relações exteriores

Mercosul em clima de frustração

Adiamento do acordo com a UE reduz importância da cúpula, que torna-se apenas a passagem de comando do Brasil ao Paraguai

Ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, na reunião preparatória do Mercosul -  (crédito: Letícia Clemente/MRE)
Ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, na reunião preparatória do Mercosul - (crédito: Letícia Clemente/MRE)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comanda, hoje, em Foz do Iguaçu (PR), a 67ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, com a presença dos presidentes da Argentina, Javier Milei; do Paraguai, Santiago Peña; e do Uruguai, Yamandú Orsi. Todos confirmaram presença, segundo o MInistério dasa Relações Exteriores. A reunião será aberta em clima de frustração por causa do adiamento da assinatura do acordo de livre-comércio com a União Europeia, que estava previsto para ocorrer durante a cúpula na cidade fronteiriça.

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Ao Correio, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reafirmou que o bloco sul-americano "está pronto para assinar esse acordo há um ano, desde a conclusão das negociações" e que não vai ficar parado, à espera de uma decisão da União Europeia (UE). "O presidente Lula já indicou que não ficaremos esperando indefinidamente por uma posição dos europeus. Até porque, temos uma série de outros interessados em negociar acordos de livre-comércio com o Mercosul, incluindo países importantes do Sudeste Asiático e três membros do G7 — Canadá, Japão e Reino Unido. Não há tempo a perder, e seguiremos negociando novas parcerias com o mundo", disse o chanceler.

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Ontem, em Foz do Iguaçu, antes da reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC) — órgão decisório de nível ministerial do Mercosul —, o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Mario Lubetkin, disse que estava "desiludido" por não poder assinar o tratado comercial "pela falta de consenso interno no seio da UE".

"O Uruguai ficará à espera de que o bloco europeu finalize seus trâmites internos para que a presidência pro tempore do Paraguai estabeleça os passos concretos para a desejada assinatura", explicou o chanceler uruguaio, referindo-se à troca de comando no bloco sul-americano, quando o Brasil passa a presidência temporária do Mercosul ao Paraguai, que ficará à frente do bloco ao longo do primeiro semestre do ano que vem.

Lubetkin lembra que o bloco mantém negociações com outras economias fortes, que devem ser concretizadas em 2026. O acordo com os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, tem de ser firmado "o mais brevemente possível, assim como o avanço das negociações com o Canadá a partir de uma visão pragmática, a fim de chegar a um resultado alcançável no curto prazo", disse ele.

A assinatura do acordo comercial entre Mercosul e UE, que deveria ocorrer hoje, foi adiado para janeiro a pedido da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que  solicitou a Lula que levasse essa posição aos sócios sul-americanos. Sem a Itália e com a oposição histórica da França, a Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) não pode assumir o compromisso de abertura comercial. A expectativa dos negociadores e diplomatas dos dois blocos é de que o tratado de livre comércio seja assinado em 12 de janeiro.

Além dos presidentes dos países fundadores do Mercosul, estarão presentes à cúpula o ministro de Relações Exteriores da Bolívia (que efetivou a entrada como Estado Parte do bloco em 2024), Fernando Aramayo Carrasco, e representantes de cinco dos sete Estados Associados: Chile (com o ministro das Relações Exteriores), Colômbia (com o coordenador nacional para o Mercosul), Equador (com o encarregado de Negócios), Panamá (com o presidente) e Peru (com o diretor da Secretaria de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores). Guiana e Suriname não confirmaram o envio de representantes.

Alckmin quer pressa

Em Brasília, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, espera que o adiamento da assinatura do acordo com os europeus não se prolongue por muito tempo. "Esperamos que seja um adiamento curto, porque é importante para o Mercosul", disse ele a um grupo de jornalistas.

Entidades empresariais brasileiras também lamentaram o adiamento, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O presidente da entidade, Ricardo Alban, se disse "frustrado" com a indecisão dos europeus. "Adiar a assinatura do acordo, neste momento, é motivo de frustração, especialmente diante do longo histórico de negociações. Mas esperamos que o empenho em firmar essa parceria seja mantido para que o processo seja concluído o quanto antes, em benefício de uma integração econômica do Mercosul com a União Europeia", disse.

 

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postado em 20/12/2025 03:55
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