PSICÓLOGO

Dia do Psicólogo: profissionais dizem o que o Brasil tem para celebrar e melhorar

No Dia do Psicólogo, especialistas destacam avanços, desafios e a necessidade de maior valorização da profissão no Brasil

O Dia do Psicólogo, celebrado nesta quarta-feira (27/8), abre espaço para refletir sobre os avanços e os obstáculos enfrentados pela profissão no Brasil. A data, mais do que uma comemoração, reforça a importância de discutir políticas públicas, reconhecimento salarial e a necessidade de ampliar o acesso à saúde mental no país.

Para o psicólogo cognitivo comportamental Artur Gomes, o SUS abriu portas fundamentais para a psicologia — principalmente com a criação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleo de Apoio à Saúde da Família NASF  e a presença dos especialistas na atenção básica. “O reconhecimento institucional existe, mas é parcial: ainda somos vistos muitas vezes como 'apoio secundário' e não como parte essencial da saúde. A saúde mental continua subfinanciada e mal estruturada, o que limita a prática. O espaço existe, mas a valorização real, em termos de recursos, estrutura e condições, ainda está muito distante do que seria necessário”, expõe. 

Gomes pontua uma falta de valorização prática da profissão. “Psicólogo no SUS muitas vezes é tratado como luxo ou acessório. Quando falta verba, somos os primeiros a perder espaço”, justifica. O piso salarial, por sua vez, não condiz com a complexidade da função. “Psicólogo no Brasil lida com sofrimento humano, crises, violência, risco de atentados contra a própria vida, vulnerabilidade social, mas recebe salários que mal permitem estabilidade financeira. Muitos colegas precisam complementar renda em outros vínculos, o que compromete qualidade de vida e até gera desgaste profissional.”

Para Artur, o Dia do Psicólogo é um marco ambíguo. De um lado, a celebração lembra o quanto a profissão cresceu e o impacto que promove na vida das pessoas. Por outro, é um lembrete incômodo da luta constante por reconhecimento e condições dignas. “Pessoalmente, é um dia de reafirmar meu compromisso com a ética, a ciência e o cuidado humano. Profissionalmente, é também dia de cobrar políticas públicas sérias e valorização”, resume o especialista. 

Rafael Braga, neuropsicólogo e psicólogo clínico, opina que a psicologia junto ao SUS é importante para acolher pessoas em vulnerabilidade social. No entanto, o trabalho envolve a sobrecarga de profissionais que lidam com demandas grandes e falta de recursos. 

Atualmente, tramita no Senado a proposta de criação do piso salarial de R$ 4.500 e da jornada de 30 horas semanais para psicólogos, pauta pela qual o Conselho Federal de Psicologia vem lutando. Rafael ressalta que a remuneração varia bastante — podendo ir de pouco mais de um salário mínimo até valores acima da média nacional, que gira entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Apesar da relevância da saúde mental, ainda há resistência em reconhecer financeiramente o trabalho do psicólogo, muitas vezes reduzido, de forma equivocada, a uma simples conversa.

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Com relação a data comemorativa, o psicólogo lembra que o dia foi escolhido porque, em 1962, a profissão foi regulamentada no Brasil. “É uma oportunidade de dar visibilidade à nossa atuação, que é reforçada em princípios éticos, sociais, técnicos e ciência.”

Mesmo com o reconhecimento ampliado após a pandemia, Artur — que sonhava se profissionalizar na psicologia desde os 15 anos — aponta que “ainda falta concurso para convocar mais profissionais e ter uma estrutura adequada”, já que no SUS há equipes sobrecarregadas e áreas “bastante sucateadas da saúde mental”. Apesar dos desafios, ele conclui: “A psicologia é uma profissão linda, eu sou apaixonado pela sua parte do desenvolvimento humano.”


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