Coronavírus

Chegada de doses das vacinas contra covid-19 ao DF segue cercada de incertezas

Gestores da Secretaria de Saúde receberam a informação de que o lote de imunizantes esperado para 23 de fevereiro deve ficar abaixo dos 100 mil previstos. Mesmo após reunião com Governo Federal, na sexta-feira (19/2), não há detalhes sobre quantas unidades o DF receberá

Samara Schwingel
Adriana Bernardes
postado em 20/02/2021 06:00
Em encontro com representantes da Secretaria de Saúde, ontem, integrantes do MPDFT consideraram positivo processo de ampliação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) -  (crédito: MPDFT/Reprodução)
Em encontro com representantes da Secretaria de Saúde, ontem, integrantes do MPDFT consideraram positivo processo de ampliação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) - (crédito: MPDFT/Reprodução)

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) recebeu a informação de que receberá menos doses de vacinas contra a covid-19 do que o esperado. O envio da remessa está previsto para terça-feira (23/2), e o anúncio ocorreu após reunião com representantes do Ministério da Saúde, nessa sexta-feira (19/2). A expectativa era de contar com 100 mil doses da CoronaVac, mas o novo quantitativo só será informado na segunda-feira (22/2). Ainda na sexta (19/2), segundo o Gsaid — banco de dados de laboratórios que sequenciam genomas do coronavírus — houve a identificação de um morador do DF infectado pelo vírus da variante que circula no Rio de Janeiro, a cepa P2. No entanto, a SES-DF informou que não recebeu relatório com confirmação do caso.

Com a queda no número de doses recebidas, há preocupação com a possibilidade de ampliar o atendimento no DF. Até quinta-feira (18/2), a capital federal tinha cerca de 8 mil vacinas em estoque, para aplicação da primeira dose — o que deve durar só até quarta-feira (24/2). Apesar do cenário, internamente, representantes da SES-DF esperam inserir no cronograma de vacinação da próxima semana, ao menos, idosos com 78 anos. Porém, tudo dependerá do posicionamento do Ministério da Saúde e de quantas doses de vacinas chegarão. A última vez em que o DF recebeu imunizantes foi em 7 de fevereiro (leia Linha do tempo).

O Ministério da Saúde comunicou que a distribuição das doses ocorre “de maneira igualitária e proporcional ao público-alvo definido no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19”. O ministro Eduardo Pazuello confirmou, em reunião com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), na sexta-feira (19/2), que o Brasil terá mais 4,7 milhões de doses entre o fim de fevereiro e o início de março. “O cronograma de distribuição para os estados será divulgado na próxima semana”, completou a pasta federal.

Diante das incertezas, o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho considera que estender a vacinação aos poucos e garantir a segunda dose do imunizante aos vacinados é mais importante do que ampliar o processo para mais faixas etárias. “A ampliação só pode ocorrer se houver certeza do recebimento de mais doses, principalmente da CoronaVac, que tem um intervalo menor. É importante lembrar que a imunização só é completa após a segunda aplicação”, destaca Walter.

Variantes

Além da cepa britânica (B.1.1.7), a variante P2, identificada primeiro no Rio de Janeiro, apareceu no resultado de um exame de genoma de um morador do DF, segundo dados da plataforma Gsaid. A amostra do homem de 32 anos foi colhida no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) do Piauí, em 23 de julho, e confirmada pelo instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O sistema também indica a infecção pela variante britânica de um homem de 33 anos, cujo material biológico foi coletado em 31 de dezembro. A SES-DF busca identificá-lo para fazer a vigilância epidemiológica.

A variante P2 é uma mutação genética da cepa B.1.1.2.8, que circula no Brasil desde março. Ela é considerada preocupante porque, assim como a P1 — verificada, inicialmente, no Amazonas — e a B.1.1.7, a transmissão ocorre mais rápido. Não há estudos que apontem se ela seria mais letal ou não. Além delas, circulam no DF, segundo o Gsaid, a cepa B.1.1.33 — a mais comum, que está no Brasil desde março —; a B.1.1.314, uma variante da brasileira; e a B, que seria da linhagem “original”, vinda da China.

