
Com a chegada do mês de novembro, eventos e conversas de conscientização sobre o câncer de próstata vêm à tona. O que muitos não sabem é que a doença também acomete animais, como cachorros e gatos. De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CRMV), a doença oncológica atinge cerca de 4% dos cães com mais de sete anos, número que pode chegar a 80% entre os não castrados. Já entre os felinos, o percentual é menor.
No Novembro Azul, mês mundial de campanha para prevenção da doença, Pedro Ximenes, veterinário, faz um alerta importante aos tutores. "Prevenir salva vidas e é o melhor tratamento. O check-up anual é o passo mais importante para evitar essas surpresas graves. Se todos pensassem assim, teríamos muitos finais felizes. O câncer de próstata em animais pede atenção desde cedo."
O profissional explica que a doença, silenciosa, pode ser letal se o responsável não agir rapidamente. Os sintomas envolvem dificuldade de urinar e evacuar, urina e fezes com sangue, dores abdominais, perda de apetite, emagrecimento repentino e, em casos mais graves, dificuldade para se locomover. "Os primeiros sinais costumam aparecer na hora de urinar ou evacuar, pois a próstata, quando carrega células cancerígenas, aumenta e pressiona as vias urinárias e intestinais", detalha.
Para diagnosticar a neoplasia, Pedro esclarece que o exame físico é o primeiro passo. "Dentro do consultório, começamos com o toque retal, a palpação." Após a avaliação, a ultrassonografia abdominal é solicitada. "Com essas imagens, a suspeita começa a ficar mais concreta." Para realizar o estadiamento tumoral, o animal também passa por uma radiografia. "Quando o resultado é disponibilizado, é pedida uma citologia ou uma biópsia para saber se esse nódulo é benigno ou maligno", finaliza.
Uma vez diagnosticados, os animais podem passar por tratamentos diferentes de acordo com a gravidade do tumor. "O câncer costuma ser muito agressivo nos animais, então a abordagem varia de paciente para paciente." A intervenção pode incluir cirurgia, quimioterapia após o resultado da histopatologia e medicamentos para ajudar com as dores e o controle da inflamação. "A medicação é essencial para garantir qualidade de vida", afirma.
Castração e prevenção
Quando perguntado sobre a castração e a relação com a redução do risco de câncer de próstata, Pedro detalha que a cirurgia evita vários problemas benignos na glândula, mas, quando se trata de câncer, a história é outra. "Nos cães, esse tipo de tumor não depende apenas dos hormônios para se desenvolver. Então, castrar o animal não elimina completamente o risco", explica.
Na verdade, de acordo com o veterinário, a castração facilita o acompanhamento ao longo da vida, pois reduz o risco de inflamações e o surgimento de tumores benignos, que podem confundir o diagnóstico. Além disso, o procedimento contribui para o controle populacional.
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Desestruturando o mito de que apenas a esterilização reprodutiva de machos é suficiente para prevenir a doença, o especialista lembra que, hoje em dia, a medicina avançou, e é possível evitar fatalidades de diferentes maneiras. "Os machos, castrados ou não, devem ser avaliados regularmente, ainda mais depois dos 7 anos. Fazer exames rotineiros é indispensável. O ideal é realizar um bom exame de sangue, avaliando as funções renais e hepáticas, e uma ultrassonografia abdominal para acompanhar todos os órgãos. Isso tudo ajuda muito na prevenção", conclui.
Obesidade e alimentação
Ainda pouco debatida nos consultórios veterinários, a obesidade causa impactos sérios e reais na saúde dos cães machos. Da mesma forma que acontece com os humanos, o sobrepeso provoca desequilíbrios hormonais e inflamações crônicas que podem afetar a função reprodutiva e favorecer o surgimento de doenças como a hiperplasia prostática e o câncer de próstata.
Gabriela Corte Real, nutricionista veterinária da foodtech A Quinta Pet, assegura que a alimentação tem papel direto na prevenção desses problemas. "O tecido adiposo funciona como um órgão endócrino ativo, produzindo substâncias inflamatórias que interferem na produção e no equilíbrio dos hormônios sexuais. Manter o peso ideal ajuda a preservar a testosterona e reduzir inflamações que impactam a próstata", explica.
De acordo com a especialista, uma dieta balanceada e a ingestão de ingredientes frescos favorecem a absorção de proteínas e gorduras de qualidade, além de reduzir o consumo de carboidratos simples, evitando a alta carga de amido, conservantes e subprodutos presentes em muitas dietas industrializadas.
A profissional também destaca a atuação de outros componentes, como ômega-3, fibras funcionais, antioxidantes, zinco e selênio, nutrientes presentes na alimentação natural e que possuem efeito anti-inflamatório, auxiliam na regulação do eixo endócrino e na prevenção de distúrbios reprodutivos.
"Essa mudança na alimentação favorece o controle do metabolismo energético, a produção equilibrada de hormônios sexuais, a redução da inflamação sistêmica e, consequentemente, diminui o risco de distúrbios endócrinos e reprodutivos, além de contribuir para a manutenção do peso corporal", relata.
Superação
Foi por meio de cuidados clínicos rotineiros que Sueli Aparecida Rodrigues, tutora do beagle Simba, cão idoso, descobriu o câncer de próstata no pet. "Durante uma consulta, Simba foi submetido a um ultrassom de abdome que revelou uma alteração na glândula." Após a avaliação, o animal passou pelo centro cirúrgico e logo iniciou a quimioterapia.
Em meio ao medo e aos altos custos com o tratamento, Simba contou com muito amor da família, dos amigos e dos profissionais responsáveis pelo cuidado durante a recuperação. "Fomos acolhidos de uma maneira especial. A cura dele também está associada ao cuidado que recebemos."
Em 12 de novembro deste ano, o beagle passou por sua última sessão de quimioterapia. Com bravura e coragem, Simba se manteve forte durante o tratamento e não apresentou enjoos, queda de pelo ou perda de apetite. Segundo Sueli, ele continuou com uma "fome de leão". Essa história de superação, segundo a tutora, é importante para que outras pessoas não desistam diante do medo e das dificuldades.
Dieta equilibrada
Nutrientes e grupos de alimentos que merecem destaque na prevenção da obesidade e de doenças hormonais:
- Ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA) — Efeito anti-inflamatório e regulador do eixo endócrino
- Fibras funcionais (psyllium, abóbora, cenoura) — Aumentam saciedade e reduzem picos glicêmicos
- Proteínas magras (peixe, frango, carne vermelha magra, ovos) — Mantêm massa magra e metabolismo ativo
- Antioxidantes naturais (mirtilo, cúrcuma, espinafre) — Combatem o estresse oxidativo hormonal
- Zinco e selênio — Essenciais para síntese de hormônios sexuais e defesa antioxidante
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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