Americanos e Caribenhos e da União Europeia (Celac-UE), que acontece em Santa Marta, na Colômbia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a sua fala citando o fenômeno.
"Desejo expressar minhas condolências às vítimas das tempestades que atingiram recentemente o Caribe e o estado do Paraná, na região Sul do Brasil. Nossos pensamentos e orações estão com todas as vítimas e seus familiares", disse Lula.
Em Rio Bonito, o domingo foi de silêncio e despedida. Em um salão paroquial, centenas de pessoas se reuniram em um velório coletivo para se despedirem de cinco das seis vítimas. O espaço, preservado da destruição, tornou-se ponto de encontro para moradores que ainda tentam compreender a dimensão do que ocorreu. Durante todo o dia, o movimento foi constante no local. Moradores chegaram com flores, velas e orações. Muitos preferiram apenas observar, em silêncio, o cenário que misturava dor e solidariedade.
Entre as vítimas, estava Júlia Kwapis, de 14 anos, cuja história mobilizou a cidade. A adolescente estava na casa da amiga Heloísa quando o vento começou a soprar com força. O tornado pegou as duas de surpresa. Elas chegaram a se abraçar, mas foram separadas pela ventania, que chegou a 250 km/h. Heloísa foi arrastada por mais de 150 metros e sobreviveu. Júlia foi arremessada contra o muro do Centro Municipal de Ensino Infantil (Cmei) da cidade, que chegou a ser destruído pela força da ventania.
O pai da adolescente, Roberto Kwapis, falou com simplicidade aos jornalistas presentes no velório, sobre o que ficou de lembrança da filha. "O que vai ficar é a certeza do amor que eu tinha por ela e ela por mim", antes disso, comovido, chegou a informar que procurou a adolescente em todas as unidades hospitalares das cidades vizinhas, mas não a encontrou.
O sepultamento coletivo ocorreu no fim da tarde, no Cemitério Municipal. O tornado, classificado como F3 pelo Sistema de Meteorologia do Paraná, deixou 784 feridos, segundo o registro mais recente, e afetou cerca de 10 mil pessoas. Além de Júlia, morreram José Neri, 53; José Gieteski, 83; Claudino Paulino Risse, 57; Jurandir Nogueira Ferreira, 49; e Adriane Maria de Moura, 47 — esta última sepultada em Sulina.
A Copel informou que, até a manhã de ontem, 49% da rede elétrica do município havia sido restabelecida. Estruturas prioritárias, como o posto de saúde, o Centro do Idoso e o comando da Defesa Civil, voltaram a ter energia ainda na tarde de sábado.
Força-tarefa
Os governos federal e estadual mobilizaram uma força-tarefa, ontem, para atender às vítimas e iniciar a reconstrução da cidade. O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Valdez Góes, que está na região, disse que o governo foi pego de surpresa. "No caso de um tornado, é mais difícil prever. O ciclone você monitora, mas o tornado não tem como você ter uma previsão do estrago que ele pode fazer. Então, a gente não pode diminuir os eventos. Mas nós podemos nos preparar mais e melhor, para lidar com eles e evitar que vidas sejam ceifadas", afirmou Góes. O ministro destacou ainda que o país lançará, durante a COP30, o primeiro Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, elaborado em parceria com estados e municípios.
Com a publicação do decreto federal que reconhece o estado de calamidade em Rio Bonito do Iguaçu, o município passa a ter acesso direto a recursos federais para reconstrução de moradias, reposiçãode infraestrutura e envio de suprimentos essenciais, como medicamentos, água potável e colchões. A Defesa Civil Nacional também está autorizada a solicitar reforço de pessoal eequipamentos para a região.
OMinistério da Previdência anunciou, ontem, a antecipação debenefícios do INSS aos atingidos, enquanto o governo estuda liberarsaques emergenciais do FGTS.
O governador Ratinho Junior anunciou a liberaçãode R$ 50 milhões do Fundo Estadual de Calamidade Pública (Fecap) para a reconstrução do município.
"Jádecretei estado de calamidade para região, o que facilita e agilizaos atendimentos. Também já estamos com equipes da Fundepar fazendolevantamento das escolas destruídas. Nós faremos alojamentosprovisórios para famílias que não têm onde se acomodar",afirmou.
Umprojeto de lei que altera as regras de repasse do fundo foiencaminhado à Assembleia Legislativa em regime de urgência. Aproposta prevê o pagamento direto às famílias, com repasses de atéR$ 50 mil para reconstrução das casas.
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