  • 03/12/2021 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Covid 19 vacinação de idosos com mais de 80 anos. Planaltina. Vacina
    03/12/2021 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Covid 19 vacinação de idosos com mais de 80 anos. Planaltina. Vacina Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Apesar de os dados estarem classificados e abertos a consulta, a SES-DF informa que não recebeu retorno sobre o sequenciamento de exames do DF e enviados aos laboratórios de referência. Por isso, a pasta não confirma a circulação das variantes em solo brasiliense. Bergmann Morais, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o Gsaid é o primeiro lugar onde os cientistas cadastram informações sobre mutações identificadas. “Só depois eles escrevem e enviam os relatórios do sequenciamento aos governos e às secretarias de cada estado. Portanto, pode haver um atraso na oficialização das informações”, explica o especialista.

Acertos

Na sexta-feira (19/2), gestores da Saúde do DF se reuniram com integrantes da força-tarefa de combate à pandemia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), para debater o atual cenário da pandemia. Durante o encontro, os representantes da instituição viram de maneira positiva o processo de ampliação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) anunciado pela SES-DF na quinta-feira (18/2).

Para o MPDFT, a plataforma de agendamento lançada na sexta-feira (19/2) no DF também é um recurso importante para melhorar a logística do processo, o planejamento das doses e para evitar aglomerações. Em relação às novas cepas, o Ministério Público acredita que há necessidade de maior controle biológico e ampliação da vigilância laboratorial. Além disso, a instituição pediu à Secretaria de Saúde que produza uma nota técnica sobre a relação dos coronavírus em circulação com os imunizantes existentes. “Será um documento importante para explicar a repercussão das cepas e o que isso significa para as vacinas, se elas terão eficácia contra as variantes”, afirmou o coordenador da força-tarefa, o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes.

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Agendamento da segunda dose

Quem tiver de receber a segunda dose da CoronaVac entre 22 e 26 de fevereiro pode agendar a aplicação do imunizante pelo site: vacina.saude.df.gov.br.

Linha do tempo

18 de janeiro
DF recebe 106,1 mil doses da CoronaVac

19 de janeiro
Início da vacinação dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente, indígenas, pessoas com mais de 18 anos institucionalizadas e respectivos acompanhantes

24 de janeiro
DF recebe 41,5 mil doses da Covishield

25 de janeiro
Ministério da Saúde encaminha mais 19 mil doses da CoronaVac

1º de fevereiro
Começa vacinação de pessoas com 80 anos ou mais

7 de fevereiro
DF recebe 37,4 mil doses da CoronaVac

9 de fevereiro
Idosos com 79 anos começam a ser vacinados

Tira-dúvidas

Porque é importante o sequenciamento e a identificação da nova cepa?
O sequenciamento genético é fundamental para o monitoramento epidemiológico, identificação da origem dos vírus e onde estão as mutações, principalmente as chamadas variantes de atenção, que podem ser mais transmissíveis, mais graves e levar à falha vacinal. Como vimos na África do Sul, algumas mutações levaram à redução da eficácia da vacina AstraZeneca de 90% para 10%. Se não houver controle, os serviços de saúde colapsam. Por isso, o sequenciamento e a identificação são importantes, para que as autoridades façam o planejamento epidemiológico e de recursos.

Há a necessidade de ter rapidez nesse processo?
O processo não é rápido. O sequenciamento precisa ser feito em laboratórios especializados. Porém, quanto mais rápido tivermos a informação, melhor, até para os gestores gerenciarem a crise.

Até quando devo tomar a segunda dose? A data do cartão de vacinação é o limite ou posso demorar mais?
As vacinas só não devem ser aplicadas antes da data recomendada no cartão. Não há problema em tomar a segunda dose após a data indicada, porém, quanto mais a pessoa demorar, mais tempo ela vai ficar desprotegida e sem imunização contra o vírus. Nesse período, ela pode pegar a doença ou ser vetor de transmissão. Por isso, recomenda-se que a aplicação seja feita na data correta.

O que acontece se eu não tomar a segunda dose?
Sem a segunda dose, o processo de imunização não é completo. Ou seja, a vacina se perde, e a pessoa não desenvolve a proteção completa contra o vírus. Por isso, é importante garantir a aplicação dela.

Fontes: Walter Ramalho, professor de epidemiologia da UnB; Joana D'Arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran); e Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.

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