Ela consiste no trabalho dos práticos, que são profissionais altamente especializados responsáveis por orientar o comandante de navios durante manobras de entrada, saída e tráfego em áreas restritas, como portos, canais, rios e barras.
Em regiões onde o calado é limitado, a correnteza é forte, há bancos de areia, grande movimentação de embarcações ou condições meteorológicas adversas, o papel do prático se torna decisivo para evitar acidentes e garantir a fluidez das operações marítimas.
Desde o início de 2024, é uma atividade regulada por legislação específica no Brasil. Ela é considerada essencial à segurança nacional, dada a importância econômica dos portos para o país.
Para exercer a profissão, o prático passa por um rígido processo de seleção e formação. No Brasil, a Marinha é responsável por fiscalizar a atividade.
Após aprovado, o candidato entra em um longo período de treinamento prático, que pode durar de um a três anos, durante o qual acompanha manobras reais, estuda profundamente as características locais e realiza avaliações constantes.
Essa etapa é crucial, pois o conhecimento exigido vai muito além das técnicas. Ele envolve leitura de cartas náuticas, interpretação de correntes e marés, domínio da meteorologia, manuseio de rebocadores e, sobretudo, familiaridade absoluta com cada detalhe da área onde atuará.
No cotidiano, o trabalho do prático começa antes mesmo de pisar no navio. Ele acompanha boletins meteorológicos, informações de calado, avisos de marinha e dados atualizados sobre o tráfego marítimo.
Embora o comando da embarcação permaneça oficialmente com o capitão, o prático funciona como especialista local, calculando cada ajuste de velocidade, ângulo de giro e posicionamento.
Em navios de grande porte, como porta-contêineres e graneleiros, essa função é ainda mais sensível, já que poucos metros determinam a segurança de toda a operação. Em muitos casos, a manobra envolve coordenação intensa com rebocadores, operadores de terminal, autoridades portuárias e centros de controle de tráfego marítimo.
A praticagem também desempenha papel econômico fundamental. Portos eficientes dependem de manobras rápidas e seguras para evitar filas de navios e atrasos de carga, que podem gerar prejuízos milionários.
O prático, ao garantir previsibilidade e segurança, contribui diretamente para a competitividade do comércio exterior brasileiro.
Além disso, em situações extremas, como pane de máquinas, quebra de leme, mau tempo súbito ou derramamento de óleo, cabe ao prático orientar as ações emergenciais e minimizar riscos ao meio ambiente e às comunidades costeiras.
Por essa razão, a atividade é reconhecida internacionalmente como serviço de interesse público, indispensável para o funcionamento do setor marítimo.
Apesar de altamente técnica, a praticagem segue sendo uma profissão de forte componente humano.
Cada manobra é única e exige raciocínio rápido, experiência acumulada e sensibilidade para interpretar variáveis que nem sempre estão nos instrumentos.
Práticos costumam descrever o ofício como uma combinação de ciência, arte e prudência: ciência pelo domínio técnico, arte pela habilidade em conduzir embarcações gigantes em espaços reduzidos e prudência porque qualquer erro pode comprometer vidas, o meio ambiente e a economia.
Em um país como o Brasil, com mais de 8 mil quilômetros de litoral e dezenas de portos estratégicos, a praticagem permanece como elo essencial entre as grandes rotas marítimas e a vida cotidiana que depende das cargas transportadas pelos navios.