Ao desbravar os contextos de famílias inter-raciais brasileiras, descobre-se que a harmonia muitas vezes se encontra na aceitação e no entendimento mútuo, mas também nos confrontos necessários para desconstruir estereótipos enraizados. É no seio desses lares que a consciência racial se faz ainda mais necessária no cotidiano para (re)construir e desafiar as amarras do preconceito.
No Brasil miscigenado, as famílias inter-raciais vivenciam uma narrativa complexa, em que a autenticidade da identidade dos descendentes, geralmente com pele mais clara, é erroneamente questionada. A história de Messias Carvalho, 34 anos, diretor executivo de uma agência de comunicação, e da professora de ensino infantil Rafaela Sousa, 36, é uma narrativa rica em experiências que destacam a importância da diversidade e da conscientização racial na formação dos sobrinhos, Sophie, 5, e Guilherme, 2. A abordagem do casal concentra-se na incorporação da negritude positiva e na educação das crianças sobre a miscigenação e a beleza presente nas diferenças.
Rafaela compartilha sua experiência de crescer em uma família inter-racial, com o pai negro e a mãe parda, enfatizando a positividade em relação à cor da pele e aos cabelos cacheados. Ela destaca o impacto positivo do ambiente de reforço na infância, mas também aborda desafios na vida adulta, incluindo preconceitos no ambiente profissional. Um exemplo disso foi quando questionaram seu profissionalismo ao usar um turbante em sala de aula durante uma atividade sobre consciência negra.
Messias, por sua vez, destaca a trajetória de privação social que sua família enfrentou na infância e como, ao se tornarem adultos e obtiverem acesso a novos ambientes, passaram a perceber com mais clareza o preconceito racial. “Nossa família é defensora da diversidade, da inclusão e do respeito às diferenças, promovendo ativamente esses valores do nosso círculo familiar.”
A discussão sobre a influência literária na vida das crianças é abordada por Rafaela, que sempre foi influenciada por sua família a gostar de leituras, e que, por isso, destaca a importância de introduzir temas como diversidade, por meio dos livros, desde cedo. “Embora ainda não saibam ler, as crianças já identificam palavras e seus significados. Sophie, aos 3 e 4 anos, explorou livros pedagógicos sobre cabelos, como A menina bonita do laço de fita, e obras sobre diferentes cores. Essas leituras ajudaram a valorizar o próprio cabelo, independentemente da textura. Esse reforço também é estendido ao Guilherme, promovendo a identificação positiva.”
A história também destaca o contexto multicultural da família, composta por pessoas de diferentes tons de pele e origens étnicas. A recente inclusão de um concunhado angolano enriquece ainda mais essa diversidade cultural, fortalecendo o interesse da família em compreender e respeitar as diferentes realidades uns dos outros.
A mãe da Sophie, sobrinha mais velha de Rafaela, comenta em família, que Sophie aprecia a diversidade da família, valorizando sua pele mais escura, em contraste com a pele mais clara da mãe e a presença de cabelos cacheados. A jovem considera a mistura étnica da família como algo belo e admirável.
“Reconheço que há um longo caminho a percorrer, por isso sou defensora da causa, especialmente no mês da consciência negra. Trabalho ativamente com meus alunos e sobrinhos, e o tema é constante em nossa família. Essas experiências impactam e destacam a importância de compartilhar, aconselhar e promover a conscientização negra, pois é parte de nossa cultura e história. Minha perspectiva é a de incluir outras pessoas nessa visão.”
Messias conta que sua mãe, Teresinha, retornou à escola este ano e, agora, está na quarta série, com 70 anos. “Ela, inclusive, desenvolveu uma série de trabalhos neste mês na escola. Estava ajudando-a a interpretar um texto chamado A dança das cores, justamente falando sobre essa pluralidade e diversidade. É um assunto que sempre está em pauta e a gente tenta o máximo entender, porque conhecimento é conscientização, é avanço, é progresso na compreensão, no entendimento e no respeito às diferenças.”
Como tio, Messias elogia o cabelo cacheado da esposa, que é semelhante ao de Sophie. O constante estímulo ao elogio e ao reconhecimento das características individuais visa promover a autoestima da Sophie desde muito jovem. Esse cuidado se reflete em sua segurança, felicidade e conforto com sua identidade, enquanto interage com outras crianças na escola.
Messias destaca que sua família reflete a diversidade do Brasil, composta por uma mistura de pessoas brancas, pardas e pretas. A convivência na grande família é marcada pelo respeito mútuo às diferentes culturas e espaços individuais. "O estímulo às conversas sobre essa diversidade é crucial para que as crianças apreciem e compreendam suas próprias identidades."
Desafios e impactos na infância
O professor Leonardo Rodrigues, do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), destaca que o racismo nas relações sociais se manifesta quando as diferenças são motivo de discriminação. “Em famílias inter-raciais, o racismo é mais frequente, até mesmo dentro do núcleo familiar. Episódios de tratamento diferenciado, brincadeiras dolorosas e discriminação em famílias extensas revelam que o ambiente familiar pode ser palco de violências."
Segundo o especialista, o impacto do racismo na vida das crianças é semelhante dentro e fora do lar. “Identificar tardiamente esses processos dificulta a ressignificação das ideias sobre si mesmo e sobre a sociedade. O assistente social, com acesso privilegiado a famílias, pode identificar casos de violência racial e promover possibilidades educativas.”
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De acordo com Leonardo, o letramento racial é essencial. “O racismo não é apenas histórico, mas um problema social atual. Famílias, especialmente inter-raciais, precisam se instruir, superando mitos racistas e enfrentando situações de violência.” Para o professor, a abertura ao diálogo e ao enfrentamento do racismo no contexto familiar é fundamental para construir uma sociedade comprometida com a justiça diante de séculos de desigualdade.
“Em famílias inter-raciais, os episódios de racismo tendem a ser mais frequentes do que em uma família composta apenas por pessoas brancas, ou negras. E o mesmo vale para indígenas e orientais. Mesmo uma pessoa negra de pele mais clara tende a ser tratada de forma diferenciada e, muitas vezes, preconceituosa, pela parte branca de própria família. São frequentes os relatos de mães negras sendo questionadas se são as babás de seus próprios filhos porque nasceram brancos.”
A falta de compreensão
Camila Facchinetti tem 17 anos e mora com a mãe em Brasília. A jovem negra é estudante e relata que, na sua família, pouco era falado sobre negritude. A garota, fruto de um relacionamento inter-racial, uma mãe branca e um pai preto, sofreu com a falta de conhecimento sobre as questões raciais, isso não era falado a ela ou ao seu irmão mais novo, Guilherme Facchinetti. “Meus pais nunca tiveram consciência da importância sobre a educação da negritude, pois era algo que não era esclarecido na cabeça deles.”
A jovem conta que, mesmo que a família não tenha transmitido informações sobre questões raciais, como autoestima do povo preto e história negra no Brasil, ela foi atrás desse conhecimento. “Foi uma iniciativa própria, muito das influências das pessoas que fui conhecendo na vida”, afirma Facchinetti.
Segundo Camila, mesmo com esse silêncio sobre questões raciais, a diferença de raças nunca foi motivo de discórdia ou desafeto — contrário de muitas famílias, em que comportamentos de exclusão, discriminação e ofensas são percebidos. Porém, segundo a jovem, alguns comportamentos preconceituosos são reproduzidos dentro do lar. A garota conta que quando colocou tranças afro pela primeira vez, sua mãe não aprovou o penteado. E mesmo tentando explicar que, mais que estético, era um símbolo cultural e ancestral, não houve compreensão. “Foi a primeira vez que eu vi esse choque dentro da minha família, pois ela não via que, para mim, tinha a ver com minhas raízes e com toda luta do povo preto.”
Além das faíscas de debates sobre raça dentro da família, Camila relata que já sofreu preconceito de pessoas de fora. Seguranças seguindo o pai e ela pelo shopping foi um dos episódios marcantes para a menina. Além disso, a estudante conta que a falta de entendimento de alguns membros brancos da família sobre as violências sofridas por eles torna o cenário ainda mais ofensivo. “Acho que, além da agressão racial da sociedade, a falta de conscientização das pessoas que estão perto de não enxergar isso como um problema, como um reflexo da estrutura de preconceito, é mais violento ainda”, explica Camila.
A jovem também relata que muitas vezes não era vista como filha de uma mulher branca. Durante a infância, os amigos da mãe chegaram a achar que a jovem seria filha de algum funcionário da casa. Muitas dessas situações ocorrem porque, para algumas pessoas, uma família inter-racial foge dos padrões e dos critérios étnicos-raciais convencionais ainda disseminados. “Infelizmente, esses episódios são recorrentes dentro da vida de pessoas pretas que estão inseridas dentro de uma família inter-racial”, finaliza a jovem.
Amor, respeito e superação
A administradora Eliene Maciel, de 49 anos, abraça com fervor a missão de educar a filha, Emanuelle Sofia Maciel (Manu), 10, incorporando de maneira positiva a negritude em sua criação. “A identidade racial foi introduzida em nossa família desde cedo. Lembro-me claramente de quando Emanuelle tinha apenas 4 anos e frequentava uma creche. Nesse período, as crianças, em suas tentativas de atingi-la, direcionavam críticas principalmente ao seu cabelo cacheado.”
Eliene lembra que, quando a filha compartilhou essa história pela primeira vez, uma enxurrada de lembranças da própria infância, marcada pelo preconceito devido à cor da pele, à classe social e ao fato de ser filha de pais separados, invadiu sua mente. “Segurei minhas lágrimas e expliquei a ela que cada indivíduo é único, que sua beleza transcende padrões e que seu cabelo, seja cacheado ou alisado, é uma expressão autêntica de quem ela é.”
Em outra ocasião, Eliene conta que, durante uma ida ao shopping, Manu teve uma crise de choro que, à primeira vista, parecia sem motivo. “Ao chegarmos em casa, tivemos uma conversa franca. Foi então que ela revelou sentir-se feia por não ter cabelos lisos e olhos claros.” A administradora disse a Manu que os padrões de beleza são diversos e subjetivos, enfatizando que a achava linda, e que sua beleza única é digna de celebração. “Foi nesse momento que ela expressou o desejo de ser modelo, inspirada por Gisele Bündchen. Apresentei-lhe diversas modelos negras, desmistificando a ideia de que esse caminho era distante demais para nós. Reforcei que ela pode ser o que quiser, basta acreditar.”
Para Emanuelle, a influência positiva da negritude é um alicerce essencial para sua identidade e autoestima, especialmente em um ambiente familiar inter-racial. Eliene e o marido, o representante comercial Carlos Antônio Batista, 70, colaboram ativamente para criar um ambiente que celebra e respeita a diversidade cultural na educação da filha. “Emanuelle é uma menina amável, espalha amor e respeito por onde passa, e dentro de casa não é diferente. Demonstra carinho por nós e faz questão de nos apresentar aos amigos.”
As discussões sobre cultura, raça e diversidade em casa são conduzidas com base na perspectiva única da criança. “Emanuelle expressou interesse em conhecer mais sobre os avós e bisavós, tanto maternos quanto paternos, o que é incentivado por Carlos, que, apesar da pele clara, reforça sua origem negra, uma conexão com seus avós negros.” Emanuelle destaca que as experiências vividas em uma família inter-racial têm impactado positivamente sua compreensão da diversidade, enriquecendo sua perspectiva sobre identidade e inclusão.
Como fica a saúde mental?
A psicóloga Nathalie Gudayol, especialista em neuropsicologia e neurociência, explica que as experiências de discriminação racial dentro de famílias inter-raciais podem causar estresse emocional, ansiedade e impactar negativamente a saúde mental dos indivíduos. “Isso pode resultar em conflitos familiares, sentimentos de isolamento e uma carga psicológica adicional de lidar com a discriminação tanto dentro quanto fora de casa. O suporte emocional e a comunicação aberta podem desempenhar um papel essencial na mitigação desses impactos.”
Segundo a especialista, ser chamado por termos pejorativos dentro do ambiente familiar pode resultar em danos psicológicos significativos. “Pode levar a uma baixa autoestima, ansiedade, depressão e um sentimento de desvalorização pessoal. Além disso, esses insultos podem contribuir para o desenvolvimento de complexos de inferioridade e afetar a autoimagem da pessoa, influenciando negativamente seus relacionamentos e a autoconfiança ao longo do tempo.”
Uma família "misturada"
Desde dos primórdios da colonização, relacionamentos inter-raciais já eram experienciados. A maioria a partir de violências cometidas por colonizadores com mulheres negras ou indígenas. Por outro lado, muitas relações consensuais foram criadas nesse ambiente de encontro étnico: imigrantes e brasileiros se relacionaram e, assim, nasceram muitas das famílias brasileiras. Liane Kunz, 74 anos, nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul, e é fruto do encontro de um alemão com uma brasileira descendente de negros, indígenas e espanhóis.
“Meu pai foi um homem fora da época dele e se encantou por minha mãe, mas naquele tempo era terrível a questão do preconceito”, conta. Liane denomina sua família como “misturada” e, por isso, especialmente sua mãe, Anita Kunz, sofreu alguns preconceitos na década de 1940, período em que o racismo, que ainda hoje persiste, era mais descarado e recorrente.
Segundo Liane, na família por parte de pai, apenas a mãe e o pai aceitaram a relação dos dois jovens. Naquela época, poucos casamentos inter-raciais eram vistos com bons olhos. Mesmo assim, os pais de Liane se casaram, se mudaram de Porto Alegre para Canoas (RS) e tiveram os filhos — três mulheres e um homem. Os filhos, ao contrário de Anita, eram mais claros e, por isso, o racismo e as pequenas violências direcionadas à família eram percebidas por Liane.
Mesmo vivendo em uma família miscigenada, Liane nunca chegou a aprender sobre negritude, preconceito ou autoestima negra. Como em muitas famílias, o assunto não era tocada. “Essa palavra negritude nem existia. Não falavam muito disso. Mas a gente vivia essa diversidade”, afirma Liane.
Mais próximo do que se imagina
Segundo levantamento do Datafolha, divulgado este mês, 24% dos entrevistados relataram que os últimos relacionamentos foram exclusivamente inter-raciais. Além disso, 47% dos que já tiveram um relacionamento responderam já terem se casado ou morado com alguém de outra cor. A pesquisa deixa claro que esse tipo relação passou a ser mais naturalizado na sociedade brasileira, mas nem por isso os membros negros das famílias inter-raciais estão protegidos do racismo, praticado muitas vezes por pessoas próximas. A história de Adauto Pacheco, 20 anos, se enquadra nesse cenário.
O estudante negro da UnB é filho de uma mulher branca, Eliane Souza e de um pai negro, Adauto Gonzaga. O jovem conta que os pais se conheceram de forma inesperada. “Minha mãe estava procurando emprego e foi contratada por meu pai para cuidar da minha avó, que estava adoentada.” Os dois se encantaram e, em 2001, se casaram e logo depois tiveram o único filho do casal.
Os três vivem de forma harmoniosa, porém, dentro da grande família, o cenário muda. Adauto conta que a relação entre os parentes do pai e da mãe não é tão próxima — tanto pela distância, já que a família de Eliane é do interior do Maranhão, quanto por episódios causados pelas questões raciais. “Os poucos contatos que tivemos não foram confortáveis e houve alguns alguns desentendimentos”, explica o jovem.
Na infância, Adauto lembra de episódios em que foi tratado de modo diferente pela avó, em comparação com outros parentes. “Minha avó materna me perguntou se eu não queria ser 'galeguinho de olho azul', porque na cabeça dela era mais bonito. Aquilo me marcou bastante.”
Mesmo com essas marcas do preconceito, o jovem conta que sempre teve uma educação racial muito persistente por parte do pai. “Meu pai sempre fez questão de me lembrar que sou negro, não branco. No sentido positivo, de me fazer honrar minhas raízes e ter noção da minha identidade.”
Por dentro da literatura
A autora do livro Famílias inter-raciais: tensões entre cor e amor, Lia Vainer Schucman, destaca o conceito de negação nas famílias inter-raciais e seu impacto nas relações familiares. Em diversas situações, membros negros são negados em suas identidades raciais, como quando uma mãe afirma que seu filho não é negro, mas árabe. Essas negações ocorrem de maneiras variadas, desde a recusa em reconhecer a origem negra até formas mais sutis, como desencorajar o uso de tranças. “Há uma forma mais sutil de negação da negritude, na qual a mãe aceita a negritude, mas impõe restrições, como não permitir tranças ou expressões culturais associadas à negritude. Isso acaba negando não apenas a aparência, mas também a própria origem negra da família.”
A obra destaca que a negação só é possível quando se conhece a identidade, e isso se manifesta de diversas maneiras. Em algumas famílias, para preservar o relacionamento, a pessoa retira o familiar do grupo racial, afirmando que ele é "um negro diferente" ou "um negro de alma branca". “Isso perpetua estereótipos negativos sobre os negros, em vez de desafiar e mudar tais concepções, criando uma dinâmica em que a validação e o amor estão condicionados à conformidade com determinadas características.”
Negritude positivada
Jorge de Sá, filho da cantora Sandra de Sá, é um homem que compartilha sua jornada marcada pela diversidade e superação. Desde os tempos de jogador de basquete no Flamengo, onde aprendeu a lidar com diferentes realidades, até sua incursão no mundo da moda e da atuação, Jorge construiu uma visão única sobre a vida. “Sempre convivi e aprendi a colocar o amor e o respeito em primeiro lugar. A minha visão do ser humano é amor, respeito e gentileza, gerando sempre gentileza. A diversidade é algo comum e orgânico na minha vida por causa dessa veia artística e de todos que sempre estiveram ao meu redor, como os meus familiares.”
Sua trajetória ganhou novos contornos com a criação da assessoria esportiva DCEI (Departamento de Conexões Esportivas Internacionais), um projeto que nasceu da sua experiência ao tentar ir para os Estados Unidos. Ao perceber as barreiras financeiras enfrentadas por colegas de escola e do time de basquete, Jorge decidiu fazer a diferença. “O DCEI visa proporcionar preparação completa, cursos acadêmicos e esportivos, além de oferecer propostas de bolsas de estudos acessíveis, rompendo com os altos custos tradicionalmente associados a agências de intercâmbio.”
Enfrentando o preconceito em relação à sua capacidade, Jorge destaca a necessidade de superar estereótipos. Como artista, ele enfrenta olhares desconfiados e questionamentos sobre sua habilidade para liderar projetos. No entanto, seu compromisso em criar oportunidades e desmistificar padrões é evidente no DCEI e em sua busca por inspirar outros negros a trilharem caminhos no mundo da arte, cultura, educação e esporte.
“As pessoas me olham, quem me reconhece fala ‘ah, é artista, vou confiar em um projeto na mão de um artista?’. Quem não me conhece, olha esquisito, vê um cara preto e jovem, e fica com o preconceito no estilo ‘cadê o engravatado? Cadê o branco? Cadê o doutorado?’. Passo por isso muitas vezes.”
Jorge de Sá destaca a importância de celebrar a identidade negra, aproveitando sua experiência em um meio cultural que exalta a excelência das pessoas pretas. Nascido em um ambiente que valoriza a diversidade, ele busca retribuir, abrindo portas e usando as redes sociais para mostrar que é possível alcançar o sucesso, independentemente da cor da pele. Sua missão é clara: inspirar e criar oportunidades para que outros negros trilhem seus próprios caminhos na sociedade.
“Nasci em um meio cultural de muita celebração ao povo preto, nasci no meio de pessoas pretas que amam ser pretas e tiveram instruções e cultura suficientes para entender o que é ser preto e como combater o racismo. Nasci no mundo onde os cantores, os atletas e os atores por quem eu era apaixonado também eram pretos.”
Jorge ressalta que sua bolha foi muito positiva para sua vivência hoje. “Pretos bem-sucedidos buscam dar oportunidades para que outros pretos vejam que existe o caminho, sim, da arte, da cultura, da educação e do esporte para o preto. A nossa grande função agora é abrir programas, projetos e usar as redes sociais para mostrar que é possível, sim. Você também pode e é o que eu busco fazer”, afirma.