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Designer breeds: conheça a tendência de misturar raças

Você já ouviu falar de cachorros híbridos? O cruzamento de cães de raças diferentes, seja planejado, seja acidental, tem chamado a atenção pelo mundo

Imagem de um Labrapoodle, mistura de labrador com poodle     -  (crédito: Reprodução/iStockphoto)
Imagem de um Labrapoodle, mistura de labrador com poodle - (crédito: Reprodução/iStockphoto)

Resultado do cruzamento de dois cães de raças definidas diferentes, os cachorros híbridos são, de modo geral, considerados SRDs (sem raça definida), pois não possuem pedigree. Segundo a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), isso ocorre porque, não há um certificado que ateste a ascendência do pet, portanto não há como saber se ele vem de uma linhagem pura.

Muitas das raças que conhecemos hoje surgiram como híbridos, sendo feitos cruzamentos seletivos para obter determinadas características. Antes, porém, ao se misturar raças de cachorros, a preocupação era de selecionar cães que fossem adequados para trabalhos, como a caça, o pastoreio ou a guarda. Hoje em dia, esses cruzamentos são feitos, muitas vezes, com objetivos estéticos, pensando em conseguir um cachorro mais fofo ou mais comportado, ou ocorrem de forma acidental. 

Alguns desses cruzamentos agradam tanto que muitos tutores passaram a realizar cruzamentos entre cães híbridos, para maior chances de perpetuar as melhores características do filhote. A mistura intencional de raças otimiza as melhores características de cada pai. Nos Estados Unidos, esses cães são chamados de designer breeds. 

Foi assim que surgiu o labradoodle, mix de labrador com poodle. A raça foi criada em 1989 pelo australiano Wally Conron, que trabalhava em uma associação de cães-guias do país. Ele teve a ideia porque queria ajudar uma mulher cega cujo marido tinha alergia a pelos. Conron tentou treinar poodles, que têm a pelagem antialérgica, mas não teve sucesso. Decidiu, então, tentar o cruzamento com um labrador, raça normalmente treinada para ser cão-guia, e obteve o resultado desejado. 

 Imagem de um Labradoodle, mistura de labrador com poodle
Imagem de um Labrapoodle, mistura de labrador com poodle (foto: Reprodução/iStockphoto)

Como deve ser feito 

Apesar de ser algo já considerado comum, a mistura de raças nem sempre sai como planejado, isso porque os filhotes podem expressar características imprevisíveis, já que herdam combinações diferentes dos genes dos pais com variações no grau de expressão dessas características. Isso pode gerar animais com comportamentos, tamanhos ou aspectos físicos inesperados. 

"Quando a escolha dos animais a serem acasalados é feita de forma criteriosa — avaliando saúde, temperamento e genética —, o cruzamento pode trazer resultados positivos, como filhotes com características desejáveis de ambas as raças", explica o médico veterinário Rafael Rossetto, PhD em reprodução animal. "Sempre recomendamos que o tutor consulte um veterinário ou especialista em reprodução para orientar o processo."

Por mais bonitinhos que os filhotes das misturas possam ser, o cruzamento não planejado adequadamente ou acidental pode gerar alguns desafios e problemas para os animais. Um dos pontos de atenção é a diferença de porte entre os pais, por exemplo. Quando se cruza um macho de raça grande com uma fêmea de raça menor, pode acontecer uma desproporção entre o tamanho dos filhotes e ocorrerem dificuldades na hora do parto para a mãe. 

"Outro fator importante é a associação de raças que já possuem predisposição a determinadas condições de saúde. Por exemplo, raças braquicefálicas como o Pug, ou o Bulldog Francês e o Bulldog Inglês, são adoradas por seu temperamento e carisma, mas possuem uma anatomia de focinho curto que pode trazer desafios respiratórios.", acrescenta o veterinário. "Quando essas raças são cruzadas com outras que também tenham características semelhantes, há uma chance de que os filhotes apresentem de forma mais acentuada essas dificuldades." 

Isso não significa que essas raças sejam ruins ou que não sejam saudáveis, mas, sim, que precisam de um planejamento reprodutivo cuidadoso para evitar problemas que possam impactar a qualidade de vida dos filhotes.

Esse cuidado também é necessário para evitar o abandono desses animais, algo que é bem comum. O veterinário diz que isso acontece, em muitos casos, quando o cruzamento ocorre de forma não planejada, por descuido dos tutores. "Os filhotes podem apresentar características físicas ou comportamentais que não atendem às expectativas e isso, infelizmente, pode levar ao abandono ou à rejeição desses animais."  

