sociedade

Maioria dos analfabetos brasileiros têm mais de 40 anos

São 8,3 milhões de pessoas, de 9,3 milhões que não sabem ler nem escrever — que representam 5,4% da população. Dificuldade entre os mais velhos está diretamente relacionada à qualidade do ensino e à dificuldade de aprendizado

Pouco mais da metade dos analfabetos com mais de 40 ultrapassaram os 60 anos. A explicação é a dificuldade de aprendizado dessa faixa etária -  (crédito: Agência Brasil)
Pouco mais da metade dos analfabetos com mais de 40 ultrapassaram os 60 anos. A explicação é a dificuldade de aprendizado dessa faixa etária - (crédito: Agência Brasil)
postado em 23/03/2024 03:55

O Brasil tem em torno de 9,3 milhões de analfabetos, sendo a maioria — 8,3 milhões — com mais de 40 anos. A constatação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2023, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As pessoas que não sabem ler e escrever representam 5,4% da população — uma redução de 0,2 ponto percentual na comparação com 202.

Desses 8,3 milhões de analfabetos com mais de 40 anos, 55,3% têm 60 anos ou mais. Há uma tendência maior do analfabetismo entre os mais velhos — em relação aos jovens houve acentuada redução, conforme constatou a PNAD. Segundo a coordenadora de pesquisa do IBGE, Adriana Beringuy, a concentração de pessoas analfabetas com idade superior a 40 anos tem relação com a qualidade do ensino e com a dificuldade de aprendizado.

"O analfabetismo hoje, no Brasil, está concentrado entre as pessoas mais idosas. Os idosos não frequentaram a escola ou tiveram um aprendizado muito precário e, por isso, carregam essa condição de analfabetos ao longo da vida. A população mais jovem está muito mais escolarizada", afirmou a pesquisadora Adriana Beringuy, que apresentou os resultados.

Recortes

No recorte da pesquisa por cor ou raça, revela-se também uma grande diferença entre as taxas das pessoas brancas e das pretas ou pardas. No ano passado, 3,2% dos brancos eram analfabetos, contra 7,1% dos pretos ou pardos. Quando os pesquisadores sobrepõem as questões etária e racial, o problema fica ainda mais grave: a taxa de analfabetismo dos brancos de 60 anos ou mais é de 8,6%, e entre os negros ela quase triplica, chegando a 22,7%.

Na divisão por gênero, os números são mais parecidos: 5,2% para as mulheres e 5,7% para os homens.

De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), a redução do analfabetismo na população em geral deveria alcançar 6,5%, em 2015, e a erradicação total até o fim de 2024. A meta intermediária foi alcançada em 2017.

A média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, em 2023, foi 9,9 anos. De 2022 a 2023, essa média ficou estável. Entre as mulheres, o número médio de anos de estudo foi de 10,1 anos, enquanto para os homens, 9,7 anos.

Com relação à cor ou raça, mais uma vez a diferença foi considerável, registrando-se 10,8 anos de estudo para as pessoas de cor branca e 9,2 anos para as de cor preta ou parda. Ou seja, uma diferença de 1,6 ano entre esses grupos, que caiu pouco desde 2016, quando era de dois anos.

Em termos regionais, o Nordeste apresenta a maior taxa de analfabetismo do país — 11,2%, mais que o dobro da média nacional, de 5,4%. No entanto, foi a região que avançou para fazer com que as pessoas aprendessem a ler e a escrever, se comparado com anos anteriores. Por outro lado, o Sul e o Sudeste apresentam as menores taxas — 2,8% e 2,9%, respectivamente.

Redução entre os "nem-nem"

Praticamente 20% dos brasileiros entre 15 e 29 anos não estavam estudando nem trabalhando em 2023, de acordo com os números da PNAD Educação. Isso representa 9,6 milhões de pessoas. O porcentual dos chamados "nem-nem" é o menor dos últimos cinco anos. Em 2019, a proporção dos jovens que não tinham ocupação formal era de 22,4%.

O número de brasileiros nessa faixa etária é de 48,5 milhões. Desse total, 15,3% estavam ocupados e estudando, 25,5% estavam estudando, porém não trabalhando, e 39,4% estavam trabalhando, mas não estudavam. Já 19,8% não faziam nenhuma das duas coisas.

Na análise de Adriana Beringuy, a principal razão para o porcentual de pessoas que não trabalham nem estudam ter caído nos últimos cinco anos foi a demanda do mercado de trabalho, e não a maior busca pela educação.

As pessoas de 18 a 24 anos de idade são aquelas que, idealmente, estariam frequentando o ensino superior, caso completassem a educação escolar básica na idade adequada. Contudo, o atraso e a evasão escolar estão presentes tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. Isso representa que muitos jovens entre 18 e 24 anos não frequentam mais a escola e alguns ainda frequentam as etapas da educação básica obrigatória.

Escolarização

Em 2023, a taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos, independentemente do curso frequentado, foi de 30,5%, percentual próximo ao registrado em 2022. Uma parcela de 21,6% dos jovens nessa faixa etária frequentava cursos da educação superior e 8,9% estavam atrasados, frequentando algum dos cursos da educação básica. Já 4,3% haviam completado o ensino superior e 65,2% não frequentavam escola.

Levando-se em consideração o grupo de jovens de 14 a 29 anos do país, 9,0 milhões não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término dessa etapa ou por nunca a terem frequentado. Desses, 58,1% eram homens e 41,9% eram mulheres. Considerando-se cor ou raça, 27,4% eram brancos e 71,6% eram pretos ou pardos.

Indagados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, esses jovens apontaram a necessidade de trabalhar como fator prioritário. No Brasil, tal contingente chegou a 41,7% em 2023, aumento de 1,5 pontos percentuais em comparação a 2022. Já o percentual de quem respondeu que abandonou por não ter interesse de estudar — segundo principal motivo — tem caído nos três anos investigados pela pesquisa — 2023 chegou a 23,5%. (Com Agência Estado)

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi


 

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