OPINIÃO

Alexandre Garcia: Populismo e Paraguai

'Com o populismo em campanha, todos vão pagar depois. Pagam os que geram riqueza, emprego e impostos, e os que se beneficiam disso, porque já não cai maná há mais de 3 mil anos'

Para indicar a viabilidade do número, a pasta apontou que, de R$ 30 bilhões desse tipo de receita estimados para 2023, já foram alcançados R$ 21,9 bilhões ao final do primeiro semestre -  (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
Para indicar a viabilidade do número, a pasta apontou que, de R$ 30 bilhões desse tipo de receita estimados para 2023, já foram alcançados R$ 21,9 bilhões ao final do primeiro semestre - (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

Leio os títulos dos jornais: "Freio no crescimento", "Economia perde o fôlego" e outros eufemismos para mostrar a estagnação do PIB no terceiro trimestre do ano.

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Títulos enganadores, porque fazem pressupor que havia crescimento e fôlego. Meninos, eu vi o que é crescimento. Cobrindo economia no Jornal do Brasil, eu acompanhei, no que agora chamam de anos de chumbo, anos dourados do PIB brasileiro. Em 1973, crescemos 14%. Nem a China conseguiu isso. A média de crescimento em quatro anos foi de 11,2% ao ano. Milagre econômico, chamaram.

Milagre nada. Foi produto de entusiasmo, otimismo, confiança na estabilidade jurídica e política. Abriam-se empresas e empregos. Faltavam empregados, papelão de embalagens, veículos na vitrine. Sobravam renda, emprego, produção, compra e venda. Só esfriou quando o petróleo de que o Brasil necessitava quadruplicou de preço.  

Agora, o PIB ainda se mostrou 0,1% positivo no trimestre, porque o petróleo é nosso. O pré-sal de petróleo e gás é que garantiu um décimo por cento de positivo, pois a indústria de manufaturados encolheu, o comércio perdeu fôlego — a 25 de Março, em São Paulo, o Saara, no Rio, mostram isso. Até o agro, que sustenta o balanço de pagamentos, ficou apenas com menos de meio por cento positivo.

Nenhuma praga, oposta ao milagre; apenas o óbvio: só o trabalho produz riqueza. Num país em que 45% da população de idade ativa vive de benefícios sociais pagos pelos impostos tirados de todos, crescimento é impossível. Eram R$ 90 bilhões de benefícios em 2019; agora, são R$ 285 bilhões. Em 13 estados — Norte e Nordeste —, o número de beneficiários é maior que o de assalariados, e falta mão de obra para a atividade econômica de emprego intensivo. Muito óbvio: o PIB parou porque estão empatados a renda e o gasto. A poupança, em novembro, diminuiu em quase R$ 3 bilhões. Com eleições o ano que vem, o gasto aumenta. E aí? Proibir reeleição seria uma solução, mas muitos vão dizer que é contra Lula.

Com o populismo em campanha, todos vão pagar depois. Pagam os que geram riqueza, emprego e impostos, e os que se beneficiam disso, porque já não cai maná há mais de 3 mil anos. E não há almoço grátis. Tem que pagar. E só se paga quando houver geração de riqueza. E, aí, repito o óbvio: só o trabalho gera riqueza — para sustentar governos e seus populismos. Populismo e contas públicas não fecham jamais. Demagogia não gera investimento nem produtividade; ao contrário.

Sem crescer, não há riqueza a distribuir. Distribuir sem ter é desastre a ver. Na base, a conta de energia sobe mais que a inflação. Não se festeja aumento do Bolsa Família; o que se deve festejar é a diminuição dos que recebem o benefício, porque o melhor programa social é o emprego. Mas populismo incha em ano eleitoral, até explodir as contas públicas. O arcabouço só existe em declarações do ministro. Como se não bastasse, há o custo Brasil, calculado em R$ 1,7 trilhão por ano, conforme estudo e pesquisa CNI/Nexus.

Impostos, energia cara, infraestrutura ruim, burocracia, tempo perdido — 1.506 horas por ano — para calcular e pagar tributos. Tira competitividade, investimento, inovação. É o atraso. Economia tenta andar com freio puxado. E tem que pagar muito imposto para o governo posar de beneficente. Ou mudar para o Paraguai.

 


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AG
postado em 10/12/2025 03:10
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