Coronavírus

Adolescentes são os que menos se vacinam no DF; baixa cobertura preocupa

No DF, cerca de 120 mil pessoas não receberam a primeira dose das vacinas contra a covid-19. Dessas, 107,3 mil são adolescentes de 12 a 17 anos. Governo pretende instalar postos de imunização em locais como feiras e shoppings

Samara Schwingel
postado em 01/10/2021 05:54 / atualizado em 01/10/2021 05:55
Hora de vacinar: a média móvel de mortes chegou a 17,4 ontem — aumento de 48,8% na comparação com 16 de setembro -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Hora de vacinar: a média móvel de mortes chegou a 17,4 ontem — aumento de 48,8% na comparação com 16 de setembro - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Dos 268.473 adolescentes de 12 a 17 anos residentes no Distrito Federal, cerca de 40% ainda não buscaram os pontos de vacinação para receberem a primeira dose dos imunizantes contra a covid-19. O número equivale a 107, 3 mil jovens. Os dados são da Secretaria de Saúde. Segundo gestores da pasta, há uma preocupação interna com esse e outros públicos que ainda não atingiram 100% de cobertura vacinal. A estimativa é de que cerca de 120 mil pessoas estão sem se imunizar contra o novo coronavírus no DF.

É o caso do neto de Judite Rodrigues, 59 anos, Alecsandro Rodrigues, 12 anos. Eles moram no Riacho Fundo 2, e o menino ainda não se vacinou contra o novo coronavírus. “Ele não quer. Vive questionando: ‘O presidente não tomou, por que eu tenho que tomar?’. Tento convencer, mas não tive sucesso até hoje”, conta a servidora pública. A avó afirma que, na família, há outras 13 pessoas que ainda não buscaram pela imunização. “A gente ouve tanta coisa, e acabam surgindo essas dúvidas”, comenta. Apesar disso, ela ainda não desistiu de levar o neto a um posto para iniciar a imunização contra a covid-19. “Quero, sim, que ele vacine, até porque as aulas presenciais voltaram, e pode ter casos de covid-19 por lá”, diz.

Durante coletiva realizada ontem, os gestores da Secretaria de Saúde manifestaram preocupação com a situação. “Vamos aproveitar o momento para pedir que a população procure os nossos postos, temos vacinas e precisamos aumentar e melhorar a cobertura vacinal”, disse o secretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero. “Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 120 mil pessoas ainda não se vacinaram (no DF). É uma estimativa”, completa. A fim de buscar soluções, a pasta pretende instalar pontos de atendimento em locais com maior fluxo de pessoas, como feiras e shoppings. Apesar da intenção, ainda não há um planejamento definido para essa ação.

Rapidez

Além da Secretaria de Saúde, algumas escolas buscam incentivar a vacinação. A diretora da Escola Parque Anísio Teixeira, de Ceilândia, Neide de Sousa, afirma que há ações nas redes sociais e no pátio da escola. “Divulgamos as datas e os locais de aplicação das vacinas. Queremos que todos se vacinem o mais rápido possível, para termos condições de fazer um retorno 100% presencial e com segurança para todos”, diz.

Luisa (nome fictício), 44, é mãe de uma menina de 12 anos. Porém, ainda não definiu se vai ou não levar a filha para se vacinar. “Eu e meu marido temos muitas dúvidas, e ainda não sentamos para discutir o que seria melhor para nossa filha”, diz. Ela explica que a menina deve participar da decisão. “Nós vamos estudar e colocar os prós e os contras, quais seriam os impactos para ela”, completa.

Apesar de ainda não ter definido sobre a imunização da filha, Luisa diz que está vacinada. “Tive reações bem leves, inclusive”, conta. Ela foi vacinada com a CoronaVac, e não com a Pfizer/BioNTech, que é a única autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a ser aplicada em adolescentes.

Dúvidas

Regina Josino, 50, é servidora pública, e não perdeu a chance de levar a filha de 15 anos, Isabela Josino, para se vacinar contra a covid-19. “Além de mim, ela queria muito se vacinar. Foi um momento bem legal, ela estava ansiosa por isso”, comenta. Apesar disso, Regina diz que ainda não se sente relaxada. “Só vou mandar ela para aulas presenciais depois da segunda dose, e quando mais colegas estiverem imunizados também”, diz. Para ela, a pandemia exige atenção e cuidados. “Esse vírus é coisa séria, não se pode descuidar”, completa.

