A saúde humana está intrinsecamente ligada à saúde do planeta. As mudanças climáticas e a poluição se consolidam como as grandes ameaças do século 21, não apenas para o meio ambiente, mas diretamente para a saúde pública global. Aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos, contaminação do ar e da água e degradação dos ecossistemas são fatores que impulsionam o surgimento e a proliferação de doenças, sobrecarregando sistemas de saúde já desafiados. A própria indústria que se dedica ao bem-estar e à cura, também aparece como um dos maiores poluidores do mundo.
Diante desse cenário complexo e urgente, a necessidade de investimentos na prevenção de doenças e estratégias de respostas às crises se tornam mais cruciais do que nunca. É imperativo que os esforços se voltem para a construção de um futuro no qual a saúde humana e a resiliência do planeta caminhem lado a lado, exigindo uma abordagem proativa e consciente.
Foi justamente para discutir essas e outras questões que a Vértea, uma academia de educação para o desenvolvimento sustentável, realizou um evento em São Paulo, neste mês, reunindo especialistas e líderes para discutir o cruzamento inadiável entre saúde e meio ambiente. O encontro, que marca um movimento em direção à saúde sustentável, abordou o papel da indústria da saúde e a necessidade de uma visão mais abrangente para o futuro.
Mara Machado, presidente do Conselho da Vértea, enfatizou a urgência de repensar a saúde. Segundo ela, a indústria é responsável por cerca de 5% das emissões de gases de efeito estufa e é um dos maiores consumidores de plástico do mundo, gerando 29 milhões de toneladas de resíduos por ano globalmente. "Se a indústria da saúde fosse um país, nós seríamos o quinto mais poluidor do mundo", alertou.
Planeta em risco
Palestrante no evento, Tiago Feinstein, procurador do estado de São Paulo, ressaltou que as mudanças climáticas se tornaram uma preocupação em todas as esferas da vida, incluindo a saúde pública. Ele enfatizou que a tríplice crise planetária — mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição — tem impactado desproporcionalmente a população mais vulnerável. Ele citou as enchentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, que deslocaram mais de 500 mil pessoas e impactaram diretamente os serviços de saúde.
Feinstein também destacou o conceito de "saúde única", que, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal, engloba a saúde humana, a saúde animal e a saúde ecológica, ou do ecossistema. A pandemia de covid-19 serviu como um "exemplo trágico e dramático" dessa interface. Ele alertou que a destruição de habitats e o desmatamento florestal aumentam os riscos de pandemias e epidemias
Ainda sobre os impactos das mudanças climáticas, o procurador mencionou os incêndios florestais em 2024, que produziram uma poluição atmosférica gravíssima, afetando diretamente a população, especialmente os grupos mais vulneráveis. "Infelizmente, nós não temos como virar uma chave e as mudanças climáticas deixarem de acontecer", afirmou. A adaptação a essa nova realidade e o investimento em estratégias de prevenção se tornaram cruciais.
Outro convidado foi Walter Feldman, médico e deputado federal, que uniu sua experiência em saúde pública com a atuação política. Ele defendeu que a educação em saúde deve ser uma atividade transversal, sendo um instrumento poderoso para a melhoria do sistema de saúde, educando não somente os profissionais, mas também os pacientes, a entenderem que a saúde não é apenas uma questão física e mental, mas também social e ambiental. Ele salientou a importância de pensar no futuro com uma visão transgeracional, cuidando do presente para as próximas gerações. "A questão climática e de saúde é um legado que nós temos que deixar para a próxima geração, melhor do que quando recebemos", detalha.
Busca de soluções
O diretor de inclusão, diversidade e sustentabilidade corporativa da PwC Brasil, Renato Souza, abriu a discussão para uma reflexão sobre os avanços e transformações na saúde e no meio ambiente, que segundo ele, não virão do setor público. "Apesar do potencial das políticas públicas de criar grandes impactos, quando falamos de dinheiro, de financiamento, o debate fica desigual", detalha, salientando a importância de investir na saúde pública.
Daniel Périgo, gerente de sustentabilidade do Grupo Fleury, compartilhou as inovações que a empresa tem implementado para lidar com a situação ambiental. Ele destacou o desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias para absorver a demanda de doenças que podem vir a aumentar devido às mudanças climáticas. O Grupo Fleury também tem investido na redução do consumo de energia, com 90% de sua matriz energética vindo de fontes renováveis, incluindo cinco usinas fotovoltaicas. "Precisamos juntar os atores da cadeia de saúde, fazer discussões relevantes, trazer esse tema para o centro da conversa e pensar de que maneira, conjuntamente, a gente consegue achar soluções para esses desafios, que não são individuais, mas coletivos", afirmou.
A Vértea, descrita como uma "iniciativa visionária" e um "movimento de futuro", busca capacitar médicos e formar gestores para promover a saúde sustentável por meio de educação, ética, transformação e ação integrada com a sociedade. O objetivo é levar conhecimento, fomentar parcerias e inspirar ações para transformar a forma como a saúde é pensada e praticada no Brasil. A instituição foca em formação crítica, intersetorial e multidisciplinar, preparando líderes com visão sistêmica e consciência global. Mara reiterou que "o avanço científico e tecnológico na saúde precisa caminhar lado a lado com a responsabilidade ambiental, a equidade social e a viabilidade dos sistemas de saúde" A Vértea planeja formar docentes para que levem a discussão da saúde sustentável para dentro das universidades.
A crise climática é, inegavelmente, uma crise sanitária. O Brasil tem enfrentado uma escalada de emergências climáticas com impacto direto na saúde, como o aumento da temperatura média, surtos de dengue, zika e chikungunya, e episódios de seca e alagamentos que afetam o abastecimento de água e pioram quadros de ansiedade, depressão e insegurança alimentar. Diante desse cenário, o clima se tornou um determinante de saúde de grande relevância.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
*A estagiária viajou a convite da Vértea
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