investigação

À PF, membro do "gabinete do ódio" diz que não sabia nada sobre golpe

Ao prestar depoimento sobre a articulação do golpe por Bolsonaro, Tercio Arnaud repetiu várias vezes aos agentes que não tinha conhecimento, não se lembrava ou não tinha capacidade para responder à indagação

Tércio com Bolsonaro nos tempos da corrida presidencial. Assessor se esquivou das perguntas dos agentes ao nada responder -  (crédito: Reprodução)
Tércio com Bolsonaro nos tempos da corrida presidencial. Assessor se esquivou das perguntas dos agentes ao nada responder - (crédito: Reprodução)
postado em 19/03/2024 03:55

Ex-assessor especial de Jair Bolsonaro em todo mandato do ex-presidente, Tercio Arnaud está entre os investigados no inquérito que apura a tentativa de golpe no país. Em seu depoimento à Polícia Federal (PF), em 22 de fevereiro, o auxiliar do ex-presidente não optou pelo silêncio, caso de seu antigo chefe, e nem fez revelações importantes, como os ex-comandantes Carlos Almeida Baptista Jr. e Marco Antônio Freire Gomes. Arnaud decidiu responder, mas deixou a grande maioria das perguntas da oitiva sem esclarecimento. Nesse dia, a PF ouviu 27 depoentes.

Dos 157 questionamentos feitos pela PF ao assessor, a maior parte teve como resposta: "não se recorda", "não se lembra", "não sabe responder a essa pergunta", "não sabe opinar"  ou "prefere não responder". Arnaud, hoje, é assessor técnico do PL e acompanha o ex-presidente. Mesmo depois da eleição, em 2022, ele permaneceu ao lado de Bolsonaro também no Palácio da Alvorada, onde aconteceram as reuniões com os militares e se discutiu a minuta de um golpe de Estado que impedisse a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Tércio disse à PF que "muitas pessoas frequentavam o Palácio da Alvorada entre o primeiro turno até o último dia da Presidência da República, e muitas pessoas passavam o dia no Alvorada na espera de conversar com o ex-presidente". E que, por essa razão, tinha sempre que "estar à disposição do ex-presidente".

Mesmo tanto tempo ao lado de Bolsonaro, Arnaud não se lembrou de várias passagens. Questionado se participou da reunião no Planalto de 5 de julho de 2022, na qual foi discutida uma maneira de impedir a vitória de Lula, ele respondeu que "não se recorda especificamente dessa reunião".

Urnas eletrônicas

Arnaud evitou dar uma resposta até mesmo à pergunta que, se assim como Bolsonaro, concorda que houve fraude nas urnas eletrônicas. Preferiu seguir orientação de seu advogado e optou por não responder.

O assessor foi indagado também por qual motivo recebeu um documento do tenente-coronel do Exército Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), que tratava do Relatório de Fiscalização de Votação. Arnaud respondeu não se recordar de receber esse documento. Nesse momento, seu advogado intercedeu e pediu para consignar que o teor dessa resposta podia ser alterado, "dada a ausência de acesso a todos os documentos que instruem a investigação".

Essa intervenção do advogado se deu em outras perguntas feitas pela PF, como na sequência na qual Arnaud é inquerido sobre participação numa reunião de 12 de novembro de 2022, num apartamento na Asa Sul, no Plano Piloto, em Brasília, com militares, onde teria sido discutido o golpe de Estado. Foram 20 perguntas, com o mesmo número de respostas "não se recorda" de ter participado do encontro e, também, duas dezenas de manifestações do advogado.

Arnaud estava no Alvorada na reunião de 7 de dezembro de 2022, quando a minuta do golpe foi apresentada por Filipe Martins (então assessor da Presidência da República para assuntos internacionais) a Bolsonaro, na frente do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. Os registros de presença no Alvorada mostram que Arnaud esteve no palácio das 7h26 até as 20h49 naquele dia.

Ainda que tenha passado o dia inteiro nesse encontro, Arnaud deu a mesma resposta a várias perguntas sobre o conteúdo da reunião, na qual foi discutida uma minuta golpista: "O declarante não participou dessa reunião e desconhece seu teor".

Foi nesse encontro que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, colocou suas tropas à disposição do golpe e que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, discordou e alertou ao presidente sobre o risco dessa ação.

Tercio integrou o chamado "gabinete do ódio" do Palácio do Planalto e sempre foi muito ligado a Carlos Bolsonaro, vereador no Rio e filho do ex-presidente.

Senador ataca general e brigadeiro

Ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) criticou os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, que colocaram Bolsonaro como condutor de um conspiração. Afirmou que os depoimentos dos militares indicam conduta "criminosa". "Está absolutamente provado que há um criminoso inconteste. Ou o criminoso que cometeu prevaricação ao não denunciar ao país o 'golpe' ou o caluniador que o denuncia hoje, não tendo ocorrido (o golpe)", escreveu
no X (antigo Twitter).

 

 

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