PANDEMIA

Bebês, crianças e adolescentes: o que se sabe sobre a vacina contra covid-19

Casos graves e fatais de covid nessa faixa etária são menores se comparados a adultos, mas não menos preocupantes. Diversos laboratórios iniciaram teste da vacina contra covid nesse público

Lorena Pacheco
postado em 17/07/2021 10:00 / atualizado em 17/07/2021 21:46
 (crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)
(crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Durante a pandemia de covid-19, diversos mitos a respeito da doença foram desfeitos à medida que pesquisas e evidências científicas avançaram. Alguns deles dizem respeito à infecção -- e, consequentemente, à necessidade de vacinação -- de bebês, crianças e adolescentes.

Os números de casos graves e fatais em menores de 18 anos ainda são considerados baixos em comparação a outras idades, mas isso não significa que não sejam preocupantes. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre fevereiro de 2020 e 15 de março de 2021, ao menos 852 crianças de até 9 anos morreram vítimas da doenças. Entre elas, 518 bebês menores de 1 ano.

Farmacêuticas fabricantes de vacinas e planos de imunização de governos começam a voltar as atenções para esse público. Em contrapartida, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu, em maio deste ano, que os países ricos, que detêm mais doses e por isso estão avançados na campanha de imunização, adiem seus planos de imunizar crianças para doar as vacinas ao restante de adultos do mundo.

Em junho, Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, disse que crianças com comorbidades podem ser priorizadas quando houver doses disponíveis. Mas as demais devem estar num grupo de menor prioridade. Entenda quais estudos e testes estão em andamento com foco nesse público.

Vacinas autorizadas e em teste para crianças e adolescentes

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em junho, a extensão do uso da vacina da Pfizer, em parceria com o laboratório BioNTech, em crianças e adolescentes acima de 12 anos no Brasil, após o laboratório começar a testagem na faixa etária em março deste ano. Até o momento, somente a farmacêutica solicitou a inclusão em bula da indicação no país.

“A competência para solicitar a inclusão de novas indicações na bula é do laboratório e a solicitação deve ser fundamentada em estudos que sustentem a indicação pretendida, tanto em relação aos aspectos de segurança como de eficácia. Já a decisão sobre o registro e alterações pós-registro de uma vacina ou medicamento é da área técnica. Para as vacinas em uso emergencial, essa decisão é da diretoria colegiada,” informou a reguladora. 

O Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, órgão semelhante à Anvisa no Brasil; a Agência Europeia de Medicamentos (EMA); e os Emirados Árabes Unidos também foram a favor de oferecer a vacina para maiores de 12 anos. Assim como Canadá, Chile, Israel, Japão, Cingapura, Hong Kong e Filipinas.

Em outros países, a Pfizer está indo mais longe ao anunciar avanço nos testes do imunizante em crianças de 5 a 11 anos, da fase um para a dois, em um total de três etapas. Em crianças de 6 meses a 5 anos, as tentativas já estão na primeira fase.

Em março, a Moderna também anunciou o início dos testes da sua vacina em bebês de 6 meses a crianças de 11 anos, nos Estados Unidos e Canadá. A Janssen também começou os estudos na mesma época, para a faixa etária de 12 a 17 anos, no Reino Unido e Espanha. Em fevereiro, Hanneke Schuitemaker, chefe da Janssen Vaccines & Prevention, chegou a afirmar que, se tudo correr bem, os testes podem incluir até mesmo recém-nascidos.

A Oxford/Astrazeneca também começou testes com crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, mas os estudos foram pausados no Reino Unido após relatos de coágulo sanguíneo em adultos.

O país que está mais avançado nesse quesito é a China, que já autorizou o uso emergencial da Coronavac, produzida pelo laboratório Sinovac, em crianças acima de 3 anos. Estudo divulgado em junho apontou, inclusive, que a resposta imunológica nas crianças e adolescentes vacinadas com a Coronavac, com duas doses e intervalo de 28 dias, é maior do que em adultos e idosos.

"SAIBA MAIS: As vacinas da Moderna e da Pfizer usam a tecnologia de RNA mensageiro para induzir a formação de anticorpos. A Coronavac, por sua vez, utiliza o cultivo do vírus em laboratório, que depois é inativado. Já a Janssen e a Astrazeneca se baseiam na tecnologia do vetor viral não replicante. "

Próximos passos

É importante frisar que ter autorização não significa que a aplicação nessas idades esteja de fato sendo feita. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Saúde informou que a ampliação da vacinação para adolescentes menores de 18 anos permanece em análise na Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis. “A pasta reforça aos estados e municípios que, neste momento, a recomendação do Ministério da Saúde é vacinar todos os grupos prioritários definidos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, com as duas doses, e, gradativamente, a população acima de 18 anos,” declarou à reportagem.

Mesmo assim, São Luís (MA) já começou a campanha de imunização como a primeira capital brasileira a vacinar esse público. Na última terça-feira (13/7), teve início a vacinação de jovens de 17 anos sem comorbidades. No dia seguinte, foi a vez de adolescentes de 16 anos serem contemplados. O governo de São Paulo também anunciou que a vacinação de 12 a 17 anos terá início em 23 de agosto.

Diante da iniciativa dos estados, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou, em audiência na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (14/7), que discorda da forma como as cidades têm feito mudanças nas orientações do Programa Nacional de Imunização (PNI). O ministro ainda afirmou que não há evidência sólida em relação à vacinação desse grupo, mas que o tema será discutido na próxima reunião do PNI (ainda sem data marcada). “Se for incluído pelo PNI, essa decisão deve ser capilarizada para o Brasil inteiro”, disse.

Mais tarde, no entanto, ainda na audiência pública, o ministro da Saúde afirmou que acredita em uma "decisão positiva". "Há um respaldo científico para que se incluam aqueles com comorbidades dentro do PNI", disse, sem mencionar se os adolescentes sem comorbidades devem ser incluídos também.

No Distrito Federal, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, afirmou, em coletiva nesta semana, que não há previsão de vacina para menores de 18 anos e que a decisão da faixa etária imunizada é do governo federal. “Toda a questão da idade vem carimbada pelo Ministério da Saúde, aí fazemos a divulgação e vacinação conforme disponibilidade dos imunizantes.” 

Okumoto ainda revelou que a taxa de ocupação de leitos pediátricos para covid aumentou no fim de semana passado, ficando em 60%. "Com a diminuição dos casos em adultos, estamos fazendo a transição de leitos de covid para não covid, com essa exceção dos leitos pediátricos, que vamos manter", destacou. 

Diante da perspectiva de entrega de novas remessas de vacina, o governador do DF em exercício, Rafael Prudente (MDB) afirmou, na sexta-feira (16/7), no Palácio do Buriti, que todos os brasilienses com mais de 18 anos devem estar vacinados com pelo menos a primeira dose até setembro, e mais da metade vacinadas com a segunda dose.

Investigação nos Estados Unidos

Um caso em especial está intrigando o mundo. Em junho, após três dias de ter recebido a segunda dose da vacina da Pfizer, uma criança de 13 anos morreu enquanto dormia, em Michigan, nos Estados Unidos. Uma investigação foi aberta pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), segundo o Daily Mail.

A tia do menino disse que ele era saudável e que apresentou fadiga e febre como reação imediata, que são consideradas normais. Dois dias após ter se vacinado, porém, ele se queixou de dor de estômago e foi dormir, quando veio a óbito. Mesmo depois de feita a autópsia, a causa oficial da morte ainda está indeterminada e a investigação pode durar meses. O que se sabe é que o coração estava dilatado e havia fluido ao redor.

Há ainda relatos no Brasil de aplicação de dose contra covid por engano em menores de 18 anos. Como ocorreu em Itirapina, interior de São Paulo, em abril. Mais de 20 crianças que deveriam ter sido imunizadas contra a gripe acabaram recebendo uma dose da Coronavac.

Uma técnica de enfermagem se confundiu ao separar a caixa contendo os frascos. Segundo a BBC, ela foi afastada de suas funções e a prefeitura está apurando a falha, além de ter disponibilizado uma equipe médica para acompanhar as crianças. Após denúncia dos familiares, a polícia também apura o ocorrido. Nenhuma reação anormal foi registrada.

Sintomas de covid-19 em crianças 

Segundo a Fiocruz, sintomas de covid em crianças incluem febre, diarreia, náusea, vômito, respiração rápida, dor de cabeça, dor abdominal e torácica e perda do olfato ou paladar.

O Royal College of Paediatrics and Child Health, a associação de médicos pediatras do Reino Unido, aconselha os pais a procurarem ajuda urgente, inclusive chamando ambulância, se a criança:

  • Apresentar aparência pálida, manchas e estiver fria ao toque;
  • Tiver pausas na respiração (apneias), um padrão respiratório irregular ou começar a emitir sons de grunhidos;
  • Tiver dificuldade para respirar, ficando agitada ou sem responder aos estímulos;
  • Apresentar coloração azulada na boca;
  • Tiver espasmos ou convulsões;
  • Ficar extremamente angustiada (chorar sem parar apesar de tentativas de distração), confusa, muito letárgica (com dificuldade de acordar) ou sem resposta;
  • Desenvolver uma erupção cutânea que não desaparece com a pressão;
  • Tiver dor nos testículos, especialmente em meninos adolescentes.

Algumas crianças ainda podem desenvolver a Síndrome Inflamatória Multissistêmica cerca de um mês após contato com o coronavírus, o que inclui manchas e erupções na pele, cansaço excessivo, batimentos cardíacos acelerados, conjuntivite ou olhos avermelhados, lábios, língua, mãos ou pés inchados, pressão baixa, dor de cabeça e tontura, além de febre persistente, vômito, diarreia e dor no estômago.

Palavra de especialista 

Para Alexandre Nikolay, coordenador de Pediatria do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, ainda não é o momento para começar a vacinar esse público. “Acredito que assim que tenhamos vacinada a maioria dos adultos, acima de 18 anos, podemos pensar em vacinar as crianças e os adolescentes.” Segundo o especialista, a covid se manifesta diferente neles em relação aos adultos, já que o coronavírus se apresenta principalmente na forma assintomática ou oligossintomatica (com poucos ou leves sintomas). “Raros casos evoluirão para a forma grave", afirma.

Mesmo assim, o especialista concorda que existe um grupo de crianças e adolescentes que têm mais risco e merecem maior atenção das políticas públicas. “Acho que as crianças e adolescentes com comorbidades realmente têm um risco maior de morte se contraírem covid-19. As que estão em vulnerabilidade social têm um risco aumentado devido à dificuldade em manter o distanciamento social e os protocolos de higiene recomendados.” 

Questionado sobre a teoria de que, devido à falta de imunização, as crianças se tornariam reservatórios pelos quais o vírus poderia voltar a atacar a população, Nikolay foi categórico ao afirmar que, na realidade, qualquer indivíduo não vacinado pode propagar a doença desde que infectado. "Não é uma característica única das crianças e adolescentes."

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