Embora as mulheres não tenham espaço garantido na agenda oficial da COP30, elas se organizam por todo o Brasil para influenciar no debate ambiental. Com propostas concretas, uma carta coletiva e um festival político-cultural em Brasília, essas lideranças femininas de todo o país se reúnem, nos dias 7 e 8 de outubro, para o Festival de Inovação Política: Bancada Feminina na Conferência sobre Mudanças Climáticas, que integra o Festival Curicaca. A ideia é influenciar as decisões do evento das Nações Unidas, novembro, em Belém.
"Estamos falando de impacto, de sobrevivência e de tomada de decisão. As mulheres são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, mas ainda continuam afastadas dos espaços onde as políticas são negociadas e formuladas", lamenta Gabriela Rollemberg, advogada e cofundadora da organização não governamental (ONG) Quero Você Eleita, em entrevista ao PodCast do Correio, conduzida pelos jornalistas Adriana Bernardes e Roberto Fonseca. Para ela, garantir a presença das mulheres nesses espaços é essencial a construção de soluções sob uma ótica mais ampla e mais sensível.
Promovido pelo Quero Você Eleita e pelo Instituto AzMina, ponto alto do Festival de Inovação Política será a entrega da Carta das Mulheres para a Conferência. O documento reunirá propostas elaboradas por mulheres considerando, sobretudo, as advertências daquelas que enfrentam os impactos das mudanças climáticas.
O festival surgiu a partir da constatação de que muitas lideranças femininas enfrentam barreiras — das logísticas às estruturais — que dificultam a participação direta na COP30. "A logística é um dos grandes obstáculos que impedem essas mulheres de estarem presentes. Por isso, decidimos antecipar o debate em Brasília, garantindo que suas vozes sejam escutadas e suas propostas, consideradas", explicou Gabriela.
Contribuições
A carta que será produzida tem como objetivo reunir contribuições que reflitam as realidades de quem vive nos seis biomas existentes no Brasil. "Queremos cruzar o olhar de quem elabora as leis com o de quem vivencia, diariamente, as consequências da crise ambiental. Será o alicerce da carta", explicou Gabriela, para acrescentar: "Vamos continuar recebendo contribuições mesmo após o evento, porque a entrega oficial será em novembro. Trata-se de uma construção contínua e em movimento".
Entre os temas abordados no Festival de Inovação Política estão biomas e territórios, economia verde, sustentabilidade, educação, cultura, parcerias estratégicas e acesso a financiamento. "Queremos que as mulheres não apenas participem, mas que, realmente, influenciem as decisões. Para isso, é fundamental garantir formação, recursos e representatividade", afirmou.
Segundo Gabriela, "é essencial garantir que as lideranças periféricas e marginalizadas tenham protagonismo. Se não estivermos presentes, não haverá políticas públicas com a nossa visão e sensibilidade".
O Festival de Inovação Política também pretende consolidar uma rede nacional de lideranças femininas comprometidas com a agenda climática. "A carta é o primeiro passo. Depois, vamos oferecer formação voltada para as eleições de 2026, para ampliar a base, fortalecer mandatos e transformar realidades", disse.
Além da articulação política, o festival também busca associar inovação e desenvolvimento sustentável. "O acesso a crédito, à tecnologia e aos novos mercados é fundamental. Se uma mulher quilombola puder comercializar seu artesanato internacionalmente, sem precisar sair de seu território, estará preservando sua cultura e seu meio ambiente enquanto gera renda. Isso é uma transição justa", observa Gabriela, demonstrando que a economia solidária se encaixa nas medidas de contenção da emergência climática.
A Quero Você Eleita, startup criada há cinco anos, atua na formação de lideranças, organização de eventos e consultorias. Seu objetivo é construir uma rede de apoio às mulheres nos espaços de poder. "Cada mulher tem algo único a oferecer e nosso papel é criar meios para que isso se realize", salientou Gabriela.
Confira o episódio completo
