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A Secretaria de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF) promete tomar providências para que a população da zona rural do Distrito Federal tenha acesso a transporte público mais perto de casa. Em entrevista ao Correio, o secretário Valter Casimiro diz que, nos muitos anos, permissionários desistiram de atender essas linhas por falta de interesse comercial.

Para resolver a situação, a pasta elaborou um edital para a contratação de novas linhas rurais e que prevê uma mudança no modelo tarifário — em vez de a empresa ser remunerada apenas pela passagem paga por cada pessoa, será adotada a tarifa técnica, em que o governo subsidia as linhas que não transportam um grande número de passageiros.

"Estamos preparando uma nova licitação nos moldes das tarifas técnicas para que possa ser atendida toda a população rural, mesmo que não tenha tanta demanda", anuncia. "Onde tem a necessidade de ônibus para a zona rural, vamos colocar linhas, independentemente de ser economicamente viável ou não", promete. Leia a seguir a entrevista.

 

Melhoria ''em três ou quatro meses''

Quais são as maiores dificuldades para a implementação de ônibus nas zonas rurais do DF?

O principal problema é a falta da tarifa técnica. O sistema de transporte coletivo urbano de Brasília passou a ser paga dessa forma, mas não houve a implementação no transporte rural. No caso urbano, nos ônibus que carregam poucos passageiros, mas são necessários, o governo subsidia um valor para que as empresas continuem atendendo aquelas áreas. Na zona rural, ele ainda é financiado pela tarifa usuário, e muitos permissionários desistiram de fazer essas linhas por falta de interesse comercial, deixando muitas áreas desassistidas.


Há previsão para levar a tarifa técnica para as linhas rurais?

Estamos preparando uma nova licitação nos moldes das tarifas técnicas para que toda a população rural possa ser atendida. O governo entende que precisa atender a essas áreas. Tem muito estudante que precisa ter esse transporte, também tem no período noturno. Lançaremos nas próximas semanas um edital para a contratação de novas linhas rurais utilizando a metodologia. Onde há necessidade de ônibus para a zona rural, vamos colocar linhas, independentemente de ser economicamente viável ou não. A licitação tem várias fases, e acredito que, em três ou quatro meses, poderemos melhorar esse transporte.

 

De março para julho deste ano, o número de linhas rurais diminuiu de 36 para 30. E a redução de veículos foi 69 para 49. Por que isso acontece?

Essa renovação já estava prevista nos contratos. Foram feitos contratos de 10 anos, e aqueles permissionários que atendiam a todo o requisito legal foram prorrogados. Aqueles que não atendiam foram cancelados. O que foi possível passar para outros operadores, fizemos. Mas, o que não foi possível, estamos licitando.

 

Quais são os maiores desafios do transporte no Distrito Federal?

Brasília tem uma característica diferente das demais capitais, porque praticamente toda a atividade empresarial, comercial, governamental fica concentrada em um único ponto, que é o Plano Piloto. Muitas regiões administrativas são só dormitórios. O usuário pega o ônibus de manhã e vem para o centro. Você tem uma grande quantidade de ônibus indo para o Plano na parte da manhã e, depois, no sentido contrário (no fim do dia). Nesse meio período, esses ônibus não circulam porque não há demanda. O ideal é que tivéssemos linhas locais funcionando com toda a estrutura já disponível, BRT, metrô... Se tivéssemos esses outros modais funcionando, poderíamos distribuir ônibus nas cidades com maior frequência, dando conforto ao usuário, que não pegaria ônibus lotado concorrendo na pista com veículos de passeio. A integração melhora todo o sistema de transporte.

 

Como implementar a integração?

A parceria com o metrô é uma das medidas. Precisamos aumentar a frequência e dobrar a quantidade de trens operando em horários de pico para melhorar a integração entre BRT, metrô e transporte coletivo. Falando assim, parece simples, mas depende de obras de infraestrutura, melhora do sistema de controle e, principalmente, do controle de segurança.

 

A integração ajudaria as pessoas da área rural?

Não só o pessoal do campo, mas do Entorno também. Isso a gente tem discutido com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), para que possamos utilizar corredores exclusivos, integração com o Entorno etc.

 

E de que forma a extinção do DFTrans, feita pelo governador Ibaneis Rocha, pode impactar nessa questão?

O DFTrans tinha um corpo técnico qualificado, que passa a ser da Semob-DF. Os técnicos vão continuar fazendo todo o controle de linhas, horários do transporte coletivo e disponibilização de ônibus. A principal mudança é no sistema de bilhetagem, que vai para o BRB. A nossa visão de passar para uma instituição financeira é de que ela tem know-how para fazer o sistema de bilhetagens.