Saúde

Caminhos alternativos até a gestação: reprodução assistida cresce no país

Reprodução assistida cresce no Brasil e movimenta o setor. Especialistas explicam diferenças entre inseminação artificial e fertilização in vitro, mitos comuns e impacto da idade no sucesso dos tratamentos

Brasil lidera o ranking em reprodução assistida da América Latina  -  (crédito: Freepik )
Brasil lidera o ranking em reprodução assistida da América Latina - (crédito: Freepik )

A busca por técnicas de reprodução assistida tem aumentado significativamente nos últimos anos, impulsionada por mudanças sociais, novas configurações familiares e o adiamento da maternidade. Segundo a ginecologista e especialista em reprodução humana Tatianna Ribeiro, as principais causas de procura incluem alterações de ovulação, baixa motilidade dos espermatozoides, infertilidade sem causa aparente e maternidade solo ou por casais homoafetivos. “Também observamos pacientes com dificuldade de o espermatozoide atravessar o muco cervical, o que reduz a chance de concepção espontânea”, explica. Dados publicados em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que uma em cada seis pessoas são afetadas pela infertilidade.

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A inseminação artificial costuma ser indicada quando a mulher apresenta ovulação irregular, boa reserva ovariana e trompas uterinas permeáveis, além de casos com alterações seminais leves. A ginecologista alerta que a idade é um dos fatores mais determinantes. “Após os 35 anos, existe queda acentuada na quantidade e na qualidade dos óvulos, aumentando o risco de anomalias cromossômicas e reduzindo o sucesso do tratamento”, afirma.

Nos casos de infertilidade masculina, alterações como baixa concentração, motilidade insuficiente e fragmentação elevada do DNA espermático podem comprometer a efetividade da técnica. Como os espermatozoides ainda precisam “nadar” até o encontro com o óvulo, parâmetros adequados são essenciais. Antes da indicação do procedimento, são solicitados exames hormonais, ecografia transvaginal, avaliação tubária e sorologias exigidas pela Anvisa, além do espermograma e testes prognósticos.

Embora minimamente invasiva, a inseminação apresenta risco de gestação múltipla quando há estímulo ovariano com mais de um folículo. Para reduzir esse índice, o ciclo pode ser cancelado ou convertido para fertilização in vitro. Entre os mitos comuns relatados pela especialista estão a confusão entre as duas técnicas e a ideia de que o procedimento garante gravidez na primeira tentativa. “As taxas ficam entre 10% e 15% por ciclo”, destaca.

O desgaste emocional também influencia o resultado. O estresse pode afetar hormônios e adesão ao tratamento, e, por isso, Tatianna recomenda acompanhamento psicológico. Avanços recentes na área incluem sistemas automatizados para preparo seminal, monitoramento ultrassonográfico auxiliado por inteligência artificial e protocolos personalizados, tornando o processo mais seguro e menos desconfortável. Na rede pública, o acesso ocorre via regulação e está disponível em poucos centros. Em Brasília, o Hospital Materno Infantil é o único que realiza fertilização in vitro gratuita.

O que você precisa saber

Avaliação médica

  • Avaliação abrangente da fertilidade (identificação da causa)
  • Exame de sangue
  • Exame de imagem
  • Espermograma
  • Avaliação genética 
  • Histórico de saúde 

Aspectos emocionais e financeiros

  • Aconselhamento psicológico (avaliação e suporte emocional são recomendados para lidar com ansiedade e possíveis frustrações) 
  • Custos e cobertura (os valores são elevados, e planos de saúde não cobrem certos procedimentos. É fundamental entender os aspectos financeiros antes de iniciar o processo)

 Reprodução assistida no Brasil

  • Setor deve crescer 23% ao ano até 2026
  • Mercado movimenta R$ 1,3 bilhão e pode ultrapassar R$ 3 bilhões

 Liderança regional

  • O Brasil concentra 40% dos centros especializados da América Latina
  • 83.681 partos por reprodução assistida foram realizados entre 1990 e 2016

Principais causas de procura

  • Idade avançada
  • Distúrbios ovulatórios
  • Obstrução das tubas uterinas
  • Endometriose
  • Problemas uterinos
  • Fatores genéticos
  • Infertilidade sem causa aparente (ISCA)

Escolhas de vida

Taxas de sucesso

  • Inseminação: 10% a 20% por ciclo
  • FIV abaixo dos 35 anos: até 45%
  • Taxa cai para menos de 5% após os 42

 Avanços tecnológicos

  • Inteligência artificial na seleção de embriões
  • Incubadoras inteligentes
  • Softwares de análise de gametas
  • Testes genéticos pré-implantacionais

 Regulamentação

  • Em 2015, o Conselho Regional de Medicina publicou que mulheres acima de 50 anos podem realizar reprodução assistida desde que seja acompanhada de profissionais.

 

Palavra do especialista

Qual é a diferença entre inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro (FIV)? Em quais casos cada técnica é indicada?

A inseminação artificial consiste na introdução dos espermatozoides diretamente no útero da mulher durante o período fértil, que pode ser natural ou estimulado com hormônios. Na IA, não há manipulação dos óvulos. Pode ser indicada em casos de infertilidade sem causa aparente, gravidez com sêmen de doador e parceiros com distúrbios ejaculatórios. Já a fertilização in vitro consiste na estimulação hormonal dos folículos dos ovários, na coleta dos óvulos e na fertilização com os espermatozoides em laboratório. Os embriões resultantes são transferidos para o interior da cavidade uterina da mulher, preferencialmente um por vez. É indicada em casos de infertilidade por obstrução das tubas uterinas, endometriose e alterações severas dos óvulos e espermatozoides.

Existem mitos que ainda confundem os pacientes?

Mitos ainda são existentes. Sempre ouvimos: "Se eu não engravidar, faço FIV", ou seja, há uma crença de que as técnicas de reprodução assistida são sempre uma solução rápida e eficaz. Apesar de toda a tecnologia existente até o momento, as chances de sucesso são em torno de 30% a 40%. Outra frase conhecida é: "As gestações resultantes de técnicas de reprodução assistida são múltiplas". Uma grande preocupação são as complicações da gravidez gemelar, principalmente a prematuridade. Por isso, na maioria dos casos, optamos por transferir apenas um embrião para o interior do útero da mulher. Homens também não escapam: "A saúde do homem não interfere nos resultados", a causa da infertilidade é masculina em 40% a 50% dos casos.

De que forma a tecnologia tem influenciado os resultados?

Como em todas as áreas do conhecimento, a tecnologia e a inteligência artificial estão presentes nos laboratórios de reprodução assistida influenciando positivamente os resultados. Incubadoras inteligentes, softwares avançados de análise de gametas e embriões e testes genéticos pré-implantacionais permitem uma seleção mais precisa de embriões, aumentando as chances de uma gestação bem-sucedida.

Natália Paes é médica ginecologista especialista em reprodução assistida da Maternidade Brasília


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postado em 16/11/2025 06:00
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