
Pesquisa liderada pela Universidade da Califórnia do Sul demonstra que idosos que apresentam dificuldade cognitiva apresentam uma menor eficiência dos pequenos vasos cerebrais nas regiões temporais. Esses achados foram encontrados em idosos com ou sem depósitos de proteínas associadas a doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, sugerindo que alterações da microcirculação podem representar um biomarcador precoce de declínio cognitivo nessa faixa etária. Os resultados foram publicados este ano no periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia.
Nossos vasos sanguíneos devem ser vistos como órgãos tão inteligentes e complexos como o fígado ou o coração, por exemplo. Quando nos levantamos, quando fazemos força, quando ficamos sem respirar por alguns instantes, todas essas situações exigem que os vasos sanguíneos do cérebro adaptem seus calibres para manter sempre a mesma pressão do sangue que entra no cérebro. Se esse controle falhar, alterações rápidas e transitórias do estado de consciência podem acontecer. As pequenas artérias do cérebro, também chamadas de arteríolas, são as maiores responsáveis por esse controle. O ato de pensar também exige uma vassorreatividade afinada.
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No presente estudo, a eficiência dessa microcirculação foi testada com um teste de vasorreatividade, após breves períodos de apneia. Quando prendemos a respiração, aumentamos o teor de gás carbônico no sangue, o que leva a dilatação dos pequenos vasos cerebrais. É um mecanismo de autorregulação que, quando afetado, aumenta o risco de doença cerebrovascular e demência.
Tratamentos que visam aumentar a vasorreatividade cerebral nos lobos temporais, principais centros da memória, podem ser ferramentas poderosas no combate de condições como a doença de Alzheimer. Enquanto não temos medicamentos específicos para alcançar esse alvo, devemos juntar todas as forças para evitar situações que sabidamente podem afetar essa autorregulação cerebral, e aqui estamos falando de tratar com rigor problemas como a hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, além de evitar o sedentarismo. Tabagismo nem em pensamento.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília