Escândalo do INSS

CPI mira alfaiate dos famosos suspeito de lavar dinheiro do INSS

João Camargo, que recebeu R$ 24 milhões de entidade investigada, usou habeas corpus para ficar em silêncio e irritou parlamentares

O alfaiate João Camargo, conhecido por vestir celebridades da televisão brasileira, depôs à CPMI do INSS desta terça-feira (18/11). Ele é investigado como um dos possíveis responsáveis por lavar parte dos valores desviados de aposentados e pensionistas. Amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), Camargo se recusou a responder qualquer pergunta.

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A blindagem irritou parlamentares. O deputado Duarte Júnior (PSB-MA) foi direto: “Quem pagou R$ 24 milhões para o senhor está roubando aposentados”, disparou. Ele também o classificou como “um dos lavadores de dinheiro do roubo dos aposentados”.

O relator, Alfredo Gaspar, anunciou que pretende pedir a prisão de Camargo. “Entrarei na semana que vem com uma representação pedindo sua prisão”, afirmou.

Do ateliê de luxo às suspeitas de fraude

Camargo construiu carreira como alfaiate de alto padrão ao longo de duas décadas. Em entrevistas, costuma dizer que começou a costurar aos 11 anos e que abriu sua loja em São Paulo em 2005. Ao longo dos anos, vestiu nomes como Silvio Santos, Bruno Gagliasso e Rodrigo Faro. Questionado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) “sobre serviços prestados à família Bolsonaro”, ele respondeu apenas que manteria o “sigilo sobre sua clientela’’.

Mas foi sua atuação empresarial que chamou a atenção da comissão. Documentos do Coaf, enviados à CPMI, mostram que a empresa MKT Connection Group, fundada por Camargo em dezembro de 2022, recebeu R$ 24,3 milhões da Amar Brasil, entidade apontada como uma das engrenagens centrais do esquema de descontos irregulares do INSS. No mesmo período, a empresa do alfaiate devolveu cerca de R$ 784 mil à associação.

Entre 2022 e 2025, foram 65 transações registradas entre as duas organizações, sendo 54 delas com destino à empresa de Camargo.

Duarte Júnior destacou a contradição entre o silêncio do alfaiate e sua facilidade em falar sobre seu trabalho no mundo da moda:

“Quando silencia, ele não defende os amigos, ele se defende, porque de fato participou. São perguntas simples que eu acabei de fazer. Qual serviço de consultoria o João prestou para a Associação de Aposentados Amados? Ele não soube dizer. Quando eu pergunto qual roupa, qual terno você forneceu para essas celebridades, ele sabe informar. Então, está claro, todos conseguem perceber. Quando é crime, quando é empresa de fachada, ele se cala para não incriminar.”

Ligações empresariais sob investigação

A CPI também apura o envolvimento de Camargo na empresa Kairos Representações LTDA, criada em outubro de 2023 e encerrada apenas cinco meses depois. Além dele, outros quatro sócios integravam o grupo, todos investigados pela Polícia Federal por suposta participação no desvio de recursos do INSS.

São eles:

  • José Branco Garcia – responsável pela JBG Apoio Empresarial, que recebeu recursos da Amar Brasil;
  • Américo Monte Júnior – dirigente da ANDAPP, suspeito de receber repasses de associações ligadas ao grupo;
  • Felipe Macedo Gomes – dirigente da Amar Brasil, entidade no centro do escândalo, já ouvido pela CPI;
  • Anderson Cordeiro Vasconcelos – ligado à Master Prev, também investigado por receber repasses.

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