Saúde

Adolescência sem tabu: qual a importância do hebiatra para o adolescente?

O acompanhamento profissional, o diálogo aberto e a paciência dos pais são fundamentais para que a transição para a vida adulta seja feita de forma saudável, segura e sem sequelas emocionais

Conhecida por períodos de evoluções, a adolescência necessita de acompanhamento especial -  (crédito: Freepik )
Conhecida por períodos de evoluções, a adolescência necessita de acompanhamento especial - (crédito: Freepik )

A adolescência é um período de grandes transformações, tanto físicas quanto emocionais. É uma fase de descobertas e desafios, na qual o corpo e a mente passam por mudanças intensas que podem gerar dúvidas, inseguranças e até conflitos. Para pais e responsáveis, acompanhar esse processo pode ser uma jornada complexa. Como lidar com as variações de humor, as novas amizades e as discussões sobre o futuro? Como abordar temas delicados, como sexualidade, uso de álcool e drogas, sem criar barreiras? A chave, segundo especialistas, é a informação e o diálogo.

Nem sempre os pais vão se sentir preparados para guiar os filhos nessa fase, e contar com profissionais, como ginecologistas e hebiatras, pode facilitar o processo. A pediatra e hebiatra Tatiana Fonseca, professora do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), diz que o papel do profissional de saúde na adolescência é instrumentalizar os pais para esses diálogos, diminuindo as barreiras para que os filhos busquem informações nos locais adequados. "Muitas vezes, é difícil para os pais abordar certos assuntos, como a saúde sexual, pois na sua própria infância e adolescência o tema era um tabu, portanto é essencial criar um ambiente seguro e sem julgamentos para que o adolescente se sinta à vontade para fazer qualquer pergunta", detalha. 

Culturalmente, é difundido que as meninas se consultem com um ginecologista regularmente no início da puberdade. "E após a primeira menstruação é interessante realizar uma consulta de tempos em tempos para avaliar o ciclo menstrual, possíveis sintomas ginecológicos, e discutir contracepção, quando necessário", explica Bruna Heinen, ginecologista especializada em endocrinologia do Hospital Santa Lúcia, de Brasília.

No entanto, também é recomendado que, na puberdade, adolescentes de ambos os sexos consultem um profissional que saiba orientar e avaliar todas as transformações que essa fase acarreta. Por isso, o médico de adolescentes (hebiatra) é o profissional ideal para exercer esse papel. Contudo, pediatras, clínicos gerais, médicos de família e comunidade, entre outros especialistas, também podem ajudar.

Quando passar de pediatra para hebiatra? 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência vai dos 10 aos 19 anos, sendo essa a idade ideal para que o acompanhamento seja feito por um hebiatra, especialmente quando a puberdade já se iniciou e as dúvidas e dificuldades começaram a surgir.

Para as garotas, a consulta com o ginecologista é culturalmente mais difundida, mas o hebiatra é o profissional ideal para ambos os sexos, já que ele aborda de forma completa todas as mudanças que ocorrem nesse período.

Mudanças físicas na puberdade

Em meninas 

Crescimento das mamas 

Alargamento dos quadris 

Início da menstruação 

 

Em meninos 

Desenvolvimento dos órgão genitais 

Engrossamento da voz

Crescimento da barba

 

Em ambos 

Crescimento geral do corpo, com aumento de estatura e peso 

Crescimento de pelos 

Acne

O diálogo aberto e a paciência são essenciais. Evite comentários negativos sobre a aparência e incentive hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e atividade física.

Puberdade 

Nas meninas: de ocorrer entre 8 e 13 anos

Nos meninos: deve ocorrer entre 9 e 14 anos

Se as mudanças ocorrerem antes dos 8 anos nas meninas ou dos 9 nos meninos, é considerada precoce. Se não acontecerem até os 13 anos (meninas) e 14 (meninos), é tardia. Em ambos os casos, a investigação médica é fundamental.

Saúde sexual

Conversar sobre sexualidade desde a infância, de forma natural e com linguagem clara, é crucial. Na adolescência, o diálogo deve se aprofundar em temas como relações sexuais, ISTs e gravidez. É vital que o adolescente tenha um ambiente seguro e sem julgamentos para tirar dúvidas e tomar decisões conscientes.

