
Celebrado mundialmente em 1º de novembro, o Dia do Veganismo chama atenção para um estilo de vida que vai além do prato: envolve saúde, sustentabilidade, ética animal e impacto ambiental. No Brasil, o movimento mostra sinais claros de crescimento. Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em março de 2025, a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), revelou que 7% da população brasileira já se considera vegana. Outro dado expressivo mostra que 74% das pessoas cogitam reduzir o consumo de carne em prol da saúde.
Segundo especialistas, quando bem planejada e acompanhada, uma alimentação vegana pode promover melhorias significativas na saúde geral, especialmente ao reduzir riscos de doenças crônicas comuns na atualidade.
Mateus Barbosa, nutrólogo do Hospital Anchieta e do Instituto Brasileiro de Nutrologia, destaca que dietas ricas em fibras, alimentos integrais e vegetais frescos demonstram impacto positivo em doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão e obesidade, além de reduzirem o colesterol. “Se bem executada, a alimentação vegana diminui o consumo de gordura saturada e aumenta os antioxidantes naturalmente presentes nos vegetais, reduzindo a inflamação e protegendo o organismo”, afirma o profissional.
Nutrientes presentes em frutas, verduras, oleaginosas e sementes são considerados marcadores de prevenção em estudos observacionais. Entre os principais compostos presentes estão polifenois, carotenoides, vitaminas e minerais.
Saúde e performance física
Outro destaque apontado pelo nutrólogo é a alteração positiva do intestino. Dietas baseadas em plantas são ricas em fibras fermentáveis, que servem de alimento para bactérias benéficas. Isso estimula a produção de ácidos graxos de cadeia curta importantes para a imunidade, a diminuição de inflamações e a manutenção da barreira intestinal. No entanto, cautela é necessária. “Algumas pessoas podem apresentar desconfortos gastrointestinais no início. Por isso, o acompanhamento nutricional é essencial para contornar sintomas temporários”, reforça Barbosa.
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Ao contrário do mito de que a ausência de carnes prejudica o desempenho, Barbosa afirma que dietas veganas podem ser totalmente compatíveis com treinos de alta performance. “Ela facilita o consumo de carboidratos complexos, essenciais para a energia, desde que acompanhada de suplementação de vitamina B12.”
A nutricionista Carla Bispo complementa que compostos antioxidantes presentes em vegetais reduzem o estresse oxidativo, acelerando a recuperação muscular. De acordo com a nutricionista, dietas vegetais possuem baixa densidade calórica e promovem saciedade. “O padrão alimentar reduz o colesterol total e LDL, melhorando o metabolismo lipídico e auxiliando a composição corporal.” As fibras solúveis, encontradas em cereais integrais e leguminosas, captam colesterol no intestino e impedem sua absorção.
Riscos, suplementação e atenção aos micronutrientes
Apesar dos benefícios, ambos os especialistas alertam que a transição exige planejamento profissional. Nutrientes que merecem atenção são: Vitamina B12 (suplementação obrigatória), vitamina D, ferro, zinco, cálcio, ômega 3 (EPA/DHA), com possibilidade de suplementação via algas. “O veganismo pode ser nutricionalmente seguro em todas as fases da vida, desde que monitorado com exames e orientação individualizada”, complementa Carla.
Pessoas com sobrepeso, diabetes, hipertensão, dislipidemia e doença renal crônica são os que se beneficiam ainda mais, podendo apresentar melhoras significativas ao adotar o padrão vegetal. Mulheres no climatério também podem ser favorecidas, por questões relacionadas a inflamações e saúde cardiovascular.
O cardiologista Tito Paladino, especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, reforça a importância dos vegetais para prevenção cardiovascular: “Dietas ricas em frutas, grãos integrais e leguminosas estão associadas a menores taxas de hipertensão, colesterol elevado e eventos cardíacos".
Entre os oito alimentos essenciais, ele destaca: linhaça, maçã, azeite de oliva extravirgem, leguminosas, aveia, frutos secos, frutos vermelhos e espinafre, pois são ricos em fibras, ácidos graxos bons, antioxidantes e nitratos naturais.
Transição consciente
Antes de iniciar o veganismo, a orientação é clara, é necessário realizar avaliação nutricional, ajustar doses de suplementos, monitorar exames, planejar combinações alimentares. Evitar excesso de fitatos e associar ferro vegetal à vitamina C são estratégias para melhorar a absorção.
Embora ainda envolva mitos, o veganismo se consolida como alternativa eficiente, ética e sustentável, segundo especialistas. Para Barbosa, o mais importante é não tratar a mudança de forma isolada. “Modificar a dieta de maneira profunda exige acompanhamento. Cada indivíduo tem necessidades específicas".
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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