mudanças climáticas

Um verão bem quente e de chuvas irregulares

Para meteorologistas ouvidos pelo Correio, nova estação — que começa amanhã — evidenciará os impactos do aquecimento global

Roteiro da tempestade em São Paulo: árvore arrancada, enchente, falta de luz, prejuízo material e morte -  (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)
Roteiro da tempestade em São Paulo: árvore arrancada, enchente, falta de luz, prejuízo material e morte - (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)

A estação das flores e do retorno das chuvas dá adeus ao Brasil e o país recebe a temporada de temperaturas elevadas, de praias e férias escolares. O verão brasileiro começa amanhã, exatamente às 12h03 (no horário de Brasília), prometendo muito calor e podendo apresentar irregularidade na quantidade e na intensidade de chuvas, devido ao aquecimento global. Especialistas acreditam que a nova estação evidenciará os impactos do aquecimento global ao longo de dias mais longos e noites mais curtas. 

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Na avaliação do meteorologista Natálio Abrahão Filho, o verão do fim deste ano será de neutralidade, sem El Niño e La Niña, com temperaturas elevadas de máximas de até três graus acima da média em todo país. O Centro-Oeste e o interior do Nordeste terão o ar mais quente do que os outros locais do território brasileiro. 

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"Os eventos estão em condições de neutralidade, com viés dos fenômenos da atmosfera, como o El Niño e La Niña, e isso traz mudanças. O Centro-Oeste com menos chuvas e o Nordeste, muito mais quente, são resultados dessas modificações. No Sul do país, as chuvas diminuem e a tendência é de que ocorram somente no litoral", explicou, ao relembrar que a próxima semana nas regiões próximas às fronteiras da Argentina e do Paraguai devem ter chuvas fortes e tempestades com nova frente fria. 

Para Natálio, algumas localidades podem ser sobrecarregadas, com chances de enchentes e inundações. Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro estão na rota desses eventos extremos, com números elevados de raios e ventos de rajadas. "O aquecimento global é real e amplifica esses movimentos", ressaltou. 

Com relação às temperaturas, o alto calor, entre 22 e 30 de dezembro, deve ocorrer principalmente no centro-leste brasileiro. Na região que integra Minas e Bahia, será 6°C acima da média. 

Na análise dos meteorologistas Alexandre Nascimento e Desirée Brandt, da Nottus — empresa de consultoria meteorológica de negócios —, a nova estação não deve ser das mais quentes, mas, sim, marcada pela influência do fenômeno La Niña, favorecendo a ocorrência de chuvas no Sudeste, no Centro-Oeste, no Matopiba (região formada pelo estado do Tocantins e partes do Maranhão, do Piauí e da Bahia) e em áreas da Região Norte. Além disso, os estudos divulgados por eles indicam que a temporada é favorável ao agronegócio, especialmente em relação à umidade do solo e ao desenvolvimento das culturas.   

"Podemos ter momentos isolados de trégua na chuva, com temperatura mais alta, mas os modelos não indicam ondas prolongadas de calor. No geral, a tendência é de temperatura mais moderada ao longo da estação. A expectativa é de precipitação em torno da média histórica em grande parte do Brasil Central. Estamos observando um padrão que contribui para episódios persistentes de chuva, com boa reposição hídrica na região central. Isso garante um excelente índice de água disponível no solo para as culturas de verão de milho e soja", explica Desirée.

La Niña "fraco"

O meteorologista da Tempo OK, Celso Oliveira, destacou que a primavera foi marcada pela presença de um La Niña "fraco", que influenciou pouco a atmosfera e que os padrões clássicos desse fenômeno não foram observados. Conforme explicou, a anomalia de temperaturas baixas no Oceano Pacífico está se desconfigurando e caminhando para uma neutralidade, que deve se confirmar até março de 2026. 

"A relação entre o aquecimento global e o comportamento do El Niño e do La Niña ainda é um tema de intenso debate científico. Embora haja consenso de que o aquecimento global esteja elevando a temperatura média dos oceanos e da atmosfera, não há unanimidade sobre como isso altera diretamente a dinâmica do El Niño-Oscilação Sul (ENOS)", observou. 