A taxa de transmissão da covid-19 — que mede a reprodução da pandemia — chegou, ontem, ao maior valor em 13 dias: 1,07. Foi o quarto aumento diário consecutivo. O resultado mostra que cada 100 infectados com a doença podem transmiti-la para outros 107. Índices acima de 1 demonstram que a pandemia está fora de controle. A taxa ficou menor que o numeral por uma semana no DF e voltou a ficar acima de 1 há três dias.

A média móvel de mortes chegou a 17,4 ontem — aumento de 48,8% na comparação com 16 de setembro. A mediana de infecções alcançou 875,6, alta de 26,4% em relação às duas últimas semanas. Foi o sétimo crescimento seguido do resultado. Entre quarta-feira e ontem, a Secretaria de Saúde confirmou mais 950 diagnósticos e 10 óbitos em decorrência da covid-19. Desde o início da pandemia, a capital federal acumula 10.464 mortes e 495.249 casos, dos quais 474.564 (95,8%) são considerados recuperados. Dos falecimentos notificados, quatro ocorreram ontem e três são de quarta-feira. O restante data de abril, maio e junho.

*Colaborou Ana Isabel Mansur

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Nova fase da terceira dose

 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

A aplicação da dose de reforço das vacinas, conhecida como terceira dose, também é foco de atenção da Secretaria de Saúde do DF. Segundo o secretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, a procura está baixa, tanto para idosos quanto para imunossuprimidos. Segundo o gestor, das quase 12 mil vagas disponibilizadas, para o grupo com doenças imunossupressoras graves agendar o atendimento, 8 mil foram preenchidas e 3.178 pessoas chegaram a se vacinar. Entre os maiores de 80 anos, o número de vacinados é de 6.180.

A fim de tentar incentivar a vacinação, o GDF abre às 14h de hoje mais 6 mil vagas para os imunossuprimidos agendarem o atendimento. As regras são: é necessário ter mais de 18 anos, ter o laudo da doença e ter recebido a segunda dose há, pelo menos, 28 dias. As vagas estarão disponíveis no site vacina.saúde.df.gov.br. Em relação aos idosos, a pasta ampliou a campanha da dose de reforço para os idosos de 70 anos ou mais. Porém, atenção: é preciso ter recebido a segunda dose há seis meses.

Prazo

Considerando que a vacinação para 70 anos começou em 22 de março e o menor intervalo (que seria da CoronaVac) é de 28 dias, a segunda dose foi em 19 de abril, não completando seis meses até outubro. Procurada, a secretaria informou que, antes de a campanha alcançar a faixa dos 70 anos, a pasta vacinou pessoas nesta idade em outros grupos: idosos em instituições de longa permanência, como o Lar dos Velhinhos, e profissionais de saúde aposentados, por exemplo. “Portanto, cumprindo o prazo de seis meses após a aplicação da D2, estas pessoas poderão se vacinar a partir de hoje. Para aqueles que ainda não completaram os seis meses, a orientação é que aguarde o devido período”, disse por meio de nota.

Ontem, o DF vacinou 4.265 pessoas com a primeira dose e 11.302 com a segunda. Com o reforço foram atendidas 1.319 pessoas. No total, a capital federal tem 2.202.562 (72,15%) da população total de 3 milhões vacinada com uma dose e 1.252.795 (41,04%) com o ciclo vacinal completo. Cerca de 10,6 mil pessoas já receberam doses de reforço.

Importância da vacinação

Já passou da hora de desmistificar a vacinação de adolescentes. Sempre vacinamos as crianças e adolescentes no Brasil. Mas nunca se ouviu tanto sobre eventos adversos, marcas de vacinas ou pessoas com medo de se vacinar por questões muito simplórias. É um medo que foi plantado de forma irreal e que gera uma desinformação. É um desserviço para a população.

Não faz sentido falar em medo de vacinação. Os dados mostram que as vacinas são eficazes e seguras. Os eventos adversos são muito semelhantes aos das outras vacinas que damos às crianças desde que elas nascem. Além disso, contra a covid-19, as vacinas reduzem a mortalidade da população em geral e reduz os casos graves. Quanto mais pessoas vacinadas, menos teremos circulação viral. Então, não existe motivo para não vacinar os adolescentes. A vacina é boa, salva vidas e é necessária.

Ana Helena Germoglio, infectologista

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