
Hormônios são substâncias produzidas pelo sistema endócrino e têm função essencial no metabolismo: equilibram desde a temperatura corporal até o humor, o sono e o apetite. Quando essa "orquestra química" perde o compasso, surgem os desequilíbrios hormonais, condição que, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), atinge milhares de brasileiros todos os anos.
O desequilíbrio hormonal pode ter diversas causas, como genética, envelhecimento, doenças autoimunes, uso de certos medicamentos, hábitos de vida ou até infecções. Fatores externos, como o uso de hormônios para fins estéticos, proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), também representam risco. Medicamentos como corticoides, imunoterapias e remédios para arritmia ou distúrbios psiquiátricos podem agravar ou desencadear desequilíbrios, levando a complicações como infertilidade, osteoporose e doenças cardiovasculares.
A endocrinologista Áurea Magalhães explica que sintomas como cansaço extremo, alterações de peso, queda de cabelo, ressecamento da pele, irritabilidade e diminuição da libido merecem atenção. "O termo desequilíbrio hormonal funciona, praticamente, como um guarda-chuva: pode indicar doenças da tireoide, diabetes, tumores hormonais, entre outros. Quando esses sinais são persistentes ou aparecem juntos, é hora de procurar avaliação médica", alerta.
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Além do físico, o desequilíbrio afeta o mental, como no hipotireoidismo, que pode levar à depressão e a dificuldade de concentração; o hipertireoidismo, causador de ansiedade e irritabilidade; e a menopausa, que pode vir acompanhada de distúrbios do sono e sintomas depressivos. "É essencial olhar para o paciente como um todo e oferecer acompanhamento psicológico quando necessário", reforça.
Principais indícios e sintomas
Cansaço persistente e fadiga
Mudanças inexplicáveis no peso
Alterações de humor (ansiedade, irritabilidade, depressão)
Queda de cabelo ou mudanças na pele
Alterações menstruais ou disfunção sexual
Insônia ou sonolência excessiva
Redução da libido e perda de massa muscular
Diagnóstico
Pequenas oscilações hormonais ao longo da vida são naturais, mas alterações persistentes e associadas a sintomas precisam de avaliação. O diagnóstico começa com anamnese detalhada, histórico familiar, uso de medicamentos e exames laboratoriais feitos em horários adequados. "Exames como a dosagem de testosterona devem ser coletados pela manhã e em jejum para evitar resultados falsamente baixos", detalha a endocrinologista Áurea Magalhães.
Tratamento
O tratamento depende da causa identificada, incluindo ajustes no estilo de vida, medicamentos, cirurgias ou reposição hormonal. Segundo estudo da Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, a reposição hormonal, quando bem indicada, pode melhorar sintomas como fogachos, insônia, perda de libido e proteger contra osteoporose. Nos homens, pode aliviar sintomas da andropausa, como perda de energia, desânimo e disfunção sexual.
Desequilíbrio em mulheres
As mulheres são mais propensas a sofrer com oscilações hormonais. Puberdade, gestação, pós-parto e menopausa trazem variações intensas que podem causar irregularidades menstruais, ganho de peso, distúrbios do sono, fadiga, mudanças de humor, alterações na pele e a síndrome do ovário policístico (SOP), que afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil, segundo a SBEM.
Desequilíbrio em homens
Nos homens, a queda gradual da testosterona — cerca de 1% ao ano após os 30, conforme a Mayo Clinic — pode levar a declínio da massa muscular, aumento da gordura corporal, fadiga, perda de libido e até disfunção erétil. Condições genéticas, como a síndrome de Noonan, também estão associadas a alterações hormonais. Homens acima dos 40 anos podem desenvolver resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia e hipertensão, aumentando o risco cardiovascular.
Uso de anabolizantes
O uso regular de anabolizantes aumenta as chances de problemas como supressão da produção de testosterona, acne, queda de cabelo, mudanças de humor e problemas de fertilidade, além de aumentar o risco de doenças cardíacas e problemas de saúde a longo prazo.
Caso conhecido
A apresentadora Oprah Winfrey falou publicamente sobre seu desequilíbrio hormonal causado pela menopausa em 2022, durante um episódio do programa The Checkup With Dr. David Agus. Na ocasião, ela relatou sentir palpitações noturnas intensas, que a levaram a temer por sua vida.
Palavra do especialista
Quais são os principais benefícios e riscos da reposição hormonal, e como o acompanhamento médico ajuda?
Entre os benefícios estão a redução dos sintomas do climatério, melhora do sono, da pele e da saúde óssea. Por outro lado, há riscos como aumento de câncer de mama, tromboembolismo e AVC, que variam conforme idade, tipo de hormônio e histórico familiar. O acompanhamento médico avalia se os benefícios superam os riscos.
Como a reposição hormonal difere entre homens e mulheres?
Nas mulheres, é indicada para menopausa precoce ou sintomas graves, com estrógeno e progesterona (ou só estrógeno em quem retirou o útero). Nos homens, apenas em hipogonadismo confirmado, usando testosterona. Não é indicada para envelhecimento normal ou estética.
Em quais casos a reposição costuma ser mais indicada?
Na falência ovariana precoce, pelo risco de osteoporose e doenças cardiovasculares, e em homens com hipogonadismo documentado, que têm sintomas como cansaço, perda muscular e baixa libido. É importante buscar avaliação para prevenir complicações e manter a qualidade de vida.
Cristina Khawali é endocrinologista dos laboratórios Delboni e Salomão Zoppi, do Grupo Dasa
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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