DO RIO PARA O MUNDO

Gari lança livro e vai palestrar em Havard sobre saneamento básico

Valdeci Boareto, de 55 anos, é autor do livro "Comportamento que te salva - A vida sob o olhar de um gari"

O gari Valdeci, de 55 anos, lança livro sobre inteligência emocional, em 2022 -  (crédito: Reprodução/ Twitter/ comlurbcomunica)
O gari Valdeci, de 55 anos, lança livro sobre inteligência emocional, em 2022 - (crédito: Reprodução/ Twitter/ comlurbcomunica)
postado em 22/03/2024 18:45 / atualizado em 22/03/2024 18:46

Valdeci Boareto, de 55 anos, gari da Escola Municipal Padre Manuel da Nóbrega, no Rio de Janeiro, foi convidado para palestrar sobre saneamento básico na 10° edição da Brazil Conference — conferência anual realizada desde 2015, em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos. O carioca é autor do livro Comportamento que te salva — A vida sob o olhar de um gari, lançado em 2022, que compartilha sobre emoções e a trajetória nesses 27 anos de profissão, no colégio e também nas ruas. O Correio conversou com Valdeci, que contou mais sobre o trabalho e o preparo de levar a própria história para o mundo.

Durante a pandemia de covid-19, Valdeci decidiu se mudar para uma casa na área rural em Lagoinha, Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, local que começou a escrever e planejar muitos sonhos. “Na pandemia, eu estava fora do trabalho por conta dos meus problemas de saúde, então fiquei um pouco apavorado vendo tantas mortes, um momento muito angustiante. Fui um dia na padaria e acabei vendo um frigorífico cheio de corpos vítimas da covid-19 e decidi me mudar para área rural, em Lagoinha, procurando ar puro, uma necessidade de colocar ‘colocar o pé no chão’ e aqui eu me senti muito em casa”, aponta.

O gari, funcionário da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), demonstra orgulho pelo trabalho e pela forma como ajuda as pessoas no dia a dia. "Como funcionário, reforço sempre a conscientização do planeta. Cada vaso e mesa que eu limpo, a cada chão que eu passo o pano, eu penso na prevenção e cuidado das pessoas. Por isso, sempre digo da importância de quem trabalha com a limpeza", relata.

Valdeci nunca pensou em ser escritor, inclusive ele achava que seria algo impossível, mas a vontade de compartilhar momentos vividos falou mais alto. “Eu pensava que para ser escritor tinha que ser um poliglota, até que os professores da escola que eu trabalho me falaram que era preciso deixar a alma falar. Eu também faço parte de uma academia de letras e a presidente de lá me falou que todos nós somos escritores, só que tem uns que guardam suas histórias e outros querem que o mundo saiba. E eu quero que todos saibam da minha história”, conta.

O carioca que ainda sonha em ser psicólogo, traz no livro traz no livro emoções e histórias que passou ao longo dos anos trabalhando com a limpeza. “O tema central do meu livro é inteligência emocional, como lidar com as emoções, como você deve lidar com a raiva, com o ódio, desprezo, com as pessoas falando mal de você. Aconteceram muitos momentos nesses 27 anos da minha vida profissional, então no livro venho contando histórias profundas que eu consegui compartilhar e publicar”, afirma.

“Tudo que é novo é desafiador”, diz Valdeci que nunca viajou de avião, mas que apesar do medo de altura, se prepara para uma viagem que dará início ao sonho de fazer o que ele sempre sonhou, falar da importância de cuidar do planeta. “Esse vai ser um desafio para mim, mas estou me preparando para compartilhar sobre o saneamento básico, de mostrar maneiras conscientes sobre o lixo e a importância dos funcionários da limpeza”, explica.

O gari e agora escritor, não vai parar, ele tem planos para o lançamentos de livros futuros. Um deles infantil, ensinando as crianças por meio da literatura sobre a limpeza, não rabiscar as cadeiras, respeitar as pessoas, de uma forma didática. Além disso, o filho de uma mãe negra também pretende colocar no papel a história que a genitora teve trabalhando no cafezal. “Quero poder honrar, se ela soubesse de tudo que está acontecendo na minha vida, que escreveu um livro, que está na academia de letras, são tantas as coisas, que eu tenho muito orgulho”, conclui.

* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca

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