O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a internação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a cirurgia de correção de hérnia inguinal bilateral, que ocorrerá neste feriado de Natal. A decisão foi tomada após parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR) e confirmação, por perícia do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, de que o procedimento é necessário, embora eletivo. O ex-chefe do Executivo está preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos de cadeia por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
Pela decisão de Moraes, o ex-presidente será conduzido ao Hospital DF Star, hoje, para exames preparatórios e deverá ser operado amanhã. Moraes determinou que o transporte e a segurança sejam feitos pela Polícia Federal de forma discreta, com desembarque pela garagem do hospital e vigilância permanente durante toda a internação.
"A Polícia Federal deverá providenciar a completa vigilância e segurança do custodiado durante sua estadia, bem como do hospital, mantendo equipes de prontidão", diz trecho da decisão de Moraes. "A Polícia Federal deverá garantir, ainda, a segurança e fiscalização 24 horas por dia, mantendo, no minimo, dois policiais federais na porta do quarto do hospital, bem como as equipes que entender necessárias dentro e fora do hospital", acrescenta.
Moraes também autorizou a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como acompanhante, conforme as regras hospitalares, e restringiu visitas, que dependerão de autorização judicial, além de proibir o ingresso de aparelhos eletrônicos no quarto.
"Está vedado o ingresso no quarto hospitalar de computadores, telefones celulares ou quaisquer dispositivos eletrônicos, salvo obviamente os equipamentos médicos, devendo a Polícia Federal assegurar o cumprimento da restrição", frisa.
O laudo pericial encaminhado ao STF em 19 de dezembro aponta que Bolsonaro tem hérnia inguinal bilateral — quando há o deslocamento de tecidos do abdômen por pontos enfraquecidos da musculatura da virilha nos dois lados do corpo — e recomenda a cirurgia. A condição pode causar inchaço, dor e desconforto, sobretudo durante esforços, tosse ou longos períodos em pé, e, no caso bilateral, exige um procedimento mais abrangente do que quando o problema é unilateral.
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Ao Correio, o coloproctologista Danilo Munhóz explica que a cirurgia bilateral demanda maior cuidado. "O cirurgião precisa tratar dois defeitos da parede abdominal no mesmo ato, o que significa maior área de dissecção, mais tempo cirúrgico e maior chance de dor no pós-operatório. A escolha da técnica é fundamental para reduzir o risco de recidiva e de dor persistente", afirma.
Segundo ele, há duas abordagens principais: a cirurgia aberta, com incisão na virilha e colocação de uma tela de reforço, e a laparoscópica, feita por pequenas incisões com auxílio de câmeras e instrumentos, também com uso de tela.
Em quadros bilaterais, a via minimamente invasiva costuma permitir tratar os dois lados no mesmo procedimento, com menor trauma local e recuperação mais rápida, desde que o paciente possa receber anestesia geral e não tenha contraindicações.
Munhóz ressalta, no entanto, que o histórico de múltiplas cirurgias abdominais de Bolsonaro pode pesar na decisão. "Pacientes com muitas operações prévias podem apresentar aderências internas que dificultam a laparoscopia. Em situações de cicatrizes importantes ou alterações da anatomia, a via aberta pode ser mais prudente, porque evita entrar na cavidade abdominal e reduz o risco de lesões", diz.
Além da hérnia, a perícia da PF indicou a necessidade de um bloqueio do nervo frênico para controlar soluços persistentes, procedimento que interfere no diafragma. Por isso, a equipe médica deverá coordenar cuidadosamente os dois tratamentos, avaliando o impacto respiratório e decidindo se serão realizados conjuntamente ou em etapas.
A PGR, em manifestação assinada pelo procurador-geral Paulo Gonet, não se opôs à internação, aos exames preparatórios nem à cirurgia no Natal, o que abriu caminho para a autorização final de Moraes.
Bolsonaro aguarda agora o deslocamento ao hospital dentro das regras impostas pelo STF. A decisão prevê que, após a alta, o ex-presidente retorne imediatamente à custódia da Polícia Federal, mantendo-se as mesmas condições de segurança que vigoram durante a internação.
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