O guaco (Mikania glomerata), uma planta de origem sul-americana, tem sido valorizada ao longo dos séculos, particularmente no Brasil, onde se utilizam suas folhas de diferentes formas terapêuticas. Mais do que um simples remédio natural, ela tem grande importância na tradição popular, passada de geração em geração, contudo, não só. Afinal, encontra respaldo na ciência contemporânea, que vem elucidando os mecanismos pelos quais o guaco exerce suas múltiplas ações no organismo.
Por isso, a seguir, confira 7 benefícios do guaco para a saúde e como usá-lo com segurança!
1. Tratamento de condições respiratórias
O guaco é reconhecido por auxiliar no tratamento de doenças respiratórias. Sua principal substância ativa, a cumarina, costuma servir como expectorante, ajudando a diluir e a eliminar as secreções brônquicas. Mas, além de sua ação expectorante, ela também atua como um broncodilatador suave, aliviando a constrição dos brônquios. Ainda, a planta possui uma ação antitussígena, ou seja, ajuda a suprimir a tosse, o que é benéfico em casos de tosse seca e irritativa.
2. Efeito anti-inflamatório
As propriedades anti-inflamatórias do guaco são amplamente documentadas. A planta contém flavonoides, como a quercetina e o kaempferol, que desempenham um papel vital na modulação da resposta inflamatória. Esses compostos ajudam a inibir a produção de prostaglandinas, substâncias químicas que promovem a inflamação, e a diminuir a atividade de enzimas como a ciclooxigenase (COX), que também participam do processo inflamatório.
Um estudo publicado por Berti et al. (2011) no Journal of Ethnopharmacology revelou que o guaco tem o potencial de reduzir a inflamação em doenças autoimunes, como artrite reumatoide, ao modular o sistema imunológico e reduzir a produção de citocinas (proteínas que atuam como mensageiros químicos, transmitindo sinais entre as células do sistema imunológico) pró-inflamatórias.
3. Propriedades antimicrobianas
Propriedades antimicrobianas do guaco têm sido estudadas com bastante interesse, especialmente no combate a bactérias e fungos. Os extratos da planta demonstraram eficácia contra cepas de Staphylococcus aureus e Candida albicans, duas das espécies mais comuns responsáveis por infecções em humanos.
O estudo conduzido por Gonçalves et al. (2012), publicado no Journal of Applied Microbiology, mostrou que os compostos presentes no guaco conseguem romper a membrana celular dos microrganismos, levando à sua destruição. Além disso, o estudo destacou a capacidade da planta de impedir a formação de biofilmes, uma estratégia comum utilizada por bactérias para se protegerem do sistema imunológico e dos antibióticos.
4. Ação vasodilatadora: melhora da circulação
O guaco exerce um efeito vasodilatador, promovendo o relaxamento dos vasos sanguíneos e facilitando o fluxo do sangue. Isso pode ajudar a reduzir a pressão arterial e prevenir a formação de coágulos, fatores que contribuem para doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A cumarina, principal responsável por esse efeito, atua inibindo a agregação plaquetária e aumentando a flexibilidade dos vasos sanguíneos. Tal efeito foi explorado em um estudo realizado por Souza et al. (2007), publicado na Planta Medica, que investigou a eficácia da substância na prevenção de tromboses e outros problemas circulatórios.
“A trombose geralmente se manifesta como um quadro de dor na perna, principalmente na panturrilha, associado a inchaço persistente, calor, sensibilidade e vermelhidão, o que vai levar quase sempre à procura de ajuda médica”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita.
5. Alternativa natural aos analgésicos sintéticos
Conhecido por suas propriedades analgésicas, o guaco costuma se mostrar eficaz no alívio de dores leves a moderadas. A aplicação de compressas feitas com infusões da planta sobre áreas doloridas tem demonstrado uma redução significativa da dor, especialmente em condições inflamatórias, como artrite ou lesões musculares.
O mecanismo de alívio envolve a inibição de mediadores inflamatórios que estimulam as terminações nervosas responsáveis pela percepção da dor. Além disso, o guaco pode modular os canais iônicos nas células nervosas, reduzindo a sensação dolorosa. Um estudo conduzido por Santos et al. (2010), publicado na Revista Brasileira de Farmacognosia, sugere que a planta pode complementar tratamentos de dor crônica.
6. Melhora da saúde bucal
O guaco pode também ser utilizado na saúde bucal devido às suas propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias. Os extratos da planta ajudam a combater infecções bacterianas que causam cáries e gengivite, além de promover o fortalecimento das gengivas.
Um estudo realizado por Santos et al. (2016), publicado na Brazilian Oral Research, investigou o efeito do guaco no combate a Streptococcus mutans, a principal bactéria responsável por cáries. Os resultados indicaram que os compostos da planta reduziram significativamente a carga bacteriana na boca, sugerindo seu uso como um componente de pastas de dentes ou enxaguantes bucais naturais.
7. Propriedades calmantes e sedativas
Com propriedades calmantes, o guaco pode ajudar a melhorar a qualidade do sono. A cumarina, com outros compostos, possui um leve efeito sedativo útil para pessoas que sofrem de insônia leve ou têm dificuldade para adormecer.
Um estudo realizado por Monteiro et al. (2009), publicado no Journal of Pharmacy and Pharmacology, investigou o efeito sedativo da planta em modelos animais e constatou que ela reduz o tempo necessário para adormecer e melhora a qualidade do sono sem causar efeitos colaterais significativos.
“Dormir bem ajuda a manter equilibrados os níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, assim como auxilia na produção de serotonina, hormônio do humor, importante aliado para a estabilidade emocional”, comenta o Dr. Shigueo Yonekura, neurologista do Instituto de Tecnologia em Neurologia e Sono de Piracicaba e Campinas.
Como usar o guaco com segurança
O guaco pode ser consumido em várias formas, como chá, tinturas, xaropes ou aplicado topicamente. Para preparar o chá, a recomendação é utilizar uma colher de sopa de folhas secas ou frescas para cada 200 ml de água fervente. Deixe em infusão por cerca de 10 minutos e coe antes de beber. Este chá pode ser consumido até três vezes ao dia, mas é importante não exceder essa quantidade para evitar possíveis efeitos adversos.
Para uso tópico, como em compressas, prepare a infusão com as mesmas proporções, deixe esfriar e aplique sobre a pele com uma gaze ou pano limpo, especialmente em áreas inflamadas ou doloridas. A tintura de guaco, encontrada em farmácias de manipulação, deve ser diluída em água antes do uso, e a dosagem precisa ser rigorosamente seguida conforme a orientação de um profissional de saúde.
Contraindicações e efeitos colaterais
Embora o guaco tenha muitos benefícios comprovados, também há contraindicações e possíveis efeitos colaterais. A cumarina, em doses elevadas, pode ser tóxica e causar danos ao fígado. Por isso, o uso prolongado ou em altas doses deve ser evitado. Gestantes, lactantes e crianças menores de dois anos não devem consumir a planta sem orientação médica, devido à falta de estudos que garantam a segurança nessas populações.
Ainda, pessoas com problemas hepáticos ou que utilizam medicamentos anticoagulantes precisam evitar o guaco, pois a cumarina pode potencializar o efeito desses medicamentos, aumentando o risco de hemorragias. Além disso, indivíduos com alergia a plantas da família Asteraceae (como a camomila e a calêndula) devem proceder com cautela, já que há risco de reações alérgicas. Em todos os casos, é recomendável consultar um médico ou fitoterapeuta antes de iniciar o uso do guaco, garantindo assim uma utilização segura e sem riscos à saúde.
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