Mitos Comuns

Muitos adolescentes acreditam em mitos como "todo mundo cresce na mesma velocidade" ou que "o corpo deve ser de revista". A puberdade é um processo individual e as imagens nas redes sociais frequentemente não são reais. A irregularidade do ciclo menstrual nos primeiros anos após a menarca é normal, e é importante desmistificar a ideia de que meninos não se preocupam com a aparência, pois a pressão estética também os afeta.

Comunicação eficaz

Para pais e responsáveis, o diálogo é a ferramenta mais poderosa. Tatiana Fonseca, pediatra e hebiatra, oferece três dicas essenciais:

Estabeleça limites claros com amor: as regras dão segurança. Um adolescente que entende a importância de limites e rotinas se sente mais seguro e protegido, mesmo que em alguns momentos haja frustração.

Seja um exemplo: crianças e adolescentes aprendem mais com atitudes do que com palavras. Seja o modelo de comportamento que você espera deles.

Tenham assuntos em comum: interesse-se pelo universo do seu filho. Leia o que ele lê, ouça a música que ele escuta. Isso permite que você fale com propriedade sobre os temas, em vez de apenas criticar.


Palavra do especialista 

Quais são as principais mudanças físicas esperadas na adolescência e como os pais podem ajudar os filhos a lidar com elas de forma saudável?

As modificações físicas na adolescência, conhecidas como puberdade, incluem o crescimento das mamas, o surgimento de pelos e a menstruação nas meninas, além do alargamento do quadril. Nos meninos, ocorrem o aumento dos testículos e do pênis, bem como a alteração da voz. Para ambos, há o estirão, uma fase de crescimento acelerado, e, para muitos, o surgimento de acne. As mudanças da puberdade podem afetar muito a autoestima, por isso é fundamental evitar comentários negativos sobre a aparência, orientar os filhos de que essa é uma fase normal, e incentivar hábitos saudáveis de alimentação e atividade física. Além disso, é importante valorizar seus esforços e conquistas. Caso a situação seja mais difícil do que o esperado, a busca por ajuda profissional é recomendada.

Como diferenciar as mudanças de humor típicas da adolescência de sinais de ansiedade ou depressão?

Esse é um grande desafio. Na adolescência, a variação de humor é muito frequente. É comum acordar desanimado e, em 30 minutos, estar brincando — uma verdadeira montanha-russa emocional. As mudanças de humor na adolescência são passageiras, não impedem a rotina e variam de intensidade, mas a vontade de fazer as coisas não é perdida. Por exemplo, se um adolescente não quer sair do quarto para refeições familiares, mas fica entusiasmado ao ser chamado por um amigo, o diagnóstico para esse isolamento é: adolescência. Já na depressão, os sintomas são persistentes. Incluem alterações no apetite e no sono (para mais ou para menos), falta de prazer nas atividades, queda do desempenho escolar, sentimentos de inutilidade, culpa excessiva, irritabilidade e, frequentemente, pensamentos sobre morte. Nesses casos, os pais devem ficar em alerta. O que caracteriza a ansiedade é preocupação excessiva e medos desproporcionais, além de sintomas físicos, como taquicardia, tremores, suor excessivo e náuseas, sem uma causa médica justificável. A mente acelerada também pode dificultar o sono e a atenção.

Qual o papel do hebiatra no acompanhamento dos adolescentes?

O principal papel é facilitar essa fase da vida, que, embora incrível, pode ser conturbada se não for devidamente acompanhada. Ele oferece suporte nas dúvidas e transformações biopsicossociais, assessorando o adolescente em seus medos e desafios. O hebiatra também orienta os pais e responsáveis, para que essa seja uma fase bem aproveitada e sem sequelas psicoemocionais, afinal, após essa transição, esses indivíduos se tornarão os protagonistas da sociedade.

Tatiana Fonseca é pediatra e hebiatra e professora do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB)

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

 


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postado em 17/08/2025 06:00 / atualizado em 17/08/2025 00:00
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