Na avaliação de Oliveira, a instabilidade climática observada nos últimos anos tem alterado de forma significativa o que historicamente se esperava do verão brasileiro, que costumava ser caracterizado por calor intenso e chuvas mais regulares, sobretudo no período da tarde. Atualmente, observa-se uma maior irregularidade no comportamento da estação, com alternância entre períodos prolongados de tempo seco e episódios de chuva forte concentrados em curto intervalo de tempo, o que aumenta o risco de eventos extremos, como alagamentos e deslizamentos. Essas mudanças mostram variabilidade e imprevisibilidade na estação que chega amanhã, mas não revelam, necessariamente, um "novo padrão". 

"O verão ainda promete temperaturas elevadas em boa parte do país. Isso porque a circulação de ventos na atmosfera será desfavorável para o avanço de frentes frias do Sul em direção ao Sudeste, diminuindo a chance da formação de corredores de umidade, típicos desta época do ano. Assim, é possível estimar que o calor seja persistente e a temperatura fique em aproximadamente 2°C acima do normal, especialmente no Sudeste, no Centro-Oeste e no interior do Nordeste. Entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, os meses de janeiro e fevereiro serão marcados por chuvas recorrentes e, eventualmente, volumosas, o que acaba controlando a temperatura. Em março, os atuais modelos de previsão indicam que a passagem de frentes frias seja menor nesses estados, algo que favorece a elevação da temperatura máxima. No Norte e nos estados do Maranhão, do Piauí e do Ceará, a chuva pode até superar a média climatológica e as temperaturas ficarão em torno da média", explicou.

Os especialistas alertaram para as problemáticas da exposição aos raios ultravioleta, que podem causar câncer de pele e outras doenças. "Do ponto de vista da saúde, é fundamental manter hidratação constante, evitar exposição ao Sol e ao calor nos horários mais quentes do dia, priorizar ambientes ventilados ou climatizados e usar roupas leves. Grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas devem receber atenção especial, com monitoramento frequente e cuidados redobrados", destacou.

SP, dezembro: oito mortos

O fim de primavera em São Paulo deixa um saldo, somente em dezembro, de oito pessoas mortas em decorrência das chuvas que caíram no território paulista, segundo a Defesa Civil. Ontem, o corpo do entregador de 58 anos que estava desaparecido desde a última terça-feira, quando teve o seu veículo levado por uma enxurrada, em Guarulhos, foi localizado e resgatado na altura do bairro Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista.

A vítima foi levada para o Instituto Médico Legal (IML), onde foi feito o reconhecimento por parte dos parentes. Os Bombeiros não informaram a identidade do homem, mas confirmaram tratar-se do motorista que desapareceu durante uma tempestade. Ele estava em um veículo que foi arrastado pela enxurrada até o Córrego Taboão, no bairro Jardim Santa Emília. Desde então, os Bombeiros atuavam para encontrá-lo.

As duas primeiras mortes provocadas pelas chuvas — ambas no dia 10 — foi a de um homem vitimado por um deslizamento, em Campos do Jordão, e de uma mulher devido à queda de um muro, na Zona Leste da capital. Em 12 de dezembro, outra mulher morreu por causa da queda de uma árvore, em Guarulhos e, no dia seguinte, foi a vez de um homem que perdeu a vída em função de uma descarga elétrica, em Juquitiba.

No dia 14, um homem morreu ao ser arrastado por um rio, em Bauru, e no dia 16 outro não resistiu à queda de um muro, em Ilhabela. Ainda em Ilhabela, e no mesmo dia, outro homem morreu após ser arrastado por correnteza.

No começo da semana, Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, foi parcialmente inundada por causa do temporal que a atingiu. Três carros foram arrastados pela forte correnteza na região da Rua Visconde de Souza Franco, no centro da cidade, mas há registros de veículos submersos em bairros como Morin e Coronel Veiga, onde os rios Palatino e Quitandinha transboradaram.

Uma pessoa, que estava dentro de um dos carros arrastados pela correnteza, continua desaparecida. Porém, o corpo ainda não foi encontrado pelos Bombeiros.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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LC
postado em 20/12/2025 03:55
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