Cidade Nossa

Cidade Nossa: Brasília das mil faces

Neste domingo (26/10), o jornalista Laerte Rimoli reflete sobre a formação cultural de Brasília e destaca Luiz Recena Grassi, gaúcho que ajudou a moldar a identidade da capital com sua trajetória

REV-2610-CRONICA -  (crédito: Maurenilso )
REV-2610-CRONICA - (crédito: Maurenilso )

Laerte Rimoli — especial para o Correio 

Pequi, ora-pro-nóbis, carne de sol com macaxeira, pirarucu, churrasco. Esses são alguns dos elementos da rica cozinha brasileira que retratam as cinco regiões do país. Brasília é um caldeirão de cultura, símbolo do caldeamento de raças que forja a alma nacional. Encontramos um pedacinho de cada estado nos quatro pontos do Quadradinho. A diversidade das tribos encanta. É uma delícia transitar pelos vários brasis, em uma única cidade. Vou me fixar na história de um típico gaúcho, brasiliense por adoção. Aqui casou, teve filhos, estabeleceu-se como jornalista, daqueles bons contadores de história. Além disso, um prestigiador de almas.

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O bagual deixou os pagos e baixou de quatro costados, em 1976, na capital federal. A cidade tinha 580 mil habitantes e ainda padecia da má vontade de muitos brasileiros que consideravam o sonho de JK uma miragem cara para uma nação em desenvolvimento. Especialmente os cariocas, que nunca o perdoaram por ter arrancado a capital do balneário mais famoso. Pois, então, mãos à obra, vamos criar uma identidade própria. Nada melhor do que tipos histriônicos, generosos, agregadores para executar a tarefa. Tudo isso nosso personagem tinha, em abundância. Culto, amante da boa mesa, churrasqueiro dos bons. Que prazer fazer parte da confraria que se criou no seu entorno.

Originário das coxilhas de Uruguaiana, na divisa com o Uruguai, nos mostrou os modos e o jeitão dos "castillanos". Semelhanças culturais, linguísticas e históricas entre os uruguaios e os argentinos que dividem fronteira com o Rio Grande. Com voz possante e muito carisma, foi ponta de lança do gauchismo em Brasília. Homem do mundo, morou na Cidade do México, Paris, Moscou e sua escrita elegante nos proporcionou textos memoráveis. Numa época em que as ferramentas de busca na internet ainda não existiam e o mundo era desconhecido. Não para esse desbravador.

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Luiz Recena Grassi nos deixou, ou foi levado, no dia 14 de outubro. Ele se junta a neo-brasilienses que recentemente se foram: Paulinho Pestana e Guila. Faces que traduzem Brasília. Um mineiro, de Juiz de Fora, um goiano da capital (Goiânia) e o gaúcho de fronteira. Ao contrário do dito comum, não ficamos mais pobres sem os três. O facho de luz que abriram, em corações e mentes, é indelével e enriqueceu a terra cerratense. Três indivíduos que não passaram em branco. Marcaram com ternura e empatia a todos que os conheceram. Emprestaram humanidade a uma cidade, outrora árida, que teimou em se estabelecer na vastidão do Planalto Central. Um viva para os três e a nossa saudade.

 


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postado em 26/10/2025 06:00
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