ESTÍMULO

Uma sinfonia cheia de amor: projeto do DF promove musicoterapia para autistas

Projeto utiliza musicoterapia para auxiliar no desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Iniciativa gravou um vídeo com as crianças participantes e apresentou o resultado no último domingo (22/11)

Edis Henrique Peres
postado em 23/11/2021 06:00
Cristiane e o filho, Kauan, no videoclipe recém-lançado -  (crédito: Adauto Menezes/Divulgação)
Cristiane e o filho, Kauan, no videoclipe recém-lançado - (crédito: Adauto Menezes/Divulgação)

Os olhos, às vezes, evitam o contato direto, o corpo recua diante de determinadas texturas e alguns gestos (estereotipias) são repetidos para regular o excesso de estímulos diários. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizado como uma neurodivergência no desenvolvimento do cérebro, se apresenta como um universo à parte em cada pessoa diagnosticada. Com o objetivo de mostrar um pouco desse mundo azul, o Projeto Uma Sinfonia Diferente apresentou, no último domingo (22/11), o videoclipe da música From now on, protagonizado por crianças com TEA.

Atualmente, Uma Sinfonia Diferente atende 27 autistas, mas o objetivo é que com o avanço da vacinação volte a receber os mais de 80 alunos que atendia antes da pandemia do novo coronavírus. A responsável pelo projeto é a musicoterapeuta de 31 anos, Ana Carolina Steinkopf. “Conclui a minha formação em musicoterapia em 2013 e vim de Goiânia para Brasília. Meu primeiro paciente foi uma criança com autismo, desde então, eu busquei entender mais sobre o transtorno. Em 2015, como sabia que os autistas possuem dificuldade na socialização, tive a ideia de trazer um projeto com terapia em grupo”, explica.

Ana Carolina destaca que o autista não precisa ser necessariamente verbal para participar de Uma Sinfonia Diferente. “Atendemos crianças de 3 a 15 anos. Com a musicoterapia buscamos utilizar os elementos do som para o desenvolvimento clínico dos autistas. O que acontece é que o cérebro deles precisam de estímulos diferenciados, então, trabalhamos questões comportamentais, percepções de ambientes, desenvolvimento motor, expressão e cognição”, detalha.

Ana Carolina prevê abertura de inscrições do projeto para 2022 nesta semana. Além do foco no tratamento das crianças, Uma Sinfonia Diferente desenvolve um papel social, ao oferecer para as famílias em situação de vulnerabilidade social bolsas de descontos. “Avaliamos cada caso para dar os descontos. Temos, hoje, o programa ‘adote um artista’, assim, todo mês alguém pode fazer a doação respectiva da mensalidade de determinado aluno”, destaca. A musicoterapeuta conta que pretende expandir o projeto e atender cada vez mais pessoas e se anima ao contar sobre os casos de autistas que, após alguns meses no projeto, apresentam resultados na comunicação, na relação com outras crianças e com a família.

Cristiane Gonçalves, 27 anos, moradora de São Sebastião e dona de casa, é uma das mães que se orgulham da participação do filho na Sinfonia. Kauan, 6 anos, foi diagnosticado com TEA aos 2 anos. “Ele se desenvolveu bastante depois que entrou no projeto, principalmente porque sempre gostou de música. Antes ele não falava nada. Quando fizemos a gravação do videoclipe ficamos com medo porque eles iriam para um estúdio, um ambiente totalmente novo. Mas nenhum deles teve crise, foi tudo maravilhoso”, garante. Cristiane explica que “no caso do Kauan, a música vem sendo um estímulo muito importante, pois envolve interação e contato visual”. “Além disso, o projeto tem esse lado de mostrar que eles são capazes. De revelar um outro mundo do autismo, muitas vezes ignorado”, opina.

Experiência

O objetivo principal do Projeto foi permitir que cada criança participasse da música, fosse no som da risada, ou, no caso do Davi, de 11 anos, que é um autista não verbal, com o som de estalos de língua no começo da gravação. A mãe dele, Luísa Rocha da Silva, 42 anos, moradora do Riacho Fundo 2 e dona do Lar, destaca que a oportunidade de ter bolsas de participação do projeto é essencial para o desenvolvimento do filho. “É muito difícil conseguir outros atendimentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo. Por isso, a oportunidade que o projeto dá é fundamental. Além disso, tem todo o encanto da sinfonia, pois cada um participa do seu jeito. A Carol (Ana Carolina) dá muita liberdade para a gente. O Davi não é verbal, mas ele sempre participou das apresentações, dos eventos. Ele sempre está inserido. Todo o contexto já envolve superação, da criança aceitar estar naquele ambiente diferente, por exemplo, o que já é uma vitória”, destaca. 

Neuropsicóloga infanto-juvenil, Larissa Lemgruber destaca o desafio do diagnóstico do TEA. “O diagnóstico de autismo não é fácil, porque é um espectro muito grande e dentro de cada nível temos uma amplitude de características. No autismo leve, por exemplo, o indivíduo apresenta menos características facilmente detectáveis e tem boa funcionalidade social. Cada autista tem características muito particulares”, destaca.

César Martins de Castro, 58 anos, empresário e morador do Lago Norte, enfrentou o desafio de obter o diagnóstico para a filha Sofia, hoje com 16 anos. “Estivemos em muitos médicos de várias especialidades, sabíamos que tinha algo diferente, só não sabíamos o que era. Mas só conseguimos o diagnóstico quando ela tinha 7 anos, com um especialista do Rio de Janeiro”, conta. Desde 2019 no Projeto Uma Sinfonia, Sofia descobriu a paixão pela música. “A iniciativa é uma oportunidade dos autistas fazerem algo prazeroso e fora da rotina, é algo muito importante. Principalmente porque alguns têm na música uma forma de comunicação. Hoje, a Sofia sofre menos com a ansiedade e descobrimos que ela não tem problema com público e gosta de instrumentos musicais. Ela tem descoberto, cada vez mais, um afinamento com a música”, finaliza.

 

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  • Uma Sinfonia Diferente. Davi, de 11 anos, autista não verbal que participou do videoclipe.
    Uma Sinfonia Diferente. Davi, de 11 anos, autista não verbal que participou do videoclipe. Foto: Adauto Menezes/Divulgação
  • Uma Sinfonia Diferente. Projeto. Iniciativa gravou videoclipe com autistas.
    Uma Sinfonia Diferente. Projeto. Iniciativa gravou videoclipe com autistas. Foto: Adauto Menezes/Divulgação
  • Uma Sinfonia Diferente. Sofia, 16 anos, autista que participou do videoclipe. Autismo. Tea.
    Uma Sinfonia Diferente. Sofia, 16 anos, autista que participou do videoclipe. Autismo. Tea. Foto: Adauto Menezes/Divulgação

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