"MARSHA TRANS"

 Mães de pessoas trans defendem o acolhimento familiar e políticas públicas

Uma multidão se formou em frente ao Congresso Nacional, neste domingo (28/1), para a primeira edição da Marsha Trans Brasil

Concentrada em frente ao Congresso Nacional, a primeira edição da Marsha Trans Brasil ocorre neste domingo (28/1), em Brasília, com o intuito de celebrar os 20 anos do Dia da Visibilidade Trans, em dia 29 de janeiro. A passeata é uma iniciativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e seguirá ao Museu Nacional da República a partir das 17h.

Em relato ao Correio, mães de pessoas trans defendem acolhimento familiar. Presente no ato, Patrícia Moriale Natale, 52 anos, de Maringá (PR), é mãe de um casal de pessoas trans.

"Sou uma mãe da resistência. Sou mãe de dois filhos trans. Está mais do que na hora deles serem vistos pela sociedade. São pessoas que merecem respeito, dignidade e a gente está lutando por várias políticas públicas para eles. Esse ato é importante para mostrar para a sociedade que são apenas filhos, que não querem fazer mal a ninguém, só querem ser quem eles são. Pedir pelo respeito, acolhimento e amor", ressaltou.

Brasília recebe a "1ª Marsha Trans do Brasil" no domingo (28/1)

Ela contou que a filha se identificou como mulher trans aos 16 anos. Já o filho se identificou como homem trans há um ano e meio. Patrícia relata que buscou informações para apoiar os filhos. Ela integra o coletivo "Mães da Resistência".

"Procurei ajuda de outras mães, procurei ler e estudar esse processo para acolher meus filhos. Somos um grupo de mães, pais e familiares e o grupo está presente em 16 estados e no DF para acolher mães que possam aceitar seus filhos em casa. Se já acolhidos passam por preconceito, imagina um filho que não é acolhido e colocado na rua. Acolhimento da família é muito importante". 

Já a filha de Patrícia, Leonna Moriale, 21 anos, veio de Maringá (PR) para prestigiar a marcha. Mulher trans, ela é vice-presidente do PDT Diversidade do Paraná e se candidatará ao cargo de vereadora nas eleições municipais de 2024.

"A Marsha é um grande marco para nós, principalmente sendo a primeira marcha trans a nível nacional. É um momento de reivindicar os nossos direitos. Primeiro, atuava como uma drag queen. Quando consegui diferenciar arte e gênero consegui me assumir como uma mulher trans e fui acolhida pela família. Foi difícil no início, mas o amor superou todas as barreiras. Isso me proporcionou acesso a uma educação de qualidade, trabalho justo não estando exposta a uma série de violências. É um privilégio que me possibilita lutar por todas as outras. Precisamos desmistificar a existência das pessoas trans. Não somos doença, não somos piada".

De Campinas, Thamirys Nunes, 34 anos, mãe de uma filha trans de 8 anos, desembarcou em Brasília para participar da marcha.

"É uma marcha de visibilidade, de uma população que existe e que o governo precisa pensar em política séria para proteger, dar acesso a saúde e educação com dignidade. A ONG veio somar esforços para fazer esse grito, para mostrar que existimos, que nosso filhos e filhas existem e esse estado democrático de direito precisa nos cuidar".

Ela é presidente da ONG "Minha Criança Trans", que trabalha com famílias que reconhecem ter uma criança trans. 

"Trabalhamos tanto com políticas públicas voltada a crianças e adolescentes trans como fazemos acolhimento das famílias ajudando nesse processo que é delicado. Temos profissionais da psicologia que fazem atendimento voluntário a famílias com vulnerabilidade econômica, fazemos palestras em escolas, empresas para que as pessoas entendam que pessoas trans não nascem com 18 anos, não brotam em vaso. Existe uma infância e uma adolescência que precisa ser protegida e cuidada".

Ela conta que desde os dois anos de idade, a filha mostrava sinais de que não se identificava com o gênero com o qual nasceu e passou por todo um processo de escuta.

"Minha filha transicionou aos quatro anos. Entendi a condição de gênero da minha criança. Ela tinha uma recusa grande por tudo que era do universo masculino e desejo por tudo que era do universo feminino. Dizia frases lamentando não ter nascido mulher. A persistência e a insistência dela me deram a entender que não era brincadeira, uma fase, ela tinha sofrimento em usar roupa do gênero oposto, foi todo um processo. Como ela era muito nova senti falta de informações. Hoje, na ONG, temos mais de 650 famílias assistidas. Fui atrás de famílias tão sozinhas como a nossa para que pudéssemos ir atrás de informações e direitos para crianças e adolescentes trans", acrescentou.

Thamirys lamentou que mesmo a escola, ambiente onde o aluno deveria se sentir seguro e acolhido, se apresenta como um local hostil para crianças trans. 

"A gente não se sente seguro em deixar nosso filhos, tem muita desinformação, segregação. A solução está na informação. O Brasil tem que reconhecer essas infâncias e adolescências, essa pauta precisa entrar na agenda de infância nos órgãos em âmbito federal, estadual e municipal, desenvolver políticas públicas para proteger essas crianças", concluiu.

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