POLITICAGEM

Menos política e mais harmonia em app de mensagem

Quando o assunto é política, a maioria prefere o silêncio para manter a paz familiar, e os debates mais acalorados são feitos em grupos segmentados

O cenário das discussões políticas nos aplicativos de mensagens no Brasil é de diminuição na frequência, mostrando o medo de falar sobre o tópico que influencia na vida de todos os brasileiros. É o que afirma a pesquisa Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens, das instituições sem fins lucrativos InternetLab e Rede Conhecimento Social, divulgada na última semana.

O estudo ouviu 3.113 pessoas, entre 20 de novembro a 10 de dezembro de 2024, e revelou que a circulação de discussões sobre questões da sociedade (como defesa da família, racismo e desmatamento) em grupos familiares caiu de 35% em 2021 para 23% em 2024. Fenômeno semelhante ocorreu com as notícias sobre política e governo, que apareciam em 34% desses grupos em 2021 e agora estão presentes em apenas 27% das mensagens trocadas.

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Cerca de 50% dos usuários afirmam evitar falar de política no grupo da família para fugir de brigas, e 52% admitem se policiar cada dia mais sobre o que dizem nesses espaços. O objetivo é evitar o confronto com pessoas que possuem vínculos afetivos, consolidando uma prática de cuidado para não ofender outros integrantes.

Além disso, 65% dos brasileiros evitam compartilhar conteúdos que possam atacar os valores de outras pessoas, demonstrando um esforço coletivo para manter a harmonia, especialmente entre o público feminino, onde esse cuidado chega a 70%. Por outro lado, 57% das pessoas se sentem incomodadas ao receber conteúdos políticos não solicitados.

Escolhas

Apesar da diminuição, a agressividade do ambiente digital ainda continua ditando as regras.
56% das pessoas entrevistadas responderam que sentem medo de dar sua opinião sobre política por considerar o ambiente virtual muito hostil, um índice que se mantém estável desde 2022 (57%). Esse receio é mais acentuado entre quem se identifica com o Centro (66%) e a Esquerda (63%), e atinge mais as mulheres (60%) do que os homens (53%).

Os dados mais recentes indicam um uso cada vez mais racional das plataformas digitais, com escolhas orientadas por objetivos definidos, interesses específicos e avaliação das possibilidades de interação. Os usuários demonstram compreender as diferenças entre os aplicativos e passam a utilizá-los de forma complementar, priorizando aquelas que atendem necessidades concretas do cotidiano.

Esse comportamento revela preferências consolidadas e menor dispersão entre ferramentas, com atenção direcionada ao que é considerado funcional e relevante. O WhatsApp permanece como o aplicativo mais presente na rotina das pessoas, reunindo comunicação pessoal, atividades profissionais, negociações comerciais e consumo de informações.

Os relatos mostram que a plataforma concentra múltiplas funções, desde conversas familiares até vendas e atendimento a clientes, como relatou uma entrevistada ao afirmar que o utiliza “para várias coisas tipo vendas, comprar também, falar com a família, ligação, com clientes e para publicar vendas”. O Telegram, por sua vez, aparece associado ao acesso a conteúdos específicos e ao compartilhamento de arquivos extensos, sendo escolhido por usuários que buscam alternativas para armazenamento, envio de vídeos longos e participação em comunidades temáticas, já que “as outras redes sociais não funcionam tão bem”
nessas situações.

No entretenimento, o TikTok se consolida como espaço voltado principalmente ao consumo de vídeos curtos, com destaque para a facilidade de compartilhamento entre plataformas. Usuários relatam que o aplicativo ocupa posição de destaque no tempo de uso diário, associado à distração e ao lazer, sem necessariamente vinculá-lo a outras finalidades.

O Facebook mantém relevância em práticas de compra e venda, especialmente por meio do Marketplace, enquanto o Messenger segue sendo utilizado como canal de contato direto entre consumidores e lojistas, facilitando negociações dentro do próprio ambiente digital. Ao mesmo tempo, cresce a percepção de saturação, especialmente relacionada à participação em grupos.

Os depoimentos apontam cansaço diante do fluxo constante de mensagens e da sobrecarga informacional, o que tem motivado um movimento de saída ou redução desses espaços. Usuários relatam escolhas mais seletivas, priorizando apenas grupos considerados indispensáveis, como os ligados à escola, atividades físicas ou compromissos específicos. Uma entrevistada resumiu essa postura ao afirmar que prefere “concentrar meus contatos em poucos lugares”, enquanto outra destacou a necessidade de filtrar conteúdos para evitar que “qualquer informação chegue até mim”.

As novas funcionalidades também passam a integrar a rotina de parte dos usuários, ainda que com diferentes níveis de adesão. Os canais do WhatsApp ganham espaço como fonte rápida de notícias, atualizações e promoções, utilizados por quem busca informação de forma objetiva, “arrasta para o lado, vê o que aconteceu rápido”.

As comunidades, embora conhecidas, ainda geram confusão em relação aos canais, o que dificulta a adaptação plena. Já os recursos de inteligência artificial, como transcrição de áudios e assistentes integrados, apresentam rápida adesão, sobretudo entre usuários mais jovens, embora persista cautela antes do uso de ferramentas como pagamentos, indicando um processo gradual de incorporação dessas tecnologias ao cotidiano digital.

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html

 

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