
O silêncio habitual na Vila Vicentina, casa de acolhimento para idosos em Mogi Mirim (Salto de Pirapora, interior de São Paulo), é interrompido quando dois labradores aparecem para alegrar os residentes: os pet terapeutas Lua e Shurastey. A dupla de cães integra uma iniciativa voltada a oferecer conforto emocional a idosos e pacientes em tratamento, a Pet Terapia.
Há um ano e meio, Lua e Shurastey deixaram a rotina comum de animais domésticos para atuar em hospitais, instituições de longa permanência e centros de reabilitação. A proposta é presença, afeto e interação, mas os efeitos são expressivos, segundo profissionais. "É impressionante ver como o ambiente muda quando eles chegam, os idosos relaxam, ficam felizes", afirma Thaís Solidário, psicóloga da Vila Vicentina.
A Pet Terapia, ou Terapia Assistida por Animais (TAA), tem respaldo científico. Pesquisas apontam que o contato com cães contribui para reduzir ansiedade e pressão arterial, melhorar o humor, estimular fala e movimentos, além de favorecer a recuperação emocional de pacientes hospitalizados.
Segundo a psicóloga, a visita se torna o assunto do momento entre os idosos, que ficam mais calmos, alegres, ativos e receptivos à medicação após a interação. "Eles conversam durante toda a semana que recebem os cães e se esforçam para lembrar o nome deles, já que muitos internos têm problemas de memória", descreve Thaís. "Isso também afeta o físico, pois é o estresse que mais impacta na pressão arterial, e quando têm um assunto a gente usa para trabalhar o cognitivo também. Só quem está perto para entender a diferença que essas visitas fazem."
Responsável pelos cães junto do marido, Larissa Aquino relata que a motivação também envolve uma experiência pessoal. "É muito gratificante poder proporcionar isso para quem está sofrendo. E os dois também parecem entender o que estão fazendo", diz. Lua chegou durante o luto pela morte da mãe de Larissa. "A Lua me ajudou muito na recuperação e pensei que aquilo não poderia ficar só para mim. Foi quando eu e meu esposo resolvemos procurar o Instituto Adimax, e fazer a inscrição no programa", conta.
Para a tutora, o amor e carinho incondicional dado por Lua foi imprenscindível em seu processo. "Eu fiquei tão grata que pensei que outras pessoas que estivessem passando por um momento difícil também poderiam ser ajudadas por ela", emociona-se. "Cada visita é uma forma de manter esse amor da minha mãe vivo em mim e agradecer."
O Pet Terapia está presente hoje em nove estados brasileiros, ampliando o acesso a ações de apoio emocional. "Esses são animais dóceis, que demonstram prazer em interagir e em trazer conforto às pessoas. O objetivo do programa é promover essa relação de troca entre o ser humano e o cão. É por meio dessa conexão que, ao longo dos anos, temos conseguido oferecer acolhimento e bem-estar a pessoas em situação de vulnerabilidade", afirma Caroline Martelli, responsável pela iniciativa no Instituto Adimax.
Selecionar os cães aptos a atuar como terapeutas em hospitais e instituições é um processo iniciado com uma boa conversa. "Precisamos não apenas avaliar a saúde do cão, em relação às vacinas e doenças, mas também o comportamento", narra Caroline. "O fundamental é que o cão se sinta feliz ao oferecer esse suporte; nunca deve ser uma obrigação, mas um momento de prazer para ele."
Não é exigido que o animal seja adestrado — se for, é algo positivo, destaca Caroline —, mas que tenha bom comportamento e se sinta bem. "A qualquer indício de desconforto a visita é interrompida, e o cão afastado até entendermos o que está acontecendo. Apenas um cão feliz é capaz de ajudar", reforça.
Para aprimorar o serviço, o Instituto Adimax realizou recentemente um treinamento com o Programa Alice Terapia Assistida Educacional (PATAE), a primeira Academia da América Latina dedicada à formação científica e ética em Serviços Assistidos por Animais. Assim, Caroline enfatiza que a estratégia de atuação dos animais continua se expandindo e contribuindo para a melhoria de grupos vulneráveis.
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