Cruzamentos acidentais

Muito mais comum do que o design breed, porém, são as combinações acidentais, feitas quando os cachorros não são castrados e convivem no mesmo ambiente. E nem sempre envolvem cães de raça. 

Foi o que aconteceu com os cachorros do estudante de jornalismo Kauã Magalhães, 21 anos, Ted e Pandora. Por um descuido breve, eles acabaram gerando uma ninhada de filhotes mistos. Ted, um caramelo, já é uma mistura de pitbull com fila, e Pandora é uma husky siberiano pura; seus filhos vieram em várias combinações de cores e comportamentos, mas, após uma consulta com o veterinário, foi confirmados que não apresentaram problema algum. 

O estudante diz que está tomando os devido cuidados para evitar que aconteça novamente, e que o processo de doar os cachorrinhos foi longo, mas não complicado, pois recorreu apenas a pessoas responsáveis e de confiança para cuidar dos filhotes. Mas nem sempre é assim. 

  • Pandora, uma Husky Siberiano pura
    Pandora, uma Husky Siberiano pura Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Ted, o caramelo mistura de fila e pitbull
    Ted, o caramelo mistura de fila e pitbull Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Um dos filhotes de Ted e Pandora
    Um dos filhotes de Ted e Pandora Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Um dos filhotes de Ted e Pandora
    Um dos filhotes de Ted e Pandora Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Um dos filhotes de Ted e Pandora
    Um dos filhotes de Ted e Pandora Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Filhotes de Ted e Pandora
    Filhotes de Ted e Pandora Foto enviada por Kauã Magalhães
  • Um dos filhotes de Ted e Pandora
    Um dos filhotes de Ted e Pandora Foto enviada por Kauã Magalhães

Adoção responsável

Encontrar um tutor para filhotes pode ser uma tarefa complicada, porque é preciso se certificar de que quem irá adotá-los tomará todos os cuidados que podem vir a ser necessários ao ter um cachorro misto, pois o processo de criação e o tratamento podem requerer mais atenção. 

O veterinário Rafael Rosseto diz que a criação de cães híbridos pode demandar mais atenção, especialmente no início da vida do animal, pois é importante monitorar de perto possíveis alterações anatômicas, comportamentais ou de saúde que possam surgir como resultado do cruzamento. "Esse acompanhamento deve ser mais criterioso para garantir que qualquer alteração derivada do acasalamento seja identificada precocemente." 

Toda raça, seja pura, seja híbrida, possui características específicas que merecem acompanhamento cuidadoso. No caso dos designer breeds, a atenção deve ser ainda maior em cruzamentos recentes ou em raças que estão em processo de consolidação. Um exemplo é o american bully, uma raça originada de cruzamentos planejados envolvendo cães do grupo terrier e bulls, e que pode apresentar porte menor ou características braquicefálicas, o que demanda atenção quanto ao manejo e à saúde respiratória e articular desses animais. 

Outro exemplo é o pomsky, uma mistura entre husky siberiano e o spitz alemão (lulu da Pomerânia), que ainda está em processo de formação. Por ser uma raça em desenvolvimento, o pomsky apresenta grande diversidade em características físicas e comportamentais, exigindo um acompanhamento cuidadoso. 

A médica veterinária Clarissa Rocha, da Petwellness, diz que o segredo é sempre monitorar a saúde e entender as necessidades do pet, independentemente da "mistura". Ela recomenda que os tutores estudem bem as raças que querem adquirir, buscando inclusive as doenças mais comuns, que em raças híbridas podem vir em maior ou menor grau. 

A veterinária alerta ainda sobre o que fazer para evitar os cruzamentos acidentais e como prosseguir caso aconteçam. "Prevenção é sempre a melhor escolha! A castração é a maneira mais eficaz de evitar cruzamentos indesejados e ainda traz benefícios à saúde dos cães. Se o 'acidente' já aconteceu, o tutor deve procurar um veterinário para garantir que a gestação (se confirmada) seja acompanhada corretamente. Além disso, é fundamental ter um plano para os filhotes: garantir lares responsáveis e evitar a superpopulação de cães sem um destino certo." 

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

postado em 30/03/2025 06:00 / atualizado em 30/03/2025 06:00
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