A massa de ar que tem provocado dias mais frios desde a última semana deve atingir até o norte do Brasil, e com rapidez, segundo especialistas. O avanço se dá em razão da tempestade subtropical Yakecan, que se formou no sul do continente no fim da primeira quinzena do mês. Na última terça-feira (17/5), um homem de 51 anos morreu no Rio Grande do Sul, vítima dos ventos que viraram o barco em que ele estava. O fenômeno também deixou 226 mil famílias sem luz no estado, de acordo com a companhia elétrica local, e derrubou árvores e caminhões em Santa Catarina.
O Yakecan começou como um ciclone extratropical, em 12 de maio. Três dias depois, ele já se posicionava ao sul do Uruguai, influenciando o Rio Grande do Sul e, durante o fim de semana, se moveu para a costa sul brasileira, tomando mais intensidade. O nome tem origem tupi-guarani — "o som do céu" — e é o 15º de uma lista elaborada pela Marinha do Brasil, organizada em ordem alfabética.
O professor Francisco Eliseu Aquino, climatologista do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a retaguarda do ciclone era acompanhada de uma área de alta pressão, e que os dois fatores contribuíram para a velocidade, e força da onda de frio.
“A formação desse ciclone está plenamente coerente com o que a gente costuma ver nessa época do ano. A intensificação dele fez ele ganhar destaque, porque virou uma tempestade subtropical Yakecan. Isso significa que esse ciclone extratropical, quando fica isolado do ar frio da Antártica e mais em contato com água e ar tropical, pode ganhar intensidade e se transformar numa tempestade subtropical”, esclarece.
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A ocorrência dos ventos fortes não é incomum para o mês de maio, considerando o observado ao longo dos últimos 60 anos, mas se tornaram mais frequentes desde 2011, conforme aponta o meteorologista do CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), Giovanni Dolif. O fenômeno deve gerar ressacas marítimas e ondas elevadas e se mover em direção ao litoral de São Paulo a partir desta quarta-feira (18/5), embora provavelmente mais fraco.
“O que aconteceu dessa vez é que esse inicialmente ciclone extratropical teve um comportamento atípico. Normalmente eles se formam perto da costa e vão se afastando para o meio do oceano, mas esse ficou parado um tempo próximo da costa e depois voltou em direção ao continente — um movimento contrário ao que geralmente acontece”, pontuou Dolif.
“Com essa movimentação diferente, esse ciclone parado no mesmo lugar, as massas de ar frio e quente foram se misturando, e essa diferença de temperatura de um lado do ciclone pro outro começou a diminuir. Nesse momento ele perde as características extratropicais e ganha o nome de transição subtropical. E aí tem a questão da velocidade dos ventos, que leva à classificação como tempestade”.
Até o início da semana, existia a possibilidade de o Yakecan ganhar força e passar a ser considerado uma tempestade tropical – um nível abaixo de furacão. No entanto, a previsão não é mais presente nos boletins da Marinha, já que a tendência é de que o fenômeno perca força nos próximos dias.
* Estagiária sob supervisão de Vicente Nunes
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