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Especialistas acreditam que, no DF, uso de máscara não tem data para acabar

Com flexibilização do uso em alguns países, epidemiologista e infectologistas comentam se, no atual cenário de covid-19 no Distrito Federal, brasilienses têm um prazo no horizonte para o fim da obrigatoriedade da proteção

Ana Luisa Araujo
postado em 23/02/2022 06:00
Para as amigas Mariana e Catarina proteção continua -  (crédito: Arquivo pessoal)
Para as amigas Mariana e Catarina proteção continua - (crédito: Arquivo pessoal)

O uso das máscaras de proteção se tornou um forte aliado para conter os índices de contágio por covid-19. Entretanto, a redução no número de doentes em alguns países trouxe a desobrigação da cobrança do equipamento e, entrementes, brasileiros e brasilienses se perguntam quando será possível circular sem a necessidade de cobrir parte do rosto. Segundo o epidemiologista Jonas Brant, que também é coordenador da Sala de Situação de Saúde da Universidade de Brasília e professor da Faculdade de Saúde — a capital federal ainda está distante dessa realidade. Com altas taxas de confirmação diária, o especialista não arrisca uma estimativa para que as máscaras deixem de ser uma obrigação. 

Após um pico de casos causados pela variante Ômicron, a Alemanha, por exemplo, anunciou que adotará a suspensão gradual da obrigatoriedade. Outro caso que tem trazido boas perspectivas é Cabo Verde, objeto de estudo de Jonas. O especialista afirma que, com os números de casos confirmados abaixo de 10% de amostras positivas por semana, há uma chance da redução das exigências e do nível de biossegurança.

Para ele, Brasília está longe de alcançar esse patamar. "Não existe fórmula mágica. É preciso ter uma redução sustentada de transmissão viral", avisa. Atualmente, o DF está 0,83% de transmissão e com a ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) oscilando acima dos 90%. "Quando se alcança um patamar crítico de unidades de terapia intensiva é um sinal de alerta e de que é preciso restringir ainda mais as atividades", afirma.

A variabilidade do vírus é outro fator que pesa contra a retomada da vida sem máscaras. "Toda semana estão sendo feitas novas descobertas sobre o vírus e sobre como controlá-lo. Porém é sabido que a máscara é um dos equipamentos que nos auxiliam a tentar diminuir a transmissão desse vírus, ou diminuir o impacto dele sobre a nossa sociedade", sentencia Brant.

Efetividade

Estudos apontam que, em comparação a um indivíduo que não utiliza o equipamento, há uma redução de 80% nas chances de infecção por covid-19 para quem usa a máscara N95. Segundo ele, as máscaras cirúrgicas permitem uma boa proteção, no entanto não chegam ao nível de segurança de uma N95.

Jonas Brant explica que, no atual momento, além do uso das máscaras continuar sendo essencial, é melhor prezar pelas mais seguras. Apesar de as de pano e as descartáveis serem uma opção, em casos de contaminação, a N95 retém o vírus na máscara e dá mais segurança para quem teve contato com o infectado. Quem não estiver doente e optar pelo equipamento, também tem mais proteção, uma vez que o ar aspirado é filtrado e os vírus ficam presos do lado de fora do material.

Ele explica, especificamente, sobre o espirro: "Quando eu espirro, essas grandes partículas acabam ficando retidas. A distância com que o ar que sai do meu sistema respiratório alcança a outra pessoa acaba diminuindo e isso também diminui a velocidade de transmissão".

A infectologista Ana Helena Germoglio corrobora que é preciso manter o esforço individual pelo bem coletivo e que ainda é necessário aprender a usar a máscara. "É preciso entender que quando estou com sintomas respiratórios, eu devo utilizar uma máscara, restringir meus movimentos e organizar um home office para que eu não transmita para as pessoas. Não se pode mais ir para o trabalho quando se pega uma gripe", alerta. Embora o ato possa parecer extremo, ela ressalta que uma "simples gripe" pode significar a vida de outra pessoa que, por algum motivo, responde de maneira diferente à infecção.

Além da barreira física das máscaras, o infectologista Julival Ribeiro reforça a importância da vacinação. Ele acredita que "somente o tempo dirá quando será possível abrir mão das máscaras". O importante, agora, segundo ele, é focar no ciclo vacinal completo e nos reforços necessários para conter a pandemia.

Incoerência

Ela está por todos os lados, nas mãos, no queixo, pendurada em uma das orelhas e até cumprindo sua real função, que é cobrir a boca e o nariz para evitar a disseminação de covid-19. Em dois anos de pandemia, muita gente ainda resiste em usar o equipamento de proteção, embora reconheça a sua importância. O Correio esteve na Rodoviária do Plano Piloto e ouviu a população sobre como as máscaras foram incorporadas ao dia a dia.

O ambulante Rodrigo Carvalho, 34 anos, é honesto. "Eu acho bem necessário, eu só não uso", afirma o homem que tomou duas doses da vacina Astrazeneca. Mesmo já tendo contraído a covid-19, ele afirma que o incômodo ao usar o equipamento é maior do que o cuidado. Para o ambulante, a vida sem máscaras só voltará quando houver uma vacina "mais potente".

As amigas Mariana Antunes, 18, e Catarina Beltrão, 21, têm posições diferentes sobre a importância do uso das máscaras. Catarina trabalha atendendo ao público e, ao contrário de Rodrigo, se acostumou com a proteção. Inclusive, fora do ambiente de trabalho. "Uso todos os dias, mas têm muitos clientes que abaixam a máscara ou usam somente na boca", reclama. Mariana vai na contramão da amiga e a utiliza só quando é obrigada.

Sobre quando acabará a obrigatoriedade, Mariana não acha que terá um momento exato, porque a pandemia "vai e volta". Catarina é ainda mais pessimista e afirma que a obrigação nunca vai chegar ao fim.

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  • Foto: Arquivo pessoal
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