obituário

Clara Charf, viúva de Marighella e ativista dos direitos humanos, aos 100 anos

Clara entre a ex-presidente Dilma Rousseff e a ex-ministra Eleonora Menicucci ao ser premiada, em 2014 -  (crédito: Wilson Dias/Agência Brasil)
Clara entre a ex-presidente Dilma Rousseff e a ex-ministra Eleonora Menicucci ao ser premiada, em 2014 - (crédito: Wilson Dias/Agência Brasil)

A ativista dos direitos humanos Clara Charf morreu, ontem, aos 100 anos, de causas naturais. Viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, que pegou em armas contra a ditadura militar, ela estava hospitalizada há alguns dias e foi intubada, segundo comunicado da Associação Mulheres Pela Paz, da qual era fundadora e presidente.

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Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela foi "corajosa, generosa, combativa e de grande maturidade política. Clara viveu o exílio, enfrentou a ditadura e defendeu incessantemente a democracia. Atravessou seu século de vida com uma flexibilidade bonita de quem sabia compreender o novo sem abandonar seus princípios, de quem olhava o mundo com lucidez e coração aberto. Convivi com a Clara por mais de 40 anos. Aprendi muito com ela sobre política, solidariedade, resistência e humanidade".

O ministro Guilherme Boulos, da Secretaria da Presidência da República, também a homenageou no X (antigo Twitter). "Morreu Clara Charf aos 100 anos. Uma vida dedicada à luta por justiça social e pelos direitos das mulheres. Vá em paz, Clara!"

Para a Associação Mulheres pels Paz, ela "deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero". "Clara foi grande. Foi do tamanho dos seus 100 anos. Difícil dizer que ela apagou. Porque uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todas e todos que tiveram o enorme privilégio de aprender com ela", diz o comunicado da Mulheres Pela Paz, exaltando a trajetória de vida da ativista.

Clara tornou-se comissária de bordo, na década de 1940, mas desde os 16 anos participava ativamente da vida política do país. Entrou para o Partido Comunista Brasileiro e, em 1947, casou-se com Marighella, que se tornaria líder da Ação Libertadora Nacional — que decidiu enfrentar a ditadura militar com armas. O casal foi perseguido e preso pelo regime.

Depois da morte do marido — assassinado em uma emboscada por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em novembro de 1969, em São Paulo —, Clara exilou-se, inicialmente, em Cuba. Voltou ao Brasil somente em 1979, com a anistia aos adversários da ditadura. A partir daí, atuou fortemente na luta pelos direitos das mulheres, pela liberdade e por uma sociedade mais justa e igualitária. Em 2005, Clara passou a coordenar no Brasil o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, que nasceu na Suíça.

Nascida em Maceió (AL), era a mais velha de três irmãos, filhos de judeus russos que fugiram do nazismo na Europa. Tempos depois, a família mudou-se para Recife, onde a comunidade judaica já havia se estabelecido. Na capital pernambucana, a matriarca Ester morreu de tuberculose com apenas 40 anos.

Diante das dificuldades da família, Clara foi para o Rio de Janeiro com 20 anos de idade. Filiou-se ao PCB, onde conheceu Marighella. Graças ao inglês fluente em uma época em que a língua praticamente não fazia parte do ambiente profissional do país, ela conseguiu uma vaga para ser comissária de bordo.

Ao homenageá-la em postagem no X, o PT lembrou a trajetória que ela teve como integrante do partido. "Em 1982, foi candidata a deputada federal pelo PT. Feminista incansável, Clara atuou na Secretaria Nacional de Mulheres do PT e integrou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher", diz a publicação. (Com Agência Brasil)

 

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postado em 04/11/2025 03:55
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