bloco econômico

Parte do Mercosul se opõe à Venezuela

Seis dos 13 países integrantes do grupo assinaram comunicado contra as ações do governo de Nicolás Maduro

A profunda divisão dos sócios do Mercosul em relação à Venezuela se refletiu na ausência do tema no comunicado oficial da 67ª Cúpula do Mercosul, no sábado, em Foz do Iguaçu (PR). Dos 13 países que integram o bloco — entre Estados Partes e Estados Associados —, seis decidiram assinar um comunicado conjunto — sem o carimbo do Mercosul — em que "reafirmam seu firme compromisso de alcançar, por meios pacíficos, a plena restauração da ordem democrática e o respeito irrestrito aos direitos humanos na Venezuela".

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Subscreveram o documento os presidentes da Argentina, Javier Milei; do Paraguai — que assume, em janeiro, a presidência do bloco —, Santiago Peña; do Panamá, José Raúl Mulino; e de autoridades do alto escalão dos governos da Bolívia, do Equador e do Peru. Guiana e Suriname não participaram da Cúpula, enquanto a Venezuela está suspensa do bloco.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Uruguai, Yamandú Orsi, não aceitaram os termos do comunicado. Para o governo brasileiro, o aval do bloco sul-americano ao texto proposto poderia ser interpretado como um apoio institucional à pressão militar dos Estados Unidos por parte do Mercosul.

A diplomacia brasileira queria que o documento fizesse referência à crise deflagrada pelas manobras militares dos Estados Unidos no Caribe, com ataques a barcos e confisco de petroleiros venezuelanos, e reafirmasse a preocupação com as consequências de um ataque a um país soberano, que poderia pôr em risco a histórica posição dos países sul-americanos de manter o continente como região de paz.

A posição brasileira por uma solução pacífica e aderente aos tratados internacionais foi compartilhada pelo Uruguai. O presidente Yamandú Orsi pediu "o restabelecimento pacífico da ordem institucional e democrática na Venezuela dentro da estrutura do direito internacional", "com respeito à integridade territorial, à soberania e à independência dos Estados, e abstenção do uso e da ameaça da força".

Sem consenso, os seis países cujos governantes se colocam à direita do espectro político — e alinhados ideologicamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — decidiram marcar posição de confronto com o presidente venezuelano, Nicolás Mauro, mesmo sem a chancela do Mercosul. O documento, porém, não cita nominalmente nem Maduro nem Trump.

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Apesar das divisões internas, o tema foi amplamente debatido na Cúpula de Foz do Iguaçu. No discurso de abertura da reunião, Lula declarou que um ataque à Venezuela por tropas dos Estados Unidos provocaria uma "catástrofe humanitária". O presidente da Argentina, por sua vez, foi na direção oposta, de apoio às ações militares no Caribe para pressionar a queda do regime de Maduro. "A Argentina acolhe com satisfação a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano", declarou aos colegas do bloco econômico. Ele chamou Maduro de "narcoterrorista", e o regime venezuelano de "atroz" e "desumano".

María Corina

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz deste ano e líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, fez um agradecimento público aos seis países que subscreveram a nota de apoio às ações militares dos Estados Unidos e exigiram a volta da democracia ao país. Em uma postagem na rede social X, Corina também exigiu a libertação dos presos políticos do regime de Maduro.

"Em nome dos venezuelanos, agradecemos aos governos da Argentina, Paraguai, Panamá, Bolívia, Equador e Peru por manifestarem com firmeza seu compromisso com a democracia e os direitos humanos em nosso país, e por exigirem o fim das detenções arbitrárias e a libertação dos quase mil presos políticos nas mãos do regime de Maduro", postou ela em sua conta no X. "Sabemos que a América Latina acompanha a luta justa, legítima e irreversível pela democracia e pela liberdade da Venezuela", complementou.

María Corina vivia na clandestinidade desde 2024, perseguida pelo regime de Maduro por liderar a oposição política na Venezuela e ser a principal voz de denúncia de fraude nas eleições daquele ano, que mantiveram o poder nas mãos do líder chavista. No início deste mês, após ser anunciada vencedora do prêmio Nobel da Paz, ela decidiu fugir para a Noruega (sede da fundação que concede a honraria). A fuga — que teve a ajuda dos Estados Unidos, segundo agências de notícia europeias — deu-se por mar, à noite, em um pequeno barco. Corina seguiu para a Ilha de Curaçao e, de lá, embarcou para Oslo, a capital norueguesa, onde se encontra atualmente.